segunda-feira, 12 de setembro de 2022

A lenda do Ti Manuel Capum

 A lenda do Ti Manuel Capum 

No ano de 1965, ainda a Escola Primária da aldeia de Ferreira estava bem afreguesada e, à hora da saída, partiam, quase sempre, em pequenos grupos em várias direções, uns para os lados de Capelins de Baixo, outros para os lados do Monte da Cruz, Pinheiro e Monte Novo e um grupo para norte, Capelins de Cima e Montes em volta. Entre a escola e as respetivas residências passavam-se muitas peripécias, desde agressões morais e físicas, até provocações a transeuntes que demonstrassem alguma diferença. Este caso que vamos contar passou-se com uma pessoa, que o grupo dos diabinhos achavam diferente. Todos os dias, durante alguns anos, o Ti Manuel (Coxo) que morava em Faleiros, passava a Ferreira, duas ou quatro vezes por dia, a caminho de Montejuntos e de regresso a Faleiros numa carroça com rodas de automóvel, puxada por uma burra e sempre num passo tão lento que nos irritava, decerto levava algumas horas a fazer este percurso, e o que teríamos nós a ver com isso? Mas tivemos, a carroça era diferente de todas as que existiam na região, já era um motivo para implicar com o homem, depois ele mostrava sempre uma cara carrancuda, talvez para não dar confiança a gaiatos, mas tudo isso ainda aguçava mais a nossa vontade de lhe arranjarmos algum problema. Um dia, por coincidência, o Ti Manuel vai a caminho de casa em Faleiros à mesmo hora da nossa saída da escola, o grupo de Capelins de Cima apanha-o mesmo em cheio e fomos caminhando umas vezes à frente da carroça, outras vezes atrás, sempre em poses de provocação, quanto mais ele nos mostrava cara de pouco amigo, mais nós picávamos: "atão Ti homenzinho, o automóvel não anda mais que isto?" Ele não dizia nada, até que ao ver provocações a mais, começou a dizer: "Capum" (capo um), foi o azar do Ti Manuel e o nosso, a partir daquele momento ganhou o apelido de "Ti Capum", chegamos ao Monte Grande e acabou a festa, porque ele seguiu para Faleiros e nós pela rua de Capelins de Cima. No dia seguinte, à hora do recreio vem o Ti Manuel na direção de Montejuntos, assim que o vimos fomos a correr e a gritar em coro "Capum, Capum, Capum", o resto da rapaziada que não tinham assistido à festa do dia anterior não percebiam nada, mas gostaram e foram logo informados sobre o que se tinha passado e convocados para a próxima vez que ele ali passasse, tinhamos todos de gritar "Capum". No dia seguinte, à mesma hora, aparece o Ti Manuel com a sua carroça automóvel e os diabinhos fomos a correr formamos lado a lado e quando ele ia passando em frente à escola, começamos todos a gritar "Capum", ele não nos ligou, mas quem nos ligou foi a professora, já o Ti Manuel ia ao poço do chorão e nós ainda a gritar em força, como ele nos ignorava, mais nós gritavamos. Ainda estavamos a gritar a palavra de ordem e já estava uma colega a dizer-nos para ir-mos à professora, alguns ainda tentaram escapar, mas não, nenhum escapou de levar uma dúzia de reguadas e, a palavra "Capum" foi proibida de pronunciar pelos alunos da escola de Ferreira! 

Mas foi uma bela festa, enquanto durou, que nos perdoe Ti Manuel, foram coisas de gaiatos! 



Escola de Instrução Primária de Ferreira 



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