terça-feira, 13 de setembro de 2022

A lenda do forno da cal em Capelins

 A lenda do forno da cal em Capelins

Conta-se que, no início de 1700, no Monte do Forno da Cal, na herdade da Defesa de Bobadela, já existia um forno de cozer cal, propriedade de um lavrador muito rico que morava no Monte da Defesa. Este lavrador, tinha muitos trabalhadores, (nesse tempo designados de criados) e um deles, o Manoel, nascido no Monte, começou ainda em criança a ser "escamel", fazia mandados e trabalhos mais leves dentro de casa, ganhando grande afeição por parte do lavrador, da lavradora e dos filhos, frequentando a casa, quase sem limites até comia na cozinha da mesma comida deles. Esta situação, deu origem a muita inveja lá no Monte, por parte de outros criados e, principalmente de um, chamado José, que desejava ter o mesmo tratamento, assim, começou a odiar o Manoel e a fazer tudo o que podia para acabar com ele, mas nada produzia efeito e, como ele andava, quase sempre, em companhia do lavrador, pensou numa mentira que acabasse com os privilégios do Manoel e um dia disse ao lavrador que tinha ouvido uma conversa que metia o Manoel e a lavradora, dizia-se que tinham ouvido ao Manoel que tinha tudo o que queria dela e que se não tinha tido já tudo era porque ele não queria, mas que não estava longe disso e mais isto e mais aquilo, que conseguiu o que queria. O lavrador começou a andar de olho no Manoel e cada vez tinha mais certeza que a relação dele com a lavradora não era normal. Nessa época a honra de um homem era tudo, então decidiu mandar o Manoel para o outro mundo, foi ao forno da cal, que era dele e disse ao mestre que no dia seguinte ia mandar para lá um homem e quando ele chegasse, mandá-lo deitar lenha no forno e dar-lhe um empurrãozito de forma a ele escorregar lá para dentro, porque era uma questão de honra. O mestre ainda perguntou quem era o homem e o lavrador disse-lhe que não interessava o nome, e que de manhã mandava o homem e ele fazia logo o trabalho sem mais explicações. No dia seguinte, o lavrador disse ao Manoel que tinha de ir ao forno da cal ajudar o mestre, só naquele dia porque havia muita cal para cozer e era preciso ajuda. O Manoel ia já a caminho e encontrou a mulher do pastor que ia a levar-lhe o almoço (pequeno almoço), depois de falarem o Manoel prontificou-se a levá-lo porque o pastor andava perto do Monte do forno da cal e não valia a pena ela ir lá, mas quando chegou, o pastor estava mais afastado e o Manoel teve que ir ao seu encontro, ficaram pouco tempo a falar, mas demorou-se mais do que esperava. O lavrador contou ao José o que se ia passar e mandou-o ir averiguar se o mestre fazia o trabalho encomendado, este saiu um pouco depois do Manoel e dirigiu-se ao forno da cal, não o viu por ali, aproximou-se do mestre que estava deitando mais lenha no forno, a tentar perceber se o trabalho tinha sido feito e se estava livre do Manoel para sempre. O mestre ao virar-se encarou com ele e pensou que era o homem mandado pelo lavrador e como não estava nenhum criado por perto, aproveitou e atirou com ele para dentro do forno, nem gritou, desapareceu logo no seio das enormes chamas. Daí a poucos minutos, chegou o Manoel dizendo ao mestre que o lavrador o tinha mandado para o ajudar no forno da cal naquele dia e estava ao seu dispor, foi quando o mestre percebeu que tinha aniquilado o homem errado. Chamou o Manoel de quem gostava muito, atrás de umas azinheiras, contou-lhe o que se tinha passado e que era ele que o lavrador queria eliminar, disse-lhe que tinha de fugir, imediatamente, devia esconder-se no meio dos arbustos no rio Guadiana até à noitinha e depois partir para bem longe dali porque estavam os dois em risco de vida. O Manoel assim fez, à noite desceu o rio Guadiana e, ao fim de alguns dias, chegou às terras de Mértola onde se instalou, constituiu família e foi muito feliz o resto da sua vida. O mestre foi recompensado pelo suposto trabalho e continuou a cozer cal durante muitos anos e o maldoso do José ficou feito em cinza e ninguém se preocupou com o seu desaparecimento, porque a maldade bebe o veneno que produz. 

Fim 
Texto: Correia Manuel





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