sábado, 30 de setembro de 2017

Resenha histórica da Vila do Alandroal Dicionário geográfico 1747 Padre Luiz Cardoso

Resenha histórica da Vila do Alandroal 
Dicionário geográfico 1747 Padre Luiz Cardoso 

"Alandroal ou Landroal. Villa na Provincia do Alentejo, Bispado de Elvas, Comarca de Aviz: eh seu Donatário o Grão Mestre de Aviz, em cujo dominio, e protecção está El-Rey nosso Senhor, como Regente, Governador, e Administrador. Consta de trezentos e sessenta e quatro visinhos (fogos) dentro da Villa, e no seu termo (Concelho) cento e vinte e hum, e não tem Lugar, ou Aldea alguma. Fica situada esta Villa nove legoas ao Sueste de Aviz, quatro da cidade de Elvas para o Sul, e legoa e meya ao Sueste da Villa de Borba. Tem seu assento na chapada de hum monte, que olha para o Poente: he partida em duas partes, e no meyo dellas fica o castello; a parte de cima se chama a Mata, e fica entre vinhas, e olivaes; e a parte de baixo está entre hortas, e farrageais de arvores fructiferas de espinho, e mais frutas, e lhe chamão o Arrabalde. He tradição tomara esta Villa o nome dos Allandros, que são humas plantas com folhas semelhantes às do louro; posto que mais grossas, e lizas, e a flor como rosas, das quais havia grande copia na sua fonte, abaixo da qual fica huma grande horta, a que chamão do Mestre, pelo ser dos Mestres de Aviz, no tempo em que os havia. 
O Castelo de Alandroal 
O castello tem sete torres em roda com sua muralha, e contra muralha, no meyo tem uma grande torre, e quatro portas; a mais principal fica entre duas torres, e na qual fica à mão esquerda ao sair para fora, tem huma inscripção, que diz assim: Deos he, e Deos será por quem elle for, ese vencerá. Sobre esta porta do castello, na altura de huma lança, está outra inscripção em huma pedra branca, que diz o seguinte: Era de mil trezentos e trinta e dous, a seis dias de Fevereyro começarão a fazer este castello por mandado do Mestre de Aviz Dom Afonso, e elle poz a primeyra pedra M.E.E.6.3.E. castello. Sobre a outra porta se vê a cruz da Ordem de Aviz com duas aguias, dos braços para cima dous grilhõs ao modo de Calatrava,e ao pé humas letras, que dizem: Mouro me fez.
A torre grande tem no meyo huma cruz da Ordem, com a seguinte letra: Era de mil e trezentos e trinta e seis annos a vinte e cinco dias andados de Fevereyro fez este castello D. Lourenco Affonso, Mestre de Aviz, à honra e serviço de Deos, e Santa Maria sua madre, dos herdeiros do muyto nobre Senhor D. Diniz Rey de Portugal, e dos Algarves reynante naquelle tempo , em defendimento dos seus Reynos: Salvator mundi, salva me. No canto da torre está outra inscripção, que é como a primeyra a porta Legali etc. Na porta desta torre, que cahe sobre o muro, em huma grande pedra branca, se lê o seguinte: Quando quizeres fazer alguma cousa, cata o que te he necessário, e depois verás, e quem de ti se fiar não o enganes, lealdade em todas as cousas.
Descobrem-se desta Villa para o Nascente a Villa de Juromenha, e a de Olivença; e para Poente a Cidade de Évora, e a Villa do Redondo; e para a parte do Sul a Villa de Monsarás; e do mais alto da torre grande do castello, se descobrem ao Norte a Villa de Estremoz, e ao Sul a Villa de Mourão. 
Esta Villa tem Termo (Concelho) seu, que se estende por espaço de três legoas, desde o penedo do Machos, até à herdade do Aguilhão, que fica contígua ao rio Guadiana. Comprehende dentro de si a Freguesia de N. Senhora do Rosário. Há nesta Villa huma só Paróquia, fundada dentro do castello: he Igreja da Ordem de Aviz; e tem por Orago N. Senhora da Conceição: Consta de cinco altares, o mayor com a imagem da Senhora, e dous collateraes; hum da parte do Evangelho, dedicado a N. Senhora do Rosário; e outro da parte de Epistola de N. Senhora do Carmo. No corpo da Igreja, que he de huma só nave, há mais dous altares particulares; hum das Almas da parte da Epistola; e outro do Menino Jesus da parte do Evangelho. Há nella cinco Irmandades, a do Senhor, a de N. Senhora do Carmo, a de N. Senhora do Rosário, a das Almas, e a da Cruz de Christo.
O Paroco he Prior, e tem dous Beneficiados providos pelo Tribunal da Mesa da Consciencia, todos do habito de S. Bento de Aviz. O Prior tem de renda três moyos de trigo ( 1 moio = 720 Kg), dous de cevada, e vinte cinco mil reis em dinheiro. Os Beneficiados têm cada hum de renda dous moyos de trigo, moyo e meio de cevada, e dez mil reis em dinheiro.
No caminho da fonte, que vay para o arrabalde da Villa, ha vestigios de hum Hospicio, que fundou, e dotou com boa renda Diogo Lopes Siqueira, no qual se diz, que assistião tres Monges de S. Bento, e era obrigação terem huma cadeira de Latim, e outra de Theologia Moral, que não tem, e cobra as rendas, que passão de tres mil cruzados, ao Mosteiro de S. Bento dos Negros da Cidade de Lisboa.
Tem Casa da Misericórdia, de cujo principio não há noticia, e huma casa, que serve de Hospital para recolhimento dos pobres passageiros. No redor desta Villa há cinco Ermidas, que são a de S. Pedro, a de N. Senhora da Consolação. Nesta Ermida jaz, sepultado Diogo Lopes Siqueira, que foy o que fundou o Hospicio dos Monges Bentos, de que acima fallámos, juntamente com seus filhos, na sepultura, que aqui se vê de pedra marmore, com seu epitáfio. A de N. Senhora das Neves, a de Santo António, e a de S. Bento, Imagem muito milagrosa, a cuja intercessão confessão os moradores não entrar peste nesta Villa em nenhum tempo, e o mesmo Santo assim o prometeo apparecendo a hum seu devoto por nome de João Serigado. Para se livrar do contágio, em que ardião as vizinhanças desta Villa, se recolheo a ella a Senhora Duqueza de Bragança com sua filha a Senhora Dona Isabel, e com toda a sua familia no anno de (1600?), no tempo do Senhor Rey Dom Sebastião; e depois de entrar nella, nenhuma pessoa adoeceo.
Este exemplo imitarão outras muitas pessoas, que feridas do mortal contagio, o mesmo era chegar a esta Villa, que ficarem livres da peste. Deste milagre do Senhor faz menção Fr. Leão de Santo Thomás na Benedictina Lussitana. No tempo antigo acodião a esta Ermida; hoje porém he menor o concurso, e só na ultima Oitava da Pascoa se ajunta muita gente. Dentro desta Villa está a Igreja, ou Ermida de S. Sebastião, a qual diz ser mais antiga, que a mesma Villa, e de novo reedificou fazendo-se toda no anno de 1722.

Ao fundo da praça há uma fermosa fonte, de que bebe o povo: he de pedra branca, com seis bicas de bronze, e com seu taboleiro ao redor da mesma pedra: tem oitenta palmos em quadro, vinte de canto a canto, e oito palmos de altura de agua, que sempre está lançando por cima. Com a agua, que sobeja se alimentão varias hortas que estão em seu rego, e passando por muitos jardins: daquy vai fazer moer tres lagares de azeite, pouco distante dos limites desta Villa. Ha outra fonte, a que dão o nome de Fonte das Freiras, que rebenta do coração de huma rocha, de bruta e tosca Peneda, que dá agua a muitas hortas, e pomares. Entre esta fonte, e a Villa ha um sitio, a que chamam de Villares, donde querem alguns estivesse antigamente fundada esta Villa; e não parece fora de razão pelos vestigios, que ali se achão, como são telhas, e ladrilhos; hoje porém, se acha povoado de olivaes.
Dentro destes olivaes ha dous algares de agua muito fundos, os quaes hoje se achão cobertos por cima de abobeda, prevenção dos moradores da Villa, para evitar as desgraças, que nelles podião suceder. parece terem daqui seu principio as fontes desta Villa, e de outras Povoações circumvizinhas, e lhes reparte as aguas por meatos subterraneos; porque já houve homem curioso, que lançando em um dos ditos algares tres cantaros de azeite, foy sair a esta Villa em varios olhos; e em outra de Villa Viçoza, na Villa de Estremoz, na Villa do Cano, na da Villa de Aviz, nas Fontes Furadas, Termo da Cidade de Évora, e finalmente na lagoa de Alhanoura (Ana Loura), Termo da Villa de Estremoz, Desviado desta Villa huma legoa, mas ainda no seu Termo (Concelho), corre a serra de S. Miguel, nome que lhe deu uma Ermida deste Soberano Archanjo, que se ve edificada no mais alto della, cua Casa dizem foy fundada no tempo da Gentilidade, trezentos e tantos anos antes da vinda de Christo ao mundo, e se entende ser mais antiga, que a Igreja de Nossa Senhora da Boa Nova de Terena. Por diante desta Villa passa o rio Lucefeci, que nos tempos antigos foy castello, e ainda no tempo presente lhe dão o nome de Castello Velho; porém não ha certeza de quem fosse. Na Defesa da Granja, Termo do Alandroal, se veem alguns outeiros minados, que mostra terem lugares donde se tirarão metaes de ferro, ouro, ou prata, e não consta em que tempo se tirassem.
Abunda no termo desta Villa de toda a sorte de caça, como também de varias especies de gado, assim miudo, como grosso, em razão dos ferteis pastos, que cria.


Dos Inquéritos de 1721 e 1732
Fim 
Fonte das seis bicas - Alandroal


domingo, 24 de setembro de 2017

Memórias Paroquiais de Santo António - 1758

Memórias Paroquiais de Santo António (Capelins)


Em 1758, o Pároco de Santo António, Manoel Ramalho Madeira, escreveu o seguinte:

"Digo que esta Freguezia está na provincia do Alentejo no Arcebispado de Évora na comarca da cidade de Elvas e Termo da Vila de Terena chamada esta Freguezia de Santo António de Terena. A Igreja he de Elrei meo Senhor. Esta Freguezia tem ouitenta e seis vizinhos (fogos) e duzentas e outenta pessoas Mayores sincoenta e sete menores", (337 pessoas em toda a Freguesia em 1758)! 
Em 1758, ainda não se designava de Freguesia de Santo António de Capelins! 
A Igreja de Santo António era do Rei nessa data de D. José I! 
A maioria das pessoas ainda moravam na Vila de Ferreira, junto às Neves, porque, Capelins de Cima tinha 8 fogos e Capelins de Baixo tinha 6 fogos, mas já existiam mais de 20 Montes nas herdades que, embora fossem da Casa do Infantado, os lavradores foram autorizados a construir os Montes! Também já existiam os Montes que ficaram incluídos na futura aldeia de Montes Juntos, Almas, Salgueiro, Manentio, Assento e Janelas, (Capeleira e Galvoeira? eram nas respetivas herdades)! 




sábado, 23 de setembro de 2017

Vidas do Contrabando e dos guardas fiscais nas terras de Capelins

Vidas do Contrabando e dos guardas fiscais nas terras de Capelins  

As memórias de um tempo em que o contrabando era um modo de vida de muitas pessoas nas terras de Capelins desde há centenas de anos! Existem documentos datados de 1463, do reinado de D. Afonso V, que se referem ao contrabando no Concelho de Terena, que era essencialmente de gado, cereais, armas, couros e mercadorias.
 Os contrabandistas de Ferreira de Capelins, Montejuntos e outras localidades vizinhas entravam em Espanha e dirigiam-se a cidades, vilas e aldeias, como: Olivença, Vila Real, São Bento da Contenda, São Rafael de Olivença, Valverde de Leganés, Almendralejo, Almendral, Táliga, Alconchel, Cheles, Barcarrota e outros lugares, durante a noite, de carga às costas que variava entre os 25 e os 40 quilogramas e, ao longo de distâncias que poderiam atingir mais de 50 quilómetros.
O que ganhavam com o contrabando foi ao longo de séculos, o sustento de muitas famílias da Freguesia de Capelins, sendo, em alguns casos um suplemento dos salários nos trabalhos agrícolas, mas havia muitas famílias que vivam exclusivamente desta atividade. Desses tempos, ficaram as memórias e ainda os testemunhos de algumas personagens, como o Ti Agostinho de Almeida, Joaquim do Assobio, Natalino, Abrantes, Lagarto, Lourenço, Fura, Batista, Jacinto, Varandas, Busca e muitos outros, chegaram a passar o rio Guadiana numa noite mais de 40 homens e respetivas cargas em barcos a remos dos moleiros ou de pescadores como o Ti José Glórias, Venâncio, Faustino, Fura, Varandas e outros. Esses homens mantinham um permanente jogo do gato e do rato no desempenho da sua atividade, entre eles que viviam do contrabando e daqueles que tinham por missão o seu impedimento, a guarda fiscal.
As rotas do contrabando eram, geralmente, por veredas, matagais, pedregulhos, barreiras, buracos, por lugares com mais difícil acesso e que podiam servir de esconderijo para os homens e para as cargas de forma a ludibriar a guarda fiscal do lado de cá ou a guarda civil (carabineiros) do lado de lá! Para que as campanhas tivessem sucesso, existia uma conduta, cumplicidades e entreajuda, mas também das comunidades rurais e urbanas das localidades espanholas colaboravam com os contrabandistas portugueses em alguns casos devido à reciprocidade, ou seja na aquisição de produtos para trazerem de volta.
Os contrabandistas estavam sempre em alerta e avisavam os companheiros da proximidade dos guardas, porque tinham muito medo de serem apanhados e perderem a carga de café, mesmo os que nunca foram detidos pelas autoridades dos dois países, ouviram muitas vezes as balas dos carabineiros a zumbir perto dos ouvidos.
O dia-a-dia não era fácil para os contrabandistas, mas também não era para os guardas fiscais, apelidados de “pica-chouriços”, tal como as rotas, por utilizarem um ferro comprido e aguçado com o qual verificavam se havia alguma carga de contrabando escondidos nos matos ou outros lugares propícios, que se queixavam das condições a que eram sujeitos para desempenhar a sua missão, ficavam em outeiros, com frio e a chover, ou com muito calor, sem poderem sair dali, quase sempre em  pé mais de 12 horas, a vigiar uma determinada área onde poderiam passar os contrabandistas e, no caso de os detetarem teriam de os deter, apreender a carga, preencher um auto de notícia e aplicar uma multa. Mas a guarda fiscal de Montes Juntos não queria apanhar os contrabandistas, quando os viam disparavam alguns tiros para o ar, para eles fugirem e a guarda ficava com a carga de café que, depois era leiloada e, geralmente adquirida pelo fornecedor. Os guardas fiscais colocados na raia tinham uma vida muito dura e, apesar de serem a força armada do Ministério das Finanças tinham ordenados muito baixos, obrigando-os a procurar alternativas de sobrevivência como cultivar hortas e a procurar casas de habitação muito simples, devido ao custo das rendas.
Os produtos transacionados pelos contrabandistas entre os dois países, nos anos 50 a 90, eram variavelmente os seguintes:  Para lá, em grandes quantidades, o café camelo! Para cá: Louças de pyrex e esmaltadas, rebuçados, chocolates, calças de ganga, botas, medicamentos, perfumes, tabaco, roupas, toucinho, azeite, tripas de porco, pneus, peças de automóveis e gado.
Os antigos contrabandistas que ainda estão entre nós, mantêm hoje, uma relação normal com os últimos guardas fiscais, sem nenhum rancor do passado.
Com a abertura das fronteiras no início dos anos 90, o contrabando praticado durante séculos pelas comunidades rurais localizadas na raia, com mais intensidade entre as terras de Capelins e as localidades espanholas acima referidas acabou-se, dispensando o efetivo da Guarda Fiscal concentrado ao longo da fronteira entre os dois países, o mesmo acontecendo com a guarda civil, que só na província de Badajoz, existiam 26 postos distanciados entre si seis quilómetros e, na Freguesia de Capelins, existiam dois postos da guarda fiscal, um no centro da aldeia de Montes Juntos, cujos guardas deviam vigiar a fronteira entre as Azenhas D’ El - Rei e os Moinhos Novos  e, outro designado de Miguéns na herdade do Azinhal Redondo de Baixo, hoje Roncanito, que vigiavam o espaço geográfico entre os Moinhos Novos e o Moinho do Gato.
Existem muitas peripécias passadas na Freguesia de Capelins e nas terras de Espanha entre os contrabandistas, a guarda civil, a guarda fiscal e outros intervenientes que enriquecem a cultura do povo capelinense.
Como existia contrabando, tinha de existir guarda fiscal e, só existia guarda fiscal, porque existia contrabando! No entanto, o contrabando implicava guarda fiscal, mas a guarda fiscal não implicava contrabando!





quarta-feira, 20 de setembro de 2017

A Ribeira de Lucefécit

A Ribeira de Lucefécit 
Já em 1732 assim se descrevia a Ribeira do Lucefécit:
Padre Luiz Cardoso inquéritos de 1732
"Por diante desta Villa (Alandroal) passa o rio Lucefeci por terras muito fragosas, junto ao qual está hum edifício, que nos tempos antigos foy castello, e ainda no tempo presente lhe dão o nome de castello Velho, porém não há certeza de quem fosse.

Memórias Paroquiais:
1758 - Prior Bento Ferrão Castelbranco do Alandroal: 
"A Ribeira de Luçafece nasce no termo de Estremoz na freguezia de Rio de Moinhos de huma lagoa que ahi há, corre para o Nascente e entra a costear este termo em o Sítio dos Galvões e indo dividindo todo o termo pella parte do Sul se mete em o Rio Guadiana onde se sepulta e perde o nome em o Sítio chamado do Aguilhão".

1758 - Parocho Frei Francisco Xavier Pereira, de Rosário: 
"Tem a ditta freguezia de Comprimento duas legoas, principia na parte Norte com as Erdades de Alcalaz Ribeiro que tem seo nascimento próxomo da ditta Villa do Alandroal engtrando pela parte do poente em a Ribeira de Lucem Fecit, correndo da parte Norte para o Sul, cercando a freguezia he entrando em Guadiana na Erdade do Aguilhão".

1758 - Pároco Manoel Ramalho Madeira - Santo António (atual Capelins):
"(...) no sítio desta Freguezia entram nella duas ribeiras pequeinas huma Luçafece e a outra Asavel, as duas que de verão nam correm por nam terem os seos moinhos de pão".

1758 - Prior Mathias Viegas da Sylva, de Terena:
"Corre junto desta villa huma ribeira com o nome de Luçafece, termo divisorio dos dous termos de Terena e Landroal. Tem esta seo nascimento em huma Lagôa que esta no sitio de Rio-de-Moinhos, termo de Estremoz, e de outras agoas, que descem da Serra doça, Distante a dita Lagôa desta villa tres legoas: e correndo pelas faldas da mesma Serra, paulatinamente vai engrossando suas correntes: passa pelo termo de tres villas, Borba, Vila Viçoza e Landroal, correndo em gyros sempre solitária até que se avizinha a Terena em distancia para mais (?) daqui passa junto à Ferreira villa da serenissima Caza do Infantado, distante huma legoa; depois correndo outra legoa entre o Baldio do Roncão deste termo e a Erdade do Aguilhão, termo do Landroal, entra no Guadiana, menos agradecido depois de lhe receber as agoas lhe tira o nome. São cinco legoas do lugar aonde nasce até ao Guadiana onde morre. Corre do Norte para a parte acima do Sul. Somente conserva a sua corrente neste termo, enquanto as chuvas lhe formão as mesmas correntes, que no estio se vem extintas. He o seo curso neste termo moderado sem muita precipitação, por serem planicies os campos por onde passa. He abundante dos peixes que comumente há nas ribeiras pequenas desta provincia. As mais frequentes pescarias que nela se fazem, (que são livres) são no inverno até fins de Abril. Fora mais piscoza esta ribeira se na sua foz não tivera hum açude alto e forte, que lhe impede a subida dos peixes do Guadiana com a do Lucefece subindo muito sobre o dito açude; o qual parece devia ser demolido; porque sempre o bem comum prevaleceo ao particular":  


Ano de 1758, o Prior Bento Ferrão Castelbranco escreve o seguinte sobre a Ribeira do Lucefécit:

"Não damos a etimologia da Ribeyra de Luçafece porque sobre ella não há couza provavel por mais que alguns com louca prezunpção pertendão decobrir a verdadeyra origem deste nome, porque não podendo nós caminhar sem a guia dos Escriptores antigos, pello vasto e escuro paiz da antiguidade e não havendo hum só que dicesse alguma couza neste particular, tudo o que afirmarmos será destituído de fundamento posto que nos queyramos valer de alguma vulgar tradição que he autoridade totalmente débil".


Aqui, "acaba" a Ribeira do Lucefécit de hoje, onde se inicia o Grande Lago de Alqueva!


terça-feira, 12 de setembro de 2017

O Algarve de Água e o Algarve Seco de Capelins

O Algarve de Água e o Algarve Seco de Capelins 

O subsolo das terras de Capelins, parece ser fértil em minérios, com mais abundância em ferro, vindo daí a toponímia da Vila de Ferreira Romana. Ainda hoje, se encontra aberta uma das minas  Romanas, constituída por um poço retangular escavado na vertical e depois a cerca de 4/5 metros de profundidade sai uma galeria na horizontal na direção sul com dimensões indefinidas! A esta mina Romana, os nosso antepassados designaram por Algarve de Água e fica situada na Defesa de Ferreira de Cima, junto à estrada Ferreira - Rosário. Passados 1900 anos surgiu outro Algarve, o Seco, mas este na Defesa de Ferreira de Baixo, separando-os mais de um quilometro de distância, reforçada por um vale e um grande outeiro! As gerações mais recentes achavam estranho essa designação e, queriam saber porque motivo se chamavam Algarves, sendo a dúvida ainda maior na Escola Primária quando começavam a estudar as províncias de Portugal, porque, ainda maior era a confusão entre os Algarves de Ferreira e a província do sul! O mito era evidenciado quando os mais velhos contavam que, uns homens das minas, tinham derramado azeite no Algarve de Água e esse azeite apareceu no Algarve Seco, por isso, diziam que ambos estavam de alguma forma ligados, decerto por um túnel que abriram noutros tempos, provavelmente os romanos! Mas não deixava de existir uma contradição, porque o Algarve Seco, só foi escavado nas primeiras décadas de 1900, por coincidência 1900 anos depois do outro e, se o Algarve era Seco, como foi transportado o azeite? E quem desperdiçava azeite naqueles tempos de tanta miséria? Isso, nunca teve explicação, mas não importava, fosse como fosse, havia ali um mistério! E o mistério continua, porque este mito vai passando de geração em geração e temos de acreditar nos nossos avós! 
Agora, viemos saber que não existe ali nenhum Algarve, mas sim, Algar de Àgua e Algar Seco! E que Algar significa: Cova profunda feita pelas torrentes e enxurradas ou Caverna! 
Naquele caso, podiam ser Algares, ou Foyos/Fojos como outros que existem perto de Alandroal, mas somente se fossem abertos pela natureza! Aqueles não foram, pelo menos o que está à vista!

Mina Romana de Ferreira - ou Algar de Água - Capelins



domingo, 10 de setembro de 2017

Das Choças aos Cabanões das Terras de Capelins

Das Choças aos Cabanões das Terras de Capelins

Nas terras de Capelins, existiam muitas choças, nos campos, junto aos Montes, dentro e nos arredores das Aldeias! No entanto, apenas se designavam choças as estruturas de menor dimensão, as quais, podiam ser fixas ou móveis, neste caso, eram abrigos dos pastores que as deslocavam acompanhando os rebanhos para todos os lugares a que eram obrigados a mudarem-se por motivo de aproveitamento de novas pastagens! Algumas choças eram constituídas por peças separadas, que rapidamente se juntavam e ficavam prontas a abrigar os pastores, mas havia outras de maior dimensão que serviam para abrigar toda a família, eram a sua habitação, mas mesmo essas, desde que fossem dos pastores, não deixavam de ser choças. 
As choças com maiores dimensões e imóveis, nas terras de Capelins designavam-se por Cabanões e, geralmente, eram constituídas por uma parede feita em pedra com cerca de um metro de altura e, meio metro de largura que lhe conferia um bom ambiente interior e, podiam ter formas circulares, quadrangulares ou retangulares, sendo estas últimas, as que mais predominavam nesta região! Com uma técnica de construção rudimentar mas muito eficiente, os cabanões utilizavam no seu fabrico unicamente matéria prima obtida localmente. Sobre a estrutura de pedra assentavam vários paus, tipo barrotes, colocados ao alto e lateralmente, que eram colhidos em árvores da região, geralmente de madeira de azinheiras, freixos ou outras árvores nativas nos Ribeiros, Ribeiras e no rio Guadiana, que no interior davam forma ao esqueleto da cobertura. No Outono, cortavam o piorno/giesta e estevas, que eram entrelaçados naqueles paus e cobriam completamente toda a estrutura. Mais tarde, também era usada palha de centeio ou junco para fazer essa cobertura. Uma porta, também coberta pelos referidos arbustos, possibilitava o acesso ao interior, formado por um só espaço, onde também podia existir um lugar para o lume, saindo o fumo por uma pequena chaminé existente a um canto do cabanão. 
Os cabanões, eram usados para diversos fins, entre os quais, abrigar animais, guardar forragens, alfaias e utensílios usados na agricultura e pecuária e eram a habitação de muitas famílias podendo ser comum à família e aos animais, burros/as ou outras muares. 
Os cabanões, construções intemporais desde sempre presentes na paisagem humanizada das terras de Capelins, parecem ser testemunhos vivos das habitações pré-romanas, existindo testemunhos disso, no vale do rio Guadiana e das Ribeiras do Lucefécit e do Azevel. 
Eram essas as habitações de outrora, por isso, nasceram, viveram e faleceram muitos/as capelinenses, nos cabanões das terras de Capelins.

Restos de um cabanão no Carrão 



quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Gastronomia das terras de Capelins Caspacho ou Gaspacho

Gastronomia das terras de Capelins 
Caspacho ou Gaspacho 

O Gaspacho era/é um prato que, no verão, era servido quase diariamente nas casas de Capelins. No tempo das ceifas e debulha de cereais fazia parte da merenda! Pelas dezassete horas era feito um Gaspacho com tomate e acompanhado com azeitonas e muitas vezes ainda era servido outro à ceia (jantar)!

Ingredientes:
Alho
Sal
Azeite
Vinagre
Pão
Tomate
Pepino 

Numa terrina ou tigela de barro, corta-se um dente de alho em pequeninos pedaços, junta-se água fresca, azeite, q.b vinagre, sal, tomate cortado em pequenos cubos, pepino cortado em bocadinhos pequenos, junta-se o pão cortado em pequenos cubos, dão-se umas voltas com uma colher para misturar tudo e fica pronto a servir! Era acompanhado com azeitonas, ou sem nada! 

Bom apetite! 

Hoje são um pouco diferentes, principalmente os acompanhantes! 




Gastronomia das terras de Capelins
Açorda de tomate com carne frita
A açorda de tomate com carne frita, era um prato muito forte e que na maioria das casas das terras de Capelins, ia à mesa logo de manhã, ao almoço (pequeno almoço)! os trabalhadores/as saiam para o campo ou outra atividade, muito cedo, comiam uma bucha, ou seja um naco de pão com queijo, carne, passas de figo, marmelada ou outro conduto e pelas 8 horas almoçavam (pequeno almoço) a açorda ou sopa de tomate com carne frita! 

Açorda de tomate com carne frita: 

Ingredientes:
Manteiga de porco
alho
cebola
tomate
sal
toucinho
linguinça
farinheira
cacholeira
(ou outros enchidos)
batatas (optativo)

Põe-se uma tigela de fogo ao lume com uma colher de manteiga, frita-se o toucinho em pequenos cubos e a carne (enchidos) em rodelas! Quando tudo estiver frito, tira-se para um prato e fica de lado!
No pingo da carne e do toucinho faz-se um refogado com o alho, sal, cebola e o tomate! Depois de refogado vai-se deitando (de preferência) água quente até atingir a quantidade de caldo desejada! Estando pronta, deitam-se as batatas em rodelas no caldo, deixam-se cozer e arreda-se do lume!

Numa terrina ou tigela de barro, deitam-se as pequenas fatias de pão escuro (alentejano), mais duro do que mole, despeja-se o caldo da açorda por cima do pão e come-se acompanhada com as rodelas de carne frita e do toucinho!

Bom apetite!




terça-feira, 5 de setembro de 2017

A Serração da Velha - Capelins

A Serração da Velha
A Serração da Ti Guilhermina em 1965, em Capelins de 
Cima

Ao aproximar-se a noite da “serração da velha” que era na noite de 17 de Março, o João e o seu grupo habitual, estavam em Capelins de Baixo e ele lembrou-se que tinham de combinar as coisas para a “serração da velha”! O ajuntamento do grupo tinha de ser no cabanão do pai, perto de Capelins de Cima, porque não convinha serem vistos juntos a cochichar, senão inventavam logo que estavam a tramar alguma e ainda se estragava tudo antes de começar! Sim! Porque está na hora de escolhermos as velhas que vamos serrar e temos de combinar bem as coisas, porque todos os anos temos problemas, falha sempre alguma coisa, disse o João! Não foi preciso muito tempo para se entenderem, prontificaram-se logo a ir ter ao cabanão do pai do João! Não! Disse ele, vocês ficam além ao Muro, ao Monte Grande e eu vou lá ao cabanão ver se o meu velho lá está, ele ia para o Guadiana, mas sei lá, pode não ter ido, depois se o caminho estiver livre eu levanto o braço e vão indo um de cada vez! Todos concordaram e em poucos minutos estavam reunidos no cabanão, eram: o João I, o primo Manuel, o António, o José e o João II! Chegamos bem os cinco, senão quantos mais são, pior é, disse o João I e continuou:
João I: Bem! Eu já tenho tudo na cabeça! A serração da velha é na quarta-feira à noite, agora, só temos de acertar quais as velhas que vamos serrar, combinar quem vai falar e responder pelas velhas e lembrar as lengas lengas! Alguém tem alguma ideia brilhante nova para este ano? Eh pá, para não ser sempre a mesma coisa!
António: O que podia ser diferente eram os versos, porque o resto faz tudo parte da serração, não podemos mudar nada, senão não é serração, já no tempo do meu avô era assim!
Manuel: Bem dito! Mas qual de nós consegue fazer outros versos diferentes? Somos todos burros, para isso não damos!
João II: Pois! Tens razão” Nenhum de nós sabe fazer versos! Mas há aí muita gente que sabe! E se pedíssemos para nos fazerem uns versos novos?
João I: Tu estás parvo? Ou estás maluco? Pedíamos para nos fazerem uns versos novos e depois íamos-lhe a serrar a mãe ou a sogra! E ninguém nos fazia isso, porque depois tudo se sabe e esse é que ficava nos cornos do touro!
Isso é verdade, responderam em coro!
João I: E então? Como fazemos?
José: Fazemos como no ano passado e nos outros anos, os versos, são os que são e mais nada! Nem a gente consegue aprender mais nenhum! Esses dois que sabemos, já temos que andar agora oito dias a estudá-los e mesmo assim nos enganamos sempre, por isso, por mim fica assim!
Então fica assim! Responderam todos!
João I: Agora vamos para o ponto 2, quem fala para as velhas? E quem responde com a falinha delas?
Imediatamente, apontaram todos o João I e o Manuel e, disseram: Tu, João, falas para as velhas, apontas os defeitos e o Manuel responde com a fala delas!
João I: Quais defeitos? O que é que eu digo às velhas?
António: Dizes o mesmo do ano passado: “Oh avozinha vossemecê é muito má, é maluca, já é muito velha, está na hora de calçar as botas e ir a caminho de Santo António e deixar-me tudo o que tem, e chega isso! Depois, se nos lembrarmos logo dizemos outras coisas! Não te esqueças que cada vez que lhe disseres uma coisa destas, logo a seguir tens de perguntar: “Oh avó, o que deixa ao neto?” E o Manuel responde com a fala dela: “O buraco do cu aberto” ou “ o penico aviado” e o José está sempre passando o serrote pela tábua, depois, no fim o João II diz os versos e nós vamos todos ajudando! Perceberam?
Sim! Responderam todos! Agora é só treinarmos!
João I: Ainda falta escolhermos as velhas para serrar! A tradição diz que têm de ser as mais velhas da aldeia, mas se não forem, não são! Quantas são este ano?
António: Eh pá! Não podem ser mais que três ou quatro, porque sempre leva algum tempo! Embora possa falhar alguma, porque não se esqueçam do perigo do penico aviado que algumas tê preparado para nos atirar com o presente acima, pelo postigo! Temos de ter muito cuidado com os postigos!
Os rapazes do grupo escolheram as idosas que seriam serradas, entre elas, a mais velha da aldeia, já com idade muito acima dos oitenta anos, a Ti Guilhermina que, morava em Capelins de Cima! Combinaram acertar ainda alguns pontos até à dita noite e como estava tudo tratado a reunião foi dada como terminada! Foram saindo do cabanão um de cada vez e juntaram-se novamente a caminho de Capelins de Baixo!
Chegou a noite da serração da velha e, o grupo estava preparado para cumprir a tradição, esperaram que toda a aldeia se metesse nos lençóis e pelas 23:00 horas, acharam que estava na hora certa, para não acabarem muito tarde, pegaram no serrote, numa tábua e foram direitinhos à porta da Ti Guilhermina, porque era a mais próxima dali, depois, logo seguiriam até à casa da última velha!
A Ti Guilhermina tinha fama de ser muito rabugenta e dona de grande esperteza, mal pensavam eles que ela já há muito tempo estava sentada atrás da porta com o penico aviado e o postigo encostado, para quando eles viessem a serrá-la, como sempre faziam, abria o postigo e levavam com o produto pelas ventas e depois fossem queixar-se onde quisessem!
Os rapazes chegaram à porta com muita cautela, chiu, chiu, que a velha é esperta, dizia o João I, eles eram cinco, havia pedras soltas na rua, era impossível aproximarem-se sem a Ti Guilhermina não dar por isso! Assim que os ouviu a cochichar a Ti Guilhermina pegou no penico com uma das mãos e com a outra agarrou o fecho do postigo para o abrir, o João I ia começar a lenga lenga quando reparou que o postigo estava a abrir-se, calculou logo o que se ia passar, ainda lhe deitou a mão e puxou-o para fora, não deixando passar o penico e a Ti Guilhermina puxou-o para dentro para o abrir, arranjou-se ali uma contenda até que o postigo saiu do lugar e saltou pelo ar estatelando-se no chão da casa de fora e a Ti Guilhermina gritava: “socorro, acudam, acudam”! Os rapazes começaram a ouvir as portas dos vizinhos a abrir e alguns a gritar: “malandros, deixem a velhota em paz”, os rapazes não tiveram outra solução senão fugir, desorientados, foram cada um para seu lado, uns pela talisca abaixo, outros para os lados do Monte da Cruz, outros para os lados do Monte Grande e só já se juntaram na tarde do dia seguinte! Os vizinhos da Ti Guilhermina foram chamar um sobrinho porque ela estava muito nervosa e sem postigo, depois com a luz da candeia viram que estava todo partido! Como a Ti Guilhermina conheceu o João I, na manhã seguinte o sobrinho estava à porta do pai dele a contar-lhe o que o filho tinha feito na noite anterior ao postigo da sua tia! O pai do João I, ainda exclamou: O que é que eu posso fazer? Não dou conta dele! Olhe, como vossemecê é carpinteiro, arranje lá o postigo e depois diga-me quanto é, que eu pago! A seguir puxou as orelhas ao João e ficou por ali, porque, afinal ele estava apenas a cumprir uma tradição de Capelins!
Nesse ano, a serração da velha, foi mal sucedida e, no ano seguinte, na respetiva noite, parece que, a Ti Guilhermina dormiu sentada numa cadeira atrás da porta, com o penico aviado, à espera que a fossem serrar, mas não apareceu lá ninguém! A partir daí, ainda houve algumas serrações de velhas e velhos, também com maus resultados, por isso um pouco mais tarde essa tradição desapareceu nas terras de Capelins!
Este caso foi verídico, com mais ou menos estes acontecimentos, só não garantimos se o ano foi exatamente 1965, mas foi por aí, alguns nomes dos rapazes do grupo da serração da velha, hoje reformados, foram alterados e outros não foram mencionados porque facilmente seriam identificados!
Bem Hajam! Quanto à Ti Guilhermina, P.A.S.A.


Fim 



domingo, 3 de setembro de 2017

A Serração da Velha - Capelins

A Serração da Velha em Capelins

Esta tradição, muito antiga e de origem pagã, realizava-se na noite de quarta-feira antes do terceiro domingo da Quaresma, chamado domingo "laetare"!
A serração da velha pretendia renovar a vida! Grupos de rapazes iam a meio da noite às portas de mulheres idosas e apontavam-lhe os defeitos, verdadeiros ou imaginários, intimando-as a deixarem-lhe os seus bens! 
As idosas eram consideradas como bodes expiatórios e eram serradas para darem o lugar aos novos, por isso eram escolhidas as mais velhas das aldeias. Esta tradição secular assinalava o meio da Quaresma e acabava com o enterro da velha, representando o fim do tempo de penitência.
Nas terras de Capelins, um grupo de rapazes escolhia as idosas consideradas mais rabugentas e, que se encontravam mais indefesas, porque a serração da velha, muitas vezes acabava mal, mas havia algumas idosas que colaboravam e levavam isso como brincadeira e até contribuíam com alguns produtos para no fim da noite fazerem um petisco! Outras, ficavam muito ofendidas! As idosas deitavam-se muito cedo e a meio da noite começava a serração, simulavam serrar a velha com um serrote numa tábua e sempre com grande "lamúria", um elemento do grupo falava para a idosa e outro com voz semelhante à dela ia respondendo! Após cada defeito apontado, repetiam a frase: "Oh avó! O que deixa ao neto?" Outro elemento do grupo ou a idosa respondia: " O buraco do Cu aberto" e sempre a serrar na tábua! Muitas vezes eram os vizinhos que se zangavam, precisavam de dormir, porque tinham de se levantar de madrugada para trabalhar! A serração da velha era sempre uma grande paródia para os rapazes das terras de Capelins!
Era uma tradição pouco aceitável, mas este ato estava ligado à Igreja, celebrada sob a forma cristianizada da "Queima do Judas"!


Algumas quadras da Serração da Velha:

Estamos no meio da Quaresma,
sem provarmos o café.
Vamos serrar esta velha
para o altar de S. José."

"Estamos no meio da Quaresma,
sem vermos nado do teu amor.
Vamos serrar esta velha
para o altar de Nosso Senhor."

"Digo-te adeus, minha avozinha,
nesta noite tão lembrada.
Não tens nada que nos dar,
damos-te uma chocalhada." 



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