segunda-feira, 12 de setembro de 2022

A lenda da Ti Maria Gomes e da mulher misteriosa no Vale de Enxofre

 A lenda da Ti Maria Gomes e da mulher misteriosa no Vale de Enxofre

Nos finais do mês de Maio de 1712, a Ti Maria Gomes, que morava em Capelins de Cima, como habitualmente, levantou-se de madrugada, carregou o cesto da roupa à cabeça e seguiu a caminho da Ribeira do Lucefécit, para o lavadouro nas Neves. Foi pela estrada das colmeadas, desceu pelo vale de Enxofre e quando chegou ao poço das Neves, estavam a surgir os primeiros raios de sol e vê na sua frente uma mulher misteriosa sentada numa pedra perto do poço, ficou ansiosa com algum receio e na dúvida se devia, ou não, dar uma volta mais larga para não passar por perto e sentiu as pernas fraquejar, porque era muito estranho àquela hora da manhã estar ali uma mulher sentada à espera de nada. Antes de tomar alguma iniciativa a mulher dirigiu-se à Ti Maria e com muita delicadeza e voz muito fraca, pediu-lhe se lhe podia dar alguma coisa para comer, porque havia já três dias que não comia nada. A Ti Maria não resistiu à maneira como a mulher lhe fez o pedido e parou-se imediatamente, descarregou o cesto da roupa e abriu a alcofa onde levava o parco almoço, um bocadinho de pão, uns torresmos, um bocadinho de toucinho e umas azeitonas. Deu tudo à mulher misteriosa e disse-lhe:- Deixe-me só uma dentadinha de pão com umas azeitonas, porque vou passar aqui o dia todo a lavar e o resto pode comer tudo! A mulher aceitou, mas pouco comeu, entregou o resto do almoço à Ti Maria e disse-lhe que chegava o que tinha comido, agradeceu muito e como reconhecimento deu-lhe uma cestinha que trazia com alguma coisa debaixo de palha, pediu-lhe para ficar com a cestinha e para não ver o que estava debaixo da palha antes de entrar em casa. Foi difícil fazer a Ti Maria aceitar a cestinha, mas depois de tanta insistência lá a aceitou e seguiu até à Ribeira e a mulher desapareceu na direção das Águas Frias. À medida que o dia ia passando mais crescia a curiosidade da Ti Maria em ver o que estava debaixo da palha na cestinha e várias vezes tentou ver, mas lembrava-se do que a mulher misteriosa lhe tinha dito e com receio de alguma má surpresa recuava e continuava a lavar. No fim da tarde, acabou a lavagem e preparou-se para voltar para Capelins de Cima, mas naquele momento já não conseguiu resistir, tirou a palha e por baixo vê apenas algumas pedras, ficou zangada por ter sido enganada e atirou-as à Ribeira, mas guardou a cestinha de verga e levou-a para casa. Quando chegou atirou-a para um canto e nessa noite não lhe ligou mais. No dia seguinte, estava a arrumar a roupa e lembrou-se da cestinha, olhou para o lado e viu dois pontos muito brilhantes no fundo da cestinha, deu um salto e ficou com ela na mão e retirou dois pedacinhos muito pequeninos de ouro que estavam presos na verga e lembrou-se que tinha deitado à ribeira todo o ouro. A Ti Maria, já não acabou de arrumar a roupa, foi novamente à Ribeira, ao lugar onde tinha atirado as pedras e procurou, procurou, tempo sem fim, mas não encontrou nada. As mulheres que estavam a lavar roupa ficaram assustadas com a atitude da Ti Maria, parecia que não estava boa da cabeça e várias vezes lhe perguntaram o que estava fazendo, mas ela não lhe deu resposta, horas depois convenceu-se que não encontrava nada e voltou para casa muito triste, mas não contou nada a ninguém e só passados muitos anos, contou às filhas o que se tinha acontecido naquele dia no Vale de Enxofre e, mostrou-lhe a prova de que falava verdade, os dois pedacinhos de ouro que ficaram presos na verga da cestinha e, disse-lhe que estavam pobres, devido à sua curiosidade! 
Já no tempo da Ti Maria, a curiosidade fazia destas coisas!

Fim 

Texto: Correia Manuel 

Ribeiro das Neves 


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