quarta-feira, 14 de setembro de 2022

A lenda do Guardador de Perus de Capelins

 A lenda do Guardador de Perus de Capelins 

No início da década de 1960 ainda havia casas agrícolas nas terras de Capelins que criavam grandes quantidades de perus, guardados por um homem ou um rapaz que os levava a pastar diariamente nas respetivas herdades. Esta situação passou-se nessa época num Monte e herdade muito próxima da Aldeia de Ferreira, na qual existia um grande rebanho (bando) de perus que tinham de estar disponíveis para vender antes do Natal de cada ano, assim, logo que faziam as ceifas, ou antes, os perus eram levados para os restolhos, ou seja, lugares onde tinham ceifado os cereais e ficavam muitas espigas no chão que eles descascavam e comiam o cereal, à noite recolhiam ao Monte e eram encerrados numa casa onde tinham armações feitas com paus, levantados do chão, tipo bancadas, chamados poleiros, onde dormiam, procurando sempre os mais altos. Os perus do Monte em questão eram guardados por um rapaz chamado Joaquim, muito amigo de todos os rapazes da aldeia e, como andava sozinho dava-lhe jeito que alguns fossem ter com ele para falar e para fazer brincadeiras que não fossem espalhafatosas para não espantar os perus, senão começavam a voar e já ninguém tinha mão neles durante algumas horas, cada um voava para seu lado causando grande arrelia ao amigo Joaquim, por isso estavam todos bem avisados para não saltar nem gritar perto do bando, mas nem sempre corria bem. Um dia o amigo Manuel, que era/é da mesma idade do Joaquim, sempre companheiros na escola de Ferreira, como habitualmente, foi ter com o Joaquim, mas esqueceu-se das recomendações e, quando ia chegando mandou um assobio dobrado e os perus começaram a voar por cima das azinheiras, o Manuel pegou numa pedra sem intenção de a usar, mas naquele momento passou um peru a voar pela sua frente, não conseguiu dominar o impulso e atirou-lhe com a pedra, fazendo-o aterrar imediatamente, foram a correr e ficaram muito assustados, porque a ave não reagia e, constataram que a pedra o tinha atingido na cabeça provocando-lhe morte imediata, e agora? Primeiro tinham de dominar o rebanho, (bando), depois logo pensariam o que fazer, porque era uma grande perda que podia ter consequências para o Joaquim e, possivelmente para o Manuel, porque não bastava pagá-lo ao dono, mas como justificaria a pedrada no peru ou a presença do Manuel por ali! Levaram o resto da tarde a pensar num plano! Não dizer nada, não podia ser, porque periodicamente o caseiro e a esposa contavam os perus e depois, decerto davam pela falta dele e ainda era pior! Dizer que foi uma raposa! Não podia ser, porque os perus dormiam bem fechados, onde nunca podia entrar uma raposa ou um cão! Tiveram muitas ideias, mas nenhuma tinha pernas para andar! Aproximava-se o final do dia, já estavam desesperados e o Joaquim teve uma ideia, a que foi posta em prática, encerrou os perus à noitinha, fechou a casa e foi despedir-se dos caseiros, já idosos e dizer-lhe que estava tudo em ordem, eles já estavam acabando o Gaspacho e já não demoravam em se deitar, o Joaquim sabia disso, então apanhou um saco de serapilheira e foi a correr ao campo buscar o peru que tinha sido assassinado pelo Manuel, chegou ao Monte com muita cautela, abriu a porta da casa e colocou a ave debaixo dos poleiros, para dar a ideia que tinha morrido de morte natural durante a noite. Na manhã seguinte, quando abriu a porta aos perus, deu continuidade ao plano e foi dizer ao caseiro que estava um peru morto debaixo dos poleiros, o caseiro veio observar, mas por sorte ou devido à idade não viu que o peru tinha levado uma traulitada na cabeça e pediu ao Joaquim para o levar e atirar no ribeiro. O Joaquim assim fez e livrou-se de um grande sarilho, o peru foi desperdiçado, mas não havia outra alternativa! 

Assim se perdeu um peru! 

Fim 

Texto: Correia Manuel


Foto net


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