sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

A comemoração da Passagem de Ano nos tempos de outrora, em Capeelins

A comemoração da Passagem de Ano nos tempos de outrora, em Capeelins

Para quem segue o calendário Gregoriano, aprovado pelo Papa Gregório XIII, no ano de 1582, a comemoração da Passagem de Ano, acontece à meia noite de 31 de Dezembro para 1 de Janeiro, mas a passagem de ano nem sempre foi festejada nessa data, porque nos calendários seguidos, anteriormente, como o de Júlio César, não coincidia com o atual calendário Gregoriano, usado, atualmente em quase todo o mundo.
O início de um novo ano significa despertar, é uma nova fase que se inicia com a esperança renovada e muitas pessoas fazem um ritual com pedidos e promessas que se propõem cumprir ao longo do Novo Ano.
O dia 31 de Dezembro, é véspera do Ano Novo, sendo o último dia do ano velho, nessa noite, as famílias e amigos reúnem-se para a comemoração da passagem de ano e ao soarem as badaladas da meia noite, entra-se num novo ano, surge uma mistura de sentimentos nas pessoas, as quais, cantam, dançam, riem, choram e têm sempre esperança de um ano melhor que o anterior e a festa da passagem de ano dura até de madrugada, podendo entrar pelo dia seguinte.
Na Freguesia de Capelins, não encontramos registos sobre esta comemoração em tempos remotos, mas os nossos ancestrais contavam que, sempre houve Gente que fazia alguma comemoração, bebiam uns copos de vinho ou aguardente nas tabernas, jogavam ao xito e cantavam umas modas, mas não se ligava muito a isso, muita gente nem dava pela passagem do ano, porque, só pensavam em trabalhar, para ganhar o pão para pôr na mesa e dar de comer aos filhos.
Mais tarde, já na centúria de 1900, com o aumento da população e a mudança dos costumes, a passagem de ano começou a ser comemorada por mais pessoas, muitos/as capelinenses após deixarem o trabalho, faziam a ceia (jantar) normal, depois vestiam a roupa fina e dirigiam-se para os casões dos bailes, onde se juntavam as famílias e amigos e onde dançavam até às duas/três da manhã, mas à meia noite a Passagem do Ano não passava despercebida, havia uma manifestação de boas vindas ao Ano Novo, depois o baile continuava mais umas horas e quando acabava, alguns homens, as mulheres e crianças, recolhiam às suas casas, porque, embora no dia seguinte fosse feriado, quase toda a gente tinha de trabalhar, nem que fosse no que era de seu, mas contavam-nos que, noutros tempos, como residia muita gente junto aos Montes das herdades, por vezes, faziam aí bailes, abrilhantados por um tocador de harmónio, que durante o baile tocava sempre a mesma música, o arroz com couve, como no caso, do Monte do Aguilhão e outros.
Depois dos bailes, alguns homens e rapazes agrupavam-se, conforme a afinidade e empatia e faziam mesadas com bebidas e petiscos e já de madrugada, faziam um lume na rua em volta do qual, continuavam a falar, a cantar e a beber e, alguns iam a pé à Aldeia de Montejuntos procurar alguma taberna aberta, onde bebiam vinho, cerveja, aguardente ou licor, desejavam um Bom Ano aos amigos e voltavam, novamente a pé para a Aldeia de Ferreira, sempre com algumas peripécias para contar, ou passadas no caminho ou em Montejuntos, e alguns, davam continuidade à comemoração no dia de Ano Novo, pelas tabernas da Aldeia de Ferreira.
Havia homens, que nem iam aos bailes, passavam a noite nas tabernas a beber uns copos de vinho ou de aguardente, a cantar malaguenhas, monsarenhas e cantigas de outros estilos, individualmente ou em coro, outros, passavam a noite a jogar ao xito e quando davam por isso, já estavam no dia 1 de Janeiro, como era "noite buena", as tabernas se tivessem clientes, podiam não fechar e por vezes quando umas fechavam, já outras estavam abertas, possibilitando a continuação da comemoração do dia de Ano Novo.
Fim
Texto: Correia Manuel




quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

Contos de antigamente, em Capelins

 Contos de antigamente, em Capelins

A demanda do porco e do peixe
Este conto era contado pelos nossos ancestrais, desde há muitas gerações e pode diferir de região para região, até que, quem ouve um conto, acrescenta um ponto.
Era uma vez um peixe que nadava muito serenamente num pego do saudoso rio Guadiana, perto do Moinho da Cinza e chegou um porco a beber água e a tomar banho, porque estava muito calor, e começou a sujar a água ao peixe.
O peixe ficou furioso e disse para o porco:
- Não me sujes a água seu porco.
E o porco respondeu:
Porco: Estás enganado, tu é que és porco!
Peixe: Estás a chamar-me porco, quando o porco és tu!
E arranjaram uma grande discussão, chamando a atenção de outros animais que andavam por ali, sendo aconselhados pelo mocho que era advogado a resolverem o caso em Tribunal, e foi mesmo para Tribunal.
No Tribunal quando o Juiz perguntou ao peixe para contar o motivo da queixa ele contou que o porco não só lhe tinha sujado a água onde vivia, como ainda o tinha difamado chamando-lhe porco, a ele que estava sempre tão lavadinho nas águas do rio Guadiana.
O juiz tomou nota da queixa do peixe e a seguir perguntou ao porco qual era a sua queixa, e o porco respondeu que estava ofendido com o peixe, porque ele lhe tinha chamado porco, quando o porco era ele!
O Juiz não percebia, coçou a cabeça e pediu ao porco para explicar melhor a sua afirmação!
O porco depois explicou que tinha chamado porco ao peixe, porque era evidente para toda a gente que era porco, uma vez que as pessoas quando o estavam a comer estavam sempre a cuspir (as espinhas), enquanto que, quando comiam a carne dele, estavam sempre a lamber os dedos.
O Juiz ouviu com muita atenção, pensou um pouco, e deu a razão ao porco, e assim ganhou o porco.
Fim
Texto adaptado: Correia Manuel 
Rio Guadiana - Cinza 



quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

Resenha histórica de Capelins e de suas Gentes

 Resenha histórica de Capelins e de suas Gentes

Não desistimos de desvendar o passado, a história da Freguesia de Capelins, neste caso, fizemos uma simulação com base em dados conhecidos no ano de 1758, para sabermos, com alguma margem de erro, qual era a população da Freguesia de Capelins no ano de 1640, da seguinte forma:
Casamentos realizados em Santo António de (Capelins):
Ano de 1757: 3
Ano de 1758: 2
Ano de 1759: 4
Média dos 3 anos: 9/3, logo 3 casamentos.
População residente em 1758: 337 pessoas, sendo 280 adultos e 57 menores, ou seja, cerca de 17 % de menores.
Assim, usando a mesma fórmula para 1640:
Casamentos:
Ano de 1639: 6
Ano de 1640: 12
Ano de 1641: 03
Média dos 3 anos: 21/3, logo 7 casamentos
População em 1758: 337/3 e X/7 logo X = 786
Assim, a população residente na Freguesia de Capelins no ano de 1640 seria de 786 pessoas, sendo 653 adultos e 133 menores.
Podemos verificar que, no ano de 1640 a população residente na Freguesia de Capelins, era muito superior ao ano de 1758, tudo indica que devido à guerra da Restauração a Freguesia de Capelins ficou despovoada e as pessoas que aqui residiam em 1640 e fugiram, pelo menos a maioria, senão todos, nunca mais voltaram.
Em 1668 foi assinada a paz, mas os problemas na RAIA continuaram por muitos anos.
Nos finais de 1600 início de 1700 vieram novos povoadores, mas, somente na centúria de 1800 a população voltou aos níveis de 1640.
Em 1640, na Freguesia de Capelins, apenas existiam as Aldeias de Faleiros e de Navais, e o Lugar de Ferreira, sede da Vila de Ferreira, junto à atual Neves, mas a maioria da população residia junto à "fábrica"o mesmo é dizer, nas herdades onde todos trabalhavam.
Fim
Ermida de Nossa Senhora das Neves, construída nos finais da centúria de 1600, no lugar da Igreja Matriz de Santa Maria de Ferreira, construída pela família Ribas de Vizela após 1262, já existente em 1320 e passou para o padroado Real por D. Afonso IV, conforme documento ao nosso dispor.



terça-feira, 27 de dezembro de 2022

Casamentos em Capelins, costumes e tradições

Casamentos em Capelins, costumes e tradições

A celebração dos casamentos foi iniciada na Antiga Roma, antes disso, os casais uniam-se sem grandes formalidades, mas nessa época, era uma espécie de negócio entre famílias, as noivas eram prometidas pelos seus familiares e, desde muito cedo, já sabiam com quem se casariam, só mais tarde, em 1215, a Igreja Católica decidiu que o casamento tinha de ter o consentimento mútuo do casal, passando este a ser exigido, por isso, o padre pergunta: - É de livre e espontânea vontade que recebe fulano/a como esposo/a? No entanto, o casamento por amor já existia, mas acontecia nas classes sociais mais baixas.
O ritual da cerimónia do casamento não mudou quase nada até aos tempos atuais, mas a partir do Concílio de Trento, 1545-1563, os casamentos pela religião católica tornaram-se obrigatórios e, começaram a ser Registados em Livros Paroquiais e, se algum casal não casava, depois os filhos não eram batizados, ou seja, registados, ou em alguns casos os padres faziam o seu batismo, mas como filhos ilegítimos.
Os Registos de casamentos realizados na Paróquia de Santo António de Capelins, tiveram início no ano de 1633, mas desde 1588, que os casamentos dos casais residentes na Vila de Ferreira, atual Freguesia de Capelins, eram registados na Paróquia de São Pedro de Terena, onde era a sede do respetivo Termo (Concelho).
Antes da realização de um casamento, os casais, neste caso, em Capelins, geralmente, passavam pelas seguintes fases:
- Começava pela empatia entre um rapaz e uma rapariga que, se avistavam numa Festa, num baile, nos trabalhos rurais, numa rua, num Monte, vizinhos, e mais tarde na escola, ou podia ser um arranjinho, ou seja, por intermédio de familiares ou amigos/as.
- Depois dos primeiros contactos, o rapaz pedia namoro à rapariga, podendo sair-lhe ao caminho, quando ela ia ao poço buscar água para casa, no caminho para a mercearia, para a casa dos avós, para o trabalho, ou para outro lugar onde ela se deslocasse sem a companhia da mãe, ou mesmo, numa Festa ou num baile, bastava perguntar-lhe, se queria namorar com ele.
- No caso da rapariga dizer que sim, a seguir, o rapaz tinha de ir pedir ao pai dela, se podia namorar com ela.
- O pai da rapariga era, antes, informado por ela ou pela mãe sobre as intenções do rapaz e, se concordasse com o namoro dizia, onde e a que horas o recebia e acertavam, os dias, horas e lugar onde podiam namorar, ou a uma janela, à porta, ou em casa, e a partir daí o namoro era oficial, o qual, devia durar pelo menos um ano, antes do noivado.
- Seguia-se o noivado, que obrigava o pai do noivo a ir pedir a noiva ao pai dela, para casar com o seu filho e, se estivessem de acordo, marcavam a data do casamento e a partir desse dia, a rapariga ficava noiva e o rapaz noivo.
- Cerca de três ou quatro meses antes da data planeada, tinham de falar com o padre da Freguesia ou da Igreja onde queriam casar, para se fixar a data oficial do casamento e tratar dos papéis de estilo corrente.
- Depois do casamento tratado com o Padre, faziam os convites aos respetivos padrinhos, sendo costume, convidar os mesmos padrinhos do batismo.
- Após o convite dos padrinhos, cada lado dos noivos fazia o convite aos seus familiares e aos amigos/as.
- Feitos os convites, já sabiam o número de convidados, então davam início aos preparativos para a festa do casamento, ou seja, para a boda, do lugar onde ia decorrer, as comidas, bebidas, bolos, vestido da noiva, fato do noivo e tudo o que fosse necessário.
- Os noivos, com a ajuda dos pais, tinham de encontrar a casa para depois de casados, comprar mobílias e tudo que ainda não tivessem no enxoval, o qual, geralmente ia sendo feito ao longo dos anos.
- No dia do casamento, tinha de estar tudo bem organizado para não haver confusões e seriam cumpridos os costumes e tradições e na hora marcada os noivos e convidados tinham de estar na Igreja de Santo António.
- Depois do casamento realizado pelo padre, seguia-se a Festa do casamento ou boda, começavam pelo copo de água, que consistia em comidas ligeiras, aperitivos e bebidas, mas ainda cedo, começava o jantar que entrava pela noite dentro e, geralmente continuava com o almoço no dia seguinte.
Esta parte refere-se aos casamentos realizados nas últimas centúrias e, nem todos passavam por estas fases, conforme contavam os ancestrais, ainda havia muitos casamentos por conveniência, ajustados entre as famílias, sem o devido consentimento mútuo, assim como, outros casamentos sem amor, mas realizavam-se porque fazia falta uma mulher a um homem, para procriar e para tratar dele e da família, sendo ela sua serviçal durante toda a vida, e a mulher sujeitava-se a isso, devido à situação económica, à sua pobreza.
De entre os costumes e tradições dos casamentos em Capelins, alguns vieram da época dos romanos que, aqui residiram, em Faleiros, Terraço, Escrivão, Castelinhos, Roncão, vale do Guadiana e outros lugares, destacamos os seguintes:
- O véu da noiva, era uma referência à deusa Vesta, da honestidade, que na mitologia greco-romana era a protetora do lar, assim, era um costume que já vinha da antiga Grécia, para o qual, existiam outras explicações, diziam que era do tempo em que o noivo atirava um lençol para cima da mulher que escolhia para noiva para assim a raptar e depois casar.
Outra explicação era a de que durante os tempos em que os casamentos eram arranjados, a face da noiva era coberta até o noivo estar comprometido com ela na cerimónia, para que fosse tarde demais para ele se recusar a casar se não gostasse do seu aspeto físico.
Os romanos, por sua vez, acreditavam que alguns espíritos demoníacos e invejosos tentariam lançar-lhes feitiços durante o dia do casamento, assim, as faces das noivas eram então cobertas com véus para as guardar contra os demónios e outros espíritos malignos.
- O vestido da Noiva, o primeiro vestido branco foi adotado em Inglaterra pela Rainha Vitória quando se casou com o seu primo, o príncipe Alberto, no dia 10 de Fevereiro de ano de 1840.
Antes disso, especialmente na Idade Média, não havia cor específica para a cerimónia, a cor mais usada era o vermelho, mas o branco acabou por ser o preferido, por simbolizar a castidade e a pureza.
- O ramo de noiva, os primeiros ramos de noiva terão surgido na Grécia e incluíam não apenas flores, mas também ervas e temperos, os mais populares, geralmente com cheiro mais forte, como os alhos, eram usados para espantar os maus espíritos.
Cada flor tinha o seu significado, a hera representava fidelidade, o lírio a pureza, as rosas vermelhas o amor, as violetas a modéstia, as flores de laranjeira concediam fertilidade e alegria ao casal.
- O noivo não podia ver a noiva, antes do casamento, era uma tradição milenar praticada por quase todos os povos, desde tempos remotos.
A cerimónia do casamento foi considerada uma linha definitiva entre o antes e o depois, por isso, a noiva não seria considerada pura e nova se o seu noivo a visse antes do tempo.
- A Aliança, significava compromisso, pacto, união e o seu uso era tradição cristã do século XI, e era colocada no terceiro dedo da mão esquerda, porque, acreditava-se, que nele existia uma veia que ia para o coração.
O termo aliança, vem do hebraico e significa compromisso, representa fidelidade e a unidade perfeita, sem começo e sem fim.
- Atirar coisas doces, esta prática tem a sua origem, também, num ritual grego, era um ritual de fertilidade, que consistia em lançar sobre o casal qualquer tipo de coisas doces, pois acreditavam que isto poderia, inclusive, trazer - lhes prosperidade.
Em Capelins, existia esta tradição, mas as coisas doces, amendoas e rebuçados, eram atiradas à assistência, às pessoas que não eram convidadas, mas iam ver a chegada do casamento na volta da Igreja.
- O Bolo da noiva, ou bolo de casamento, teve a sua origem numa grande porção de pequenos bolos de trigo que eram quebrados na cabeça da noiva para lhe trazer boa sorte e fertilidade, no fim todos os convidados comiam uma migalha para garantir um futuro risonho.
Nos tempos medievais, eram os convidados que levavam pequenos bolos e empilhavam-nos no centro de uma mesa.
Mais tarde, na centúria de 1500, um pasteleiro francês teve a ideia de juntar todos os pequenos bolos num único grande bolo, depois, os jovens noivos faziam o primeiro corte no bolo em conjunto que simbolizava o início de uma vida conjunta.
- Os presentes, vêm da Idade Média sem grandes alterações ao longo dos tempos, os convidados, dependendo das suas posses e da sua afinidade, ofereciam o melhor presente aos noivos, para os ajudar na vida futura.
- Não havia casamentos nos Sábados, porque, era dia de oração e a maioria eram realizados entre a Segunda Feira e Sexta Feira, só os de gentes mais abastada eram realizados aos Domingos, embora, mais tarde, já na centúria de 1900, fosse diferente.
Na festa do casamento, geralmente havia comida farta, e bebidas para os convidados e, durava dois dias, mas em tempos de outrora, em Capelins, havia casamentos que, mesmo aos poucos convidados e aos padrinhos eram servidas apenas umas sopas de grãos à moda da região e, havia alguns a seco, porque as Famílias não tinham condições económicas para fazer sequer um almoço.
A partir do dia do casamento, os recém casados, recolhiam à sua nova casa, Choça ou choupana e seguiam a vida por sua conta.
Fim
Texto: Correia Manuel





terça-feira, 20 de dezembro de 2022

A comemoração do Natal na Freguesia de Capelins, nos tempos de outrora

A comemoração do Natal na Freguesia de Capelins, nos tempos de outrora

O Natal é a data em que os cristãos comemoram o nascimento de Jesus Cristo, mas durante muitos anos, após o seu nascimento, essa comemoração era feita em dias diferentes, porque não se sabia a data exata de seu nascimento, somente no século IV é que se estabeleceu a comemoração do Natal no dia 25 de Dezembro, pelo Papa Julio I.
Não existem documentos históricos que confirmem a data de nascimento de Jesus Cristo, mas uma das explicações para a escolha do dia 25 de Dezembro, foram as festas pagãs que se realizavam nessa data, desde a antiguidade e sabiam que, o nascimento coincida com os dias da sua realização.
Na Freguesia de Santo António, não encontramos referências documentadas sobre, como eram as comemorações do Natal nas centúrias remotas, mas foram passando lendas e contos de geração em geração e, conforme contavam os nossos ancestrais, sempre existiram comemorações natalícias, religiosas e pagãs, sendo estas ultimas comemoradas nas tabernas, onde os homens, nessa noite, bebiam uns copos de vinho ou aguardente e cantavam cantigas alusivas ao nascimento do Deus Menino e ao Natal.
Pensa-se que, desde a construção da Igreja Matriz de Ferreira (Neves) onde encontramos a colocação de um padre cerca de 1330, por D. Afonso IV, mas já existia antes de 1320, a Festa de Natal a nível religioso, decerto, passou a ser semelhante à das localidades vizinhas, devia ser construído um presépio na Igreja e, na noite de Natal representavam o auto de Natal, o qual, simbolizava o nascimento de Jesus, com cânticos natalícios, seguido da Missa do galo.
Mais tarde, cerca de 1572, essa comemoração passou para a Igreja de Santo António, incluindo a Missa do galo, onde foi durante muitos séculos, mas acabou por se perder e o presépio passou a ser construído pelos alunos e professoras nas Escolas, onde faziam a festa natalícia com a representação do auto de Natal e cânticos ao Deus Menino, entre outros, como este:
Ó meu Menino Jesus
Ó meu Menino tão belo
Onde foste a nascer
Ó rigor do caramelo.
A construção do presépio era das maiores alegrias dos alunos/as, as professoras arquitetavam a sua construção e diziam o dia para irem ao campo apanhar o melhor musgo que se podia encontrar, já antes descoberto por alguém que informava as professoras, sobre o sítio onde ele estava e, nesse dia, não havia aulas, porque a seguir, armava-se o presépio com pedras e tábuas cobertas pelo musgo, delineavam-se montanhas, rios e planícies, tudo muito fiel à natureza e desenhavam-se caminhos com farinha branca, por onde seguiam os três Reis Magos na direção da choupana, esta encimada pela Estrela de Belém que guiava os Reis Magos, até à manjedoura onde se encontrava o Menino Jesus, ladeado por Nossa Senhora, São José, e muito perto a vaca e o burro, com a missão de aquecer o Deus Menino, naquele noite fria de 24 de Dezembro.
No dia 24 de Dezembro, era dia de trabalho, as pessoas andavam, quase sempre, na colheita da azeitona, entrando, a maioria em suas casas pela noite dentro, tão cansados que, tinham pouca vontade de comemorar a noite de Natal, porque, apesar de ser feriado no dia seguinte, quase toda a gente tinha de ir trabalhar, mas a maioria, pela Família, faziam mais um esforço e participavam na dita comemoração.
Na noite de Natal, quem podia, fazia uma ceia melhorada, acompanhada de alguns acepipes, assim como, de alguma sobremesa, mas a maioria das famílias fazia a ceia normal, porque, ou não tinham para mais, ou não davam importância a essa comemoração.
Depois da ceia, vestiam a melhor roupa que tinham, e dirigiam-se para os casões dos bailes que, rapidamente se enchiam, as mulheres e raparigas sentavam-se em cadeiras que levavam de casa, numa parte do casão, separadas dos homens, que ficavam em pé na sua frente e quando o acordionista começava a tocar estava o baile armado, pela noite dentro.
O baile de Natal era alumiado por três candeeiros petromax, a petróleo, que estavam pendurados no teto do casão com uma distância de poucos metros entre eles, o baile começava cerca das vinte e duas horas e podia terminar às duas ou três da manhã, o acordionista não tinha hora limite para parar de tocar, tinha de continuar até se dar a debandada final, apenas descansava quando o dono do casão subia para um banco a leiloar rifas para uma garrafa de bebida ou para um frango assado.
A noite de Natal, entre outras, era chamada "noite buena", ou seja, as tabernas não fechavam a noite toda, mas depois do baile acabar, muita gente recolhia a casa, dormiam umas horas e de manhã iam trabalhar, mas muitos homens e rapazes ficavam a jogar ao xito, a beber vinho ou cerveja e a cantar, entre outras cantigas a seguinte, meia espanholada:
Toca la zabumba
E dáli dáli dáli
Toca la zabumba
Que é noite de Natali.
E depressa chegava o nascer do sol de 25 de Dezembro, pelo que, alguns ainda iam a correr para o trabalho, sem dormir, outros, continuavam a comemoração do Natal pelo dia todo.
Parece que, os capelinenses nessa época, não passavam a noite de Natal com a Família, mas não é verdade, porque, nos casões de bailes juntava-se a Família, avós, pais, filhos, cunhados, netos, sobrinhos, primos e parentes, uma vez que, a população de Capelins eram todos Família e, assim, estavam juntos, a falar, beber, cantar, dançar, a divertirem-se.
Quem tinha de ficar em casa, nessa noite, escolhia um madeiro mais robusto para arder no lume, em oferenda ao Menino Jesus, designado o madeiro do Menino, passando essa tradição para a rua, onde nos últimos anos começaram a surgir grandes lumes no centro das Aldeias de Ferreira e de Montejuntos.
Nos tempos de outrora, o Menino Jesus não deixava nada nos sapatinhos das crianças de Capelins, salvo raras exceções, nem a maioria tinham sapatinhos, já era muito bom haver comida para pôr na mesa, só mais tarde, algumas crianças começaram a ter sapatinhos, nos quais, na manhã do dia 25 de Dezembro estavam uns rebuçados de frutas ou alguns bombons e pouco mais, deixados pelo Menino Jesus, somente a partir dos finais do decénio de 1960, ou nos anos de 1970, começaram a surgir as ceias de Natal mais recheadas e as prendas, mesmo assim, não eram para todos/as.
Na Aldeia de Montejuntos, desta Freguesia, o baile de Natal, realizava-se na noite de 25 de Dezembro, sendo, a restante comemoração, muito semelhante à da Aldeia de Ferreira e de Faleiros, e todos eram felizes.
Fim
Texto: Correia Manuel
Fotografia: Correia Manuel
Lugar do nascimento de Jesus
Belém - Palestina 



domingo, 18 de dezembro de 2022

O mistério dos costumes dos judeus "marranos", em Capelins

O mistério dos costumes dos judeus "marranos", em Capelins

Desde o fim do Império romano que, uma comunidade pequena de judeus se instalou no território que veio a ser Portugal.
Com o passar do tempo, as comunidades judaicas em Portugal continuaram a crescer, também, devido à quase ausência de ideais anti judaicos no país, ao crescimento dos movimentos judeus em Espanha, e depois à sua expulsão dos reinos de Castela e Aragão, e à abertura de novas rotas marítimas e comerciais descobertas pelos portugueses.
No ano de 1492 entraram no reino de Portugal dezenas de milhar de Judeus expulsos dos referidos reinos vizinhos, designados sefarditas, os quais, podiam solucionar o défice de povoamento das terras da raia, mas o casamento do rei D. Manuel I, com Dª Maria de Aragão, tinha uma clausula que o obrigou a pedir ao Papa a instalação da Inquisição em Portugal, embora, só fosse autorizada ao seu sucessor D. João III. os judeus, pelo Édito de Expulsão de D. Manuel I, em 1496, foram expulsos de Portugal, ou tiveram de se converter ao catolicismo.
Alguns judeus abandonaram o Reino de Portugal, mas outros, foram obrigados à conversão ao catolicismo, passando a ser designados cristãos novos, mas muitos destes, continuaram a professar a sua fé em segredo, sendo chamados de "marranos".
No ano de 1536, surgiu o Tribunal do Santo Ofício, ou Inquisição, uma Instituição da Igreja Católica, que perseguia, julgava e punia as pessoas acusadas de cometer crimes de heresia, como era considerado o judaísmo praticado pelos cristãos novos.
Alguns "marranos", perseguidos nos grandes centros populacionais, para sobreviver, foram obrigados a fugir para lugares mais recatados, no interior do Reino, onde estavam mais longe da fogueira e podiam praticar alguns ritos sem serem notados, como aconteceu na Freguesia de Capelins que, devido à sua natural situação geográfica, ladeada por Ribeiras e pelo Rio Guadiana, existiam lugares de difícil acesso, com grandes matagais que davam cobertura à prática da sua fé, no meio de silvados, nos barrancos das Ribeiras de Lucefécit,e de Azevel e do Ribeiro do Carrão e outros, mas os marranos, não se podiam isolar, completamente, do resto da população de Capelins, pelo que, para comunicar entre eles, sobre a sua religião, usavam códigos secretos, que eram simples frases ditas por toda a população, a todo o momento, como: "Que massada", "pagar a sisa", "a carapuça serviu" e muitas outras, eram mensagens entre eles e que, ninguém se apercebia.
Quanto aos ritos que praticavam, na gastronomia, nascimentos, casamentos, óbitos, festejos e outros, conseguiam enganar os capelinenses, mas tinham alguns, que não conseguiam esconder, por isso, encontraram formas para os convencer e envolver nos mesmos, associando cada rito da sua fé a um ato de felicidade ou de infelicidade, do bem ou do mal, diziam que, se não se fizessem assim, podiam ter azar na vida deles, ou da família, ou se fizessem assim, podiam receber uma graça do Senhor, ou ter abundância do que lhe fazia mais falta.
São dezenas os ritos praticados pelos marranos que, inocentemente, foram inseridos na comunidade capelinense, como os seguintes:
- Varrer a casa às avessas, ou seja, do lado de fora para dentro, na sua religião era para impedir a saída da sujidade da sua impureza, mas diziam aos vizinhos que era para não impedir as visitas de voltarem lá a casa e todos faziam o rito.
- Quando alguém falecia, despejavam a água que estava nos cântaros na casa do defunto e, iam ao poço encher os cântaros de água nova, para eles tinha um significado, na sua fé, mas convenceram os capelinenses que a alma do defunto ia lavar-se na água que estava nos cântaros, antes de entrar no céu, levando toda a gente a praticar esse rito, para dar cobertura ao exigido na sua religião.
- Quando alguém falecia, tapavam os espelhos e vidros da casa do defunto, satisfazia a sua fé, mas diziam que era para a alma não se ver ao espelho, senão não podia entrar no céu, e não havia nada pior do que uma alma penada.
- Beijar o pão ao cair no chão, tinha um significado na sua fé, mas convenceram a comunidade que, era o corpo de Deus a cair ao chão e tinha de ser beijado para pedir perdão por o deixar cair, senão podia faltar o pão em casa e vinha a fome.
- Atirar um punhado de terra sobre o caixão quando descia à terra, tem um significado na sua fé, mas outro para os cristãos, a obrigação de participar no enterro do defunto, senão seria mau para o corpo e alma.
- Quando falecia alguém muito chegado, os homens não se barbeavam durante trinta dias, tinha um significado na sua fé e outro para os cristãos, mas dava cobertura ao deles.
- Quando falecia alguém muito chegado, as mulheres tapavam a cabeça com um xaile preto, durante determinado tempo, satisfazia a crença judaica que, ao mesmo tempo, era branqueada pelos cristãos.
- Jurar pela alma do pai ou da mãe, tinha um significado para os marranos, mas outro, para os verdadeiros cristãos, mas que lhe dava cobertura, em caso de denuncia à Inquisição.
- Existiam muitos outros ritos praticados pelos marranos que, eram cobertos pelos adoptados pelos verdadeiros cristãos e que confundiam a Santa Inquisição.
- O jejum era o rito mais praticado pelos marranos, não só na ocasião das grandes obrigações anuais, mas durante as semanas ordinárias, porque, ninguém de fora o notava e muito menos nos Montes e nos campos de Capelins.
Os judeus eram mal vistos na Freguesia de Capelins, embora, a maioria dos seus povoadores, senão todos, eram descendentes, uns de gerações muito distantes e outros nem por isso, mas uma das defesas dos marranos era dizer mal deles próprios, para confundir a Inquisição e, eventualmente salvar a sua família da fogueira.
Através dos apelidos dos seus ascendentes, verificamos que, a maioria dos marranos da Freguesia de Capelins, eram descendentes dos judeus expulsos dos Reinos de Aragão e Castela, dos chamados judeus sefarditas, pessoas com grandes horizontes, sabiam escrever, trabalhavam muito e não perdiam a oportunidade de fazer dinheiro que, depois emprestavam, recebendo altos juros, também, por isso, eram odiados, chegando esse ódio até ao século passado, até nas brincadeiras das crianças, quando alguma era agredida por outra, esta era apelidada de "judeu", o mesmo era dizer mau e afastavam-se dela.
Atualmente, os conhecimentos são diferentes e, quase toda a gente entende que, os judeus são pessoas como qualquer outra, há bons e maus, a diferença, será na religião que professam, em relação às outras.
Fim
Texto: Correia Manuel





Povoado de Miguéns - Capelins - 5.000 anos

  Povoado de Miguéns -  Capelins - 5.000 anos Conforme podemos verificar nos estudos de diversos arqueólogos, já existiam alguns povoados na...