domingo, 11 de setembro de 2022

A lenda da donzela do Monte da Negra e o filho do fidalgo caçador

A lenda da donzela do Monte da Negra e o filho do fidalgo caçador 

As terras de Capelins, tinham fama de serem abundantes em caça, por isso, aqui apareciam muitos fidalgos do reino, onde passavam temporadas a caçar e em grandes divertimentos gastronómicos com o apoio dos lavradores da região. E foi assim que, numa dessas incursões pelas terras de Capelins a filha do lavrador do Monte da Negra se apaixonou e envolveu com um desses fidalgos. Ele prometeu-lhe que casava com ela e a levaria para o Paço Real e a donzela perdeu-se de amores por ele, entregando-se ao fidalgo convencida que ele falava verdade. Um dia o fidalgo voltou à Corte, não se despediu da donzela e nunca mais voltou às terras de Capelins, deixando-a grávida. Quando a criança nasceu, era um menino e, o lavrador do Monte da Negra falou com a esposa sobre o que deveriam fazer à criança, porque a filha não podia ficar com ela, senão ficava desgraçada para o resto da sua vida, pensaram em dar a criança, mas arrependeram-se, porque decerto se vinha saber, o lavrador propôs abandonar a criança, mas não podia ser nesta região, senão ainda podiam descobrir que era deles, então lembrou-se de o abandonar dentro de uma cesta no rio Guadiana, se eventualmente, o encontrassem seria longe de Capelins e ninguém os ligava a essa criança e até podia morrer afogado. Ambos concordaram que era a melhor maneira e de madrugada o lavrador pegou no menino dentro da cesta e foi até às azenhas Del-Rei, lançou a criança à água e voltou para o Monte da Negra e disseram à filha que a criança tinha morrido durante a noite e como ela ainda estava muito fraca, conseguiram convencê-la a não ir ao funeral e nem ver a criança para não ficar pior e ficou assim. A cesta com o menino lá dentro, não desceu o rio, foi contra a corrente e subiu a Ribeira do Lucefécit e ao nascer do sol, a mulher do Moleiro do Roncão, viu a cesta, estranhou uma coisa daqueles naquele lugar e foi a correr recolhê-la, ficou aterrada quando viu uma criança tão linda lá dentro, chamou o marido e não tiveram alternativa senão ficar com a criança. Como tinha sido mãe recentemente deu-lhe logo de mamar e pouco depois foi batizado na Igreja de Santo António como sendo seu filho, ao qual foi dado o nome de Manoel. A donzela do Monte da Negra, seguiu a sua vida e, um dia casou-se com um filho do lavrador do Monte da Arrabaça, mas não tiveram filhos, o marido faleceu muito cedo e ela não voltou a casar, ficando sozinha. O Manoel cresceu no Moinho do Roncão e acabou por ir trabalhar para a herdade da Negra, para a sua verdadeira mãe, porque a mãe adotiva também trabalhava no Monte da Negra, quando o moinho estava parado e era muito amiga da lavradora e de uma criada da casa a mais velha, que tinha sido aia da donzela no tempo em que tinha nascido a criança. Como a lavradora andava cada vez mais chorosa e a lamentar-se que estava sozinha, um dia a aia não se conseguiu calar e disse-lhe que talvez o filho fosse vivo e contou-lhe o que se tinha passado. A lavradora começou a chorar e a moleira do Roncão que ouviu a conversa, perguntou-lhe se visse as roupinhas que o filho tinha vestidas naquele dia, que lhe disseram que tinha falecido, se ainda as conhecia? A lavradora disse~lhe que cada dia que passava melhor se lembrava dessas roupinhas! Então a moleira, no dia seguinte trouxe a cesta e as roupinhas que o menino tinha vestidas no dia em que o encontrou, as quais tinha muito bem guardadas e mostrou-as à lavradora e, à antiga aia e contou-lhe a história do aparecimento do Manoel naquela manhã junto ao moinho do Roncão, tudo batia certo e a lavradora caiu desmaiada. Quando recuperou os sentidos, quis logo saber onde se encontrava o seu filho! E a moleira disse-lhe que era um dos seus criados e andava a lavrar ao fundo da herdade! A lavradora mandou imediatamente um dos criados buscá-lo e para deixar a lavoura. O Manoel chegou ao Monte da Negra sem saber nada do que se passava, a lavradora agarrou-se a ele aos gritos, chamando-lhe filho. Como ele sempre pensou ser filho da moleira do Roncão, pensou que a lavradora tinha endoidecido, mas logo a sua mãe adotiva e a criada mais velha o puseram ao corrente da sua história de vida e a partir daquele dia o Manoel passou a ser o lavrador do Monte da Negra! O lavrador Manoel Gomes. 

Fim 

Texto: Correia Manuel 
Fotografia: Correia Manuel


Negra 


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