sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

O mistério das Irmandades de Capelins

 O mistério das Irmandades de Capelins 

As Irmandades eram associações de leigos organizadas segundo determinados princípios muito rigorosos, próprios à sua natureza e função, que surgiram no Reino de Portugal nos finais da centúria de mil e quatrocentos, talvez, pouco depois, tenham surgido as duas Irmandades no Lugar de Ferreira, atualmente Neves, com a designação de Irmandade de Nossa Senhora das Neves e Irmandade das Almas Santas, as quais, no ano de 1758, já estavam extintas, passando para Santo António, uma vez que, no ano de 1758, existiam aqui, seis Irmandades, com as seguintes designações: Santo António; Senhora do Rosário; Senhora das Neves; Almas Santas; São Bento e Senhor Jesus, ainda podemos observar os cruzeiros, que demarcavam o Campo Santo, como também, o itenerário das procissões promovidas pelas seis Irmandades.

As Irmandades tinham por missão, essencial, a proteção e assistência, tanto material como espiritual aos seus membros e familiares mais próximos, como o apoio a viúvas e orfãos, ou seja, as Irmandades tinham obrigações para com a família do defunto, e também, faziam empréstimos aos respetivos irmãos, mas além disso, cabia à Irmandade zelar pelo culto do seu Santo patrono, bem como providenciar a execução de procissões e festas, assumindo os respetivos encargos e diligências. 

As Irmandades eram constituídas por pessoas da mesma família, vizinhos, classe social, ou até, em conformidade com as profissões, não sendo fácil alguém ser recebido na Irmandade desejada.

Como referimos, as Irmandades tinham várias missões, principalmente na área social e na espiritual, sendo a promoção e a proteção das pessoas a nível social, uma das mais significativas funções das Irmandades de Capelins, numa época em que as estruturas públicas de proteção individual eram inexistentes.

As Irmandades de Capelins, tinham, igualmente funções espirituais, adestritas aos seus propósitos essenciais, entre as quais, o reforço da vivência do cristianismo, através do estímulo à procura dos sacramentos, do culto da dimensão espiritual, e da promoção da vivência e representação de uma determinada concepção do divino. 

Todas as Irmandades tinham os seus estatutos, onde constavam as suas funções, códigos de conduta rígidos a observar pelos Irmãos da mesma, sob pena de sanções, ou em casos mais extremos, eram expulsos. 

Cada estatuto das Irmandades era, normalmente orientado em função da ação e devoção de cada uma, ou seja, se a Irmandade era dos lavradores de Capelins, sem esquecer as outras funções gerais de uma irmandade em termos religiosos, concentrava-se na proteção aos seus Irmãos lavradores, enquanto outras, detinham funções concentradas apenas no culto de uma devoção específica, por exemplo, o culto a Santo António ou a Nossa Senhora das Neves, a par da prática da caridade e da piedade cristãs. 

O Reino não perdia as Irmandades de vista, porque, algumas eram muito ricas e os seus bens eram cobiçados, por isso, periodicamente o Reino mandava fazer a inventariação dos se bens, até que, por Decreto de D. José I, foi efetuada mais uma inventariação e avaliação dos bens das irmandades, com a finalidade de proceder à sua extinção, na sequência da expulsão dos Jesuítas de Portugal, em 1759, passando os seus bens materiais, ou para a Santa Casa da Misericórdia ou para as respetivas Paróquias. 

As Irmandades de Capelins, eram pobres, não acumulavam dinheiro, propriedades, foros, pratas ou ouro, pelo que, não despertaram o interesse do Reino, ou do Marquês de Pombal e, embora fossem extintas, continuaram até muito tarde, a desempenhar a sua missão, ou parte dela, na clandestinidade, ou seja, secretamente, fazendo as suas reuniões durante a noite e sempre debaixo de grande misticismo, também, por isso, havia tantos medos, nas noites de Capelins. 

Fim 

Texto: Correia Manuel 

(Espanca; Túlio - Inventário Artistico de Portugal - Distrito de Évora - Pág. 30 e 31)

(Documentos Régios, A.N.T.T.) 


Cruzeiro de Capelins



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