terça-feira, 13 de dezembro de 2022

O mistério da devoção da consagração dos recém nascidos, a Nossa Senhora, em Capelins

O mistério da devoção da consagração dos recém nascidos, a Nossa Senhora, em Capelins 

Após o nascimento de uma criança era comum ser batizada, sendo através deste Sacramento que a sua alma se tornava filha de Deus e membro da Igreja de Cristo, mas em Capelins, geralmente não se realizava antes da criança ser consagrada a Nossa Senhora e, os recém nascidos não podiam sair à rua antes de ser realizada essa devoção, que tinha de ser entre os trinta e os quarenta dias de vida.
A consagração das crianças de Capelins, podia ser na Igreja de Santo António, neste caso, a Nossa Senhora do Rosário, ou na Ermida de Nossa Senhora das Neves, e quem tivesse transporte ou forças para se deslocar a pé até Terena, a Nossa Senhora da Boa Nova, e ainda havia famílias que recorriam à Senhora, em cada uma destas Igrejas.
No dia da consagração, a criança era vestida de branquinho com algumas rendas, ia bem abafada e acompanhada pela mãe e por convidadas, quase sempre a futura madrinha, familiares, amigas chegadas e as avós que, assistiam ao ritual e ajudavam a preparar e a colocar a criança sobre o Altar de Nossa Senhora, que denominavam por, "encomendar a criança a Nossa Senhora" depois em oração pediam para a proteger, guiar na sua vida, livrar de todos os males e tentações e nunca esqueciam de pedir para as crianças, quando adultas, fossem bons trabalhadores e faziam algumas oferendas a Nossa Senhora, velas, uma esmola ou outra oferenda, dependia das posses económicas.
Esta devoção religiosa, como outras que faziam parte dos costumes tradicionais de Capelins, estava envolvida num dissimulado profanismo, ou seja, quando a mãe colocava a criança em cima do Altar de Nossa Senhora, tinha dois fins, o de a "encomendar" com o rito religioso, mas ao mesmo tempo, o profano, a mãe e as acompanhantes, faziam o teste da mansidão, ou seja: Se a criança ficasse imóvel e não tugisse nem mugisse, estava garantido que era "mansinha" e ia ser uma boa pessoa ao longo da sua vida, mas se acontecesse o contrário, decerto, seria mázinha para sempre, sendo uma grande preocupação dos pais e da sua família, por isso, uma semana antes da consagração, a mãe começava a treinar, ou seja, a "amansá-la", para no dia da "encomenda" a criança não estranhar e não começar a espernear e a chorar no Altar.
Quando o pequeno cortejo voltava da Igreja, as familiares e vizinhas corriam a interrogar a mãe, sobre a parte profana, ou seja, se quando colocaram a criança sobre o Altar de Nossa Senhora, ela tinha chorado, ou esperneado, queriam saber tudo o que tinha acontecido na Igreja e se a resposta não fosse, que a criança era "mansa", o comentário já estava preparado: "coitadinho/a, vai ser mauzinho ou mázinha, toda a vida", e a notícia depressa percorria a Aldeia e não era preciso ficar registado em nenhum livro, porque nunca mais esqueciam, e mais tarde, se a criança fosse rebelde, lembravam logo: "pois, não há-de ser velhaco/a, se ele/a quando o/a meteram em cima do Altar de Nossa Senhora parecia um bicho bravo, agora aí está!"
Os/as capelinenses de outrora acreditavam muito nessa parte profana, porque, por vezes, havia coincidências, e esses casos eram empolados, ficando esquecidos os que não interessavam para validar este presságio.
Fim
Texto: Correia Manuel 



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