terça-feira, 27 de dezembro de 2022

Casamentos em Capelins, costumes e tradições

Casamentos em Capelins, costumes e tradições

A celebração dos casamentos foi iniciada na Antiga Roma, antes disso, os casais uniam-se sem grandes formalidades, mas nessa época, era uma espécie de negócio entre famílias, as noivas eram prometidas pelos seus familiares e, desde muito cedo, já sabiam com quem se casariam, só mais tarde, em 1215, a Igreja Católica decidiu que o casamento tinha de ter o consentimento mútuo do casal, passando este a ser exigido, por isso, o padre pergunta: - É de livre e espontânea vontade que recebe fulano/a como esposo/a? No entanto, o casamento por amor já existia, mas acontecia nas classes sociais mais baixas.
O ritual da cerimónia do casamento não mudou quase nada até aos tempos atuais, mas a partir do Concílio de Trento, 1545-1563, os casamentos pela religião católica tornaram-se obrigatórios e, começaram a ser Registados em Livros Paroquiais e, se algum casal não casava, depois os filhos não eram batizados, ou seja, registados, ou em alguns casos os padres faziam o seu batismo, mas como filhos ilegítimos.
Os Registos de casamentos realizados na Paróquia de Santo António de Capelins, tiveram início no ano de 1633, mas desde 1588, que os casamentos dos casais residentes na Vila de Ferreira, atual Freguesia de Capelins, eram registados na Paróquia de São Pedro de Terena, onde era a sede do respetivo Termo (Concelho).
Antes da realização de um casamento, os casais, neste caso, em Capelins, geralmente, passavam pelas seguintes fases:
- Começava pela empatia entre um rapaz e uma rapariga que, se avistavam numa Festa, num baile, nos trabalhos rurais, numa rua, num Monte, vizinhos, e mais tarde na escola, ou podia ser um arranjinho, ou seja, por intermédio de familiares ou amigos/as.
- Depois dos primeiros contactos, o rapaz pedia namoro à rapariga, podendo sair-lhe ao caminho, quando ela ia ao poço buscar água para casa, no caminho para a mercearia, para a casa dos avós, para o trabalho, ou para outro lugar onde ela se deslocasse sem a companhia da mãe, ou mesmo, numa Festa ou num baile, bastava perguntar-lhe, se queria namorar com ele.
- No caso da rapariga dizer que sim, a seguir, o rapaz tinha de ir pedir ao pai dela, se podia namorar com ela.
- O pai da rapariga era, antes, informado por ela ou pela mãe sobre as intenções do rapaz e, se concordasse com o namoro dizia, onde e a que horas o recebia e acertavam, os dias, horas e lugar onde podiam namorar, ou a uma janela, à porta, ou em casa, e a partir daí o namoro era oficial, o qual, devia durar pelo menos um ano, antes do noivado.
- Seguia-se o noivado, que obrigava o pai do noivo a ir pedir a noiva ao pai dela, para casar com o seu filho e, se estivessem de acordo, marcavam a data do casamento e a partir desse dia, a rapariga ficava noiva e o rapaz noivo.
- Cerca de três ou quatro meses antes da data planeada, tinham de falar com o padre da Freguesia ou da Igreja onde queriam casar, para se fixar a data oficial do casamento e tratar dos papéis de estilo corrente.
- Depois do casamento tratado com o Padre, faziam os convites aos respetivos padrinhos, sendo costume, convidar os mesmos padrinhos do batismo.
- Após o convite dos padrinhos, cada lado dos noivos fazia o convite aos seus familiares e aos amigos/as.
- Feitos os convites, já sabiam o número de convidados, então davam início aos preparativos para a festa do casamento, ou seja, para a boda, do lugar onde ia decorrer, as comidas, bebidas, bolos, vestido da noiva, fato do noivo e tudo o que fosse necessário.
- Os noivos, com a ajuda dos pais, tinham de encontrar a casa para depois de casados, comprar mobílias e tudo que ainda não tivessem no enxoval, o qual, geralmente ia sendo feito ao longo dos anos.
- No dia do casamento, tinha de estar tudo bem organizado para não haver confusões e seriam cumpridos os costumes e tradições e na hora marcada os noivos e convidados tinham de estar na Igreja de Santo António.
- Depois do casamento realizado pelo padre, seguia-se a Festa do casamento ou boda, começavam pelo copo de água, que consistia em comidas ligeiras, aperitivos e bebidas, mas ainda cedo, começava o jantar que entrava pela noite dentro e, geralmente continuava com o almoço no dia seguinte.
Esta parte refere-se aos casamentos realizados nas últimas centúrias e, nem todos passavam por estas fases, conforme contavam os ancestrais, ainda havia muitos casamentos por conveniência, ajustados entre as famílias, sem o devido consentimento mútuo, assim como, outros casamentos sem amor, mas realizavam-se porque fazia falta uma mulher a um homem, para procriar e para tratar dele e da família, sendo ela sua serviçal durante toda a vida, e a mulher sujeitava-se a isso, devido à situação económica, à sua pobreza.
De entre os costumes e tradições dos casamentos em Capelins, alguns vieram da época dos romanos que, aqui residiram, em Faleiros, Terraço, Escrivão, Castelinhos, Roncão, vale do Guadiana e outros lugares, destacamos os seguintes:
- O véu da noiva, era uma referência à deusa Vesta, da honestidade, que na mitologia greco-romana era a protetora do lar, assim, era um costume que já vinha da antiga Grécia, para o qual, existiam outras explicações, diziam que era do tempo em que o noivo atirava um lençol para cima da mulher que escolhia para noiva para assim a raptar e depois casar.
Outra explicação era a de que durante os tempos em que os casamentos eram arranjados, a face da noiva era coberta até o noivo estar comprometido com ela na cerimónia, para que fosse tarde demais para ele se recusar a casar se não gostasse do seu aspeto físico.
Os romanos, por sua vez, acreditavam que alguns espíritos demoníacos e invejosos tentariam lançar-lhes feitiços durante o dia do casamento, assim, as faces das noivas eram então cobertas com véus para as guardar contra os demónios e outros espíritos malignos.
- O vestido da Noiva, o primeiro vestido branco foi adotado em Inglaterra pela Rainha Vitória quando se casou com o seu primo, o príncipe Alberto, no dia 10 de Fevereiro de ano de 1840.
Antes disso, especialmente na Idade Média, não havia cor específica para a cerimónia, a cor mais usada era o vermelho, mas o branco acabou por ser o preferido, por simbolizar a castidade e a pureza.
- O ramo de noiva, os primeiros ramos de noiva terão surgido na Grécia e incluíam não apenas flores, mas também ervas e temperos, os mais populares, geralmente com cheiro mais forte, como os alhos, eram usados para espantar os maus espíritos.
Cada flor tinha o seu significado, a hera representava fidelidade, o lírio a pureza, as rosas vermelhas o amor, as violetas a modéstia, as flores de laranjeira concediam fertilidade e alegria ao casal.
- O noivo não podia ver a noiva, antes do casamento, era uma tradição milenar praticada por quase todos os povos, desde tempos remotos.
A cerimónia do casamento foi considerada uma linha definitiva entre o antes e o depois, por isso, a noiva não seria considerada pura e nova se o seu noivo a visse antes do tempo.
- A Aliança, significava compromisso, pacto, união e o seu uso era tradição cristã do século XI, e era colocada no terceiro dedo da mão esquerda, porque, acreditava-se, que nele existia uma veia que ia para o coração.
O termo aliança, vem do hebraico e significa compromisso, representa fidelidade e a unidade perfeita, sem começo e sem fim.
- Atirar coisas doces, esta prática tem a sua origem, também, num ritual grego, era um ritual de fertilidade, que consistia em lançar sobre o casal qualquer tipo de coisas doces, pois acreditavam que isto poderia, inclusive, trazer - lhes prosperidade.
Em Capelins, existia esta tradição, mas as coisas doces, amendoas e rebuçados, eram atiradas à assistência, às pessoas que não eram convidadas, mas iam ver a chegada do casamento na volta da Igreja.
- O Bolo da noiva, ou bolo de casamento, teve a sua origem numa grande porção de pequenos bolos de trigo que eram quebrados na cabeça da noiva para lhe trazer boa sorte e fertilidade, no fim todos os convidados comiam uma migalha para garantir um futuro risonho.
Nos tempos medievais, eram os convidados que levavam pequenos bolos e empilhavam-nos no centro de uma mesa.
Mais tarde, na centúria de 1500, um pasteleiro francês teve a ideia de juntar todos os pequenos bolos num único grande bolo, depois, os jovens noivos faziam o primeiro corte no bolo em conjunto que simbolizava o início de uma vida conjunta.
- Os presentes, vêm da Idade Média sem grandes alterações ao longo dos tempos, os convidados, dependendo das suas posses e da sua afinidade, ofereciam o melhor presente aos noivos, para os ajudar na vida futura.
- Não havia casamentos nos Sábados, porque, era dia de oração e a maioria eram realizados entre a Segunda Feira e Sexta Feira, só os de gentes mais abastada eram realizados aos Domingos, embora, mais tarde, já na centúria de 1900, fosse diferente.
Na festa do casamento, geralmente havia comida farta, e bebidas para os convidados e, durava dois dias, mas em tempos de outrora, em Capelins, havia casamentos que, mesmo aos poucos convidados e aos padrinhos eram servidas apenas umas sopas de grãos à moda da região e, havia alguns a seco, porque as Famílias não tinham condições económicas para fazer sequer um almoço.
A partir do dia do casamento, os recém casados, recolhiam à sua nova casa, Choça ou choupana e seguiam a vida por sua conta.
Fim
Texto: Correia Manuel





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