domingo, 11 de setembro de 2022

A lenda do ajuda do pastor de Capelins

 A lenda do ajuda do pastor de Capelins

Antigamente nas terras de Capelins, as crianças não iam à escola e começavam a trabalhar pelos seis ou sete anos de idade como ajudas de pastores ou porqueiros e, alguns eram muito maltratados, sofrendo agressões físicas por tudo e por nada. Esta lenda conta a curta vida de um menino chamado António, filho de uma família extremamente pobre e que aos seis anos, descalço e com pouca roupa foi ajudar um pastor na herdade do Roncão. O António era tão pobre que nem tinha padrinhos, a sua madrinha de batismo foi Nossa Senhora do Rosário e só foi batizado porque o Pároco Manuel Ramalho Madeira (1760) obrigava todos os capelinenses a cumprir esse dever. O ajuda do pastor era tão pequenino e franzino que tinha muita dificuldade em acompanhar o rebanho e em qualquer lugar adormecia, sendo constantemente sovado pelo pastor. Um dia o pastor deixou-o junto à Ribeira do Lucefécit com o rebanho e foi à Villa de Ferreira, nas Neves, tratar de uns assuntos, quando voltou o António dormia profundamente debaixo de uma azinheira e nem deu pela aproximação do pastor, acordou levando murros e pontapés por onde o apanhava, não só por estar a dormir, mas também porque o rebanho tinha desaparecido. Após o agredir até se cansar mandou-o procurar o rebanho, que andava em Santa Luzia, o pequenino António com a ajuda dos cães trouxe o rebanho para o Roncão, mas como andava muito cansado e a dormir em pé, depressa adormeceu novamente e quando o pastor o encontrou deu-lhe uma surra muito grande e deixou-o inanimado em cima de um grande formigueiro e foi para a malhada. Muitas horas depois, como o António não aparecia, o pastor foi ao lugar onde o tinha deixado e ele estava caído e o seu corpo estava totalmente coberto por milhões de formigas. O pastor ficou muito aflito e correu a tirar as formigas, mas já era tarde, o António estava morto. O pastor pegou nele ao colo e foi entregá-lo aos pais, dizendo que o António tinha aparecido morto e não havia nada a fazer. No dia seguinte, o pequeno António foi sepultado na Igreja de Santo António. Ninguém soube que tinha sido o pastor que matou o pequeno António, e nem se importaram com isso, mas a sua madrinha não o esqueceu e, a partir daquele dia sempre que o pastor fechava os olhos para dormir, via Nossa Senhora do Rosário a fixá-lo e não conseguia dormir, passando a ser um martírio. Ao fim de alguns meses o pastor sem dormir acabou por endoidecer e começou a andar sem rumo pelos campos do Roncão, até que um dia apareceu afogado no pego da azinheira na Ribeira do Lucefécit e, nunca ninguém soube se foi suicídio ou se foi ajudado pela madrinha do António, e nem se importaram com isso. 

Fim 

Texto: Correia Manuel


Nossa Senhora do Rosário 


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