quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Povoado do Forno da Cal - Capelins

Forno da Cal - Capelins
Povoado do Forno da Cal - Proto - História - Idade do Ferro - 2.500 anos

Paisagem: Instala-se sobre uma pequena rechã, adjacente ao Guadiana, com escasso domínio de paisagem e reduzido potencial agrícola.
Estruturas: Detectaram-se dois muros rectilíneos justapostos, construídos em blocos de quartzo e lajes de xistos, de médio e grande calibre. Adjacente a estes, registou-se a presença de um roço aberto no substrato rochoso, definindo uma área de planta rectangular, com cerca de dois metros quadrados, associado a um conjunto de cerca de uma dezena de buracos de poste; trata-se provavelmente de uma construção em materiais perecíveis, eventualmente relacionada com actividades pecuárias.

Artefactos: O conjunto artefactual é bastante escasso, constituído exclusivamente por fragmentos cerâmicos e um cossoiro.
Cronologia: Séc. VI-V a.C.



terça-feira, 27 de novembro de 2018

Povoação da Proto - História - Idade do Ferro - 2.500 anos Malhada das Taliscas - Herdade do Roncanito - Capelins

Povoação da Proto - História - Idade do Ferro - 2.500 anos
Malhada das Taliscas - Herdade do Roncanito - Capelins

Paisagem: Localiza-se numa ampla rechã adjacente ao Guadiana, com escasso controlo visual sobre a área envolvente.
Nas imediações, surgem algumas pequenas manchas de solos agricultáveis.

Estruturas: A intervenção permitiu detectar dois conjuntos
arquitectónicos de planta ortogonal, resultantes, aparentemente, de um único momento construtivo, num total de mais de um centena de metros quadrados de área coberta. Em termos técnicos, os edifícios são construídos em lajes de xisto, disponível no local, de médio e grande calibre, dispostas na horizontal, apresentando, por vezes, uma construção bastante cuidada.
O conjunto edificado de maiores dimensões é composto por dois agrupamentos de edifícios dispostos perpendicularmente entre si; o maior, é composto por um grande compartimento alongado, com uma porta virada a Sul, e, dispostos perpendicularmente a este, dois ou provavelmente três outros compartimentos, um dos quais aparentemente relacionado com a armazenagem, atendendo à presença de ânforas. Perpendicularmente a este edifício desenvolve-se, encostado ao seu canto SW, um corpo arquitectónico composto por três, ou quatro, pequenos compartimentos consecutivos.
Ligeiramente afastado daquele conjunto arquitectónico, existe um grande edifício de planta quadrangular, aparentemente isolado, de construção cuidada e porta axial virada a Nascente. O interior apresentava-se bipartido longitudinalmente, com um pavimento em grandes lajes de xisto, na metade Poente. A sequência de três muros
separados por uma curta distância, detectada no canto NW, poderá indiciar a presença de um espaço relacionado com a armazenagem elevada, provavelmente de cereais.

Artefactos: O conjunto artefactual é composto maioritariamente por cerâmica, mas contemplando igualmente recipientes de vidro e artefactos metálicos. A cerâmica
é composta por cerca de 65% de recipientes a torno, correspondendo a uma gama variada de formas abertas e fechadas, nomeadamente taças de bordo simples e potes
de colo estrangulado, por vezes asados (asas de cesto, cabaz, jarro, entre outras), a par de ânforas tipo CR-I, de produção aparentemente regional. A cerâmica de produção
manual é, igualmente, composta por uma gama variada de formas abertas e fechadas; estas constituem o principal suporte das diversas gramáticas decorativas, como pequenas incisões sobre o bojo ou linhas quebradas. Registou-se a presença de um grafito; trata-se de um pentagrama, aplicado antes da cozedura, no fundo de um recipiente a torno. 
Os recipientes de vidro estão representados por dois fragmentos, de cor azul e amarela, ou amarela, verde e azul, eventualmente do mesmo recipiente. Os artefactos
metálicos são escassos correspondendo, aparentemente, a um peso e a uma agulha.

Cronologia: Séc. V a.C.
Arqueólogos:
Manuel Calado*
Rui Mataloto**
Artur Rocha***

Malhada das Taliscas - Capelins 


Resenha histórica de Capelins Povoação da Cinza - proto - história - Idade do Ferro - 2.700 anos



Resenha histórica de Capelins 
Povoação da Cinza - proto - história - Idade do Ferro - 2.700 anos

Moinho da Cinza - Capelins 


Paisagem: Implanta-se sobre uma pequena elevação adjacente ao Guadiana, encaixada entre relevos mais destacados que limitam bastante o controlo visual, dominando, todavia, um vau que lhe fica fronteiro. Toda a envolvente apresenta um escasso potencial agrícola.

Estruturas: Foram unicamente detectadas estruturas negativas, nomeadamente um buraco de poste, uma lareira e um silo, todos escavados no substrato rochoso. Este, de
planta ovalada e cerca de 1 m de profundidade, constitui a única estrutura de armazenagem subterrânea registada. Foram, no entanto, observadas concentrações de lajes
de xisto que devem corresponder a embasamentos de muros desmantelados.

Artefactos: O conjunto é dominado pela presença de formas de produção manual, de perfil em “S”, de que se destaca uma forma afim dos vasos “à chardon”. Foi registada a presença de decoração “cepillada”, aplicada sobre recipientes de grande dimensão. As formas a torno estão representadas, igualmente, e entre outras, por formas de perfil em “S”; de realçar é a presença de um pithos claramente de importação,
com asa bífida, associável, nos contextos do Sul peninsular, a cronologias do séc. VII a.C. (Fig. 15).

Cronologia: Séc. VII a.C
Arqueólogos:
Manuel Calado*
Rui Mataloto**
Artur Rocha**

Povoado do Moinho da Cinza - Capelins 


Povoações da Proto História (Idade do Ferro) nas terras de Capelins 
Casa da Moinhola - Capelins - 2.500 anos

Paisagem: Localiza-se na extremidade nascente de um pequeno cabeço alongado, de vertentes declivosas, sobranceiro ao Guadiana. O ligeiro destaque na paisagem
confere-lhe algum controlo visual sobre vários quilómetros do curso do rio, tanto para montante como para jusante. Insere-se numa área de fraco potencial agrícola.
Estruturas: Registou-se um conjunto edificado, disperso pelo topo e encosta Sul do cerro. As estruturas, de planta ortogonal, fizeram uso da matéria-prima disponível
no local, maioritariamente grandes blocos de quartzo, utilizando-se, para regularizar o muro, lajes de xisto de médio e grande calibre. Foi possível detectar a presença de
um grande compartimento rectangular, com cerca de dezasseis metros quadrados, adjacente ao qual se desenvolviam vários compartimentos quadrangulares, que não foi possível delimitar por completo. O facto de algumas das estruturas serem instaladas numa encosta declivosa implicou o reforço das construções e a edificação de possíveis muros de contenção de terras.
Artefactos: O conjunto artefactual é composto exclusivamente por cerâmica, 55%, da qual produzida a torno, estando representadas as taças de bordo simples ou espessado,
por vezes com carena, e os potes de bordo extrovertido; as produções manuais são essencialmente formas fechadas para preparação/confecção de alimentos: É sobre estas que surgem os escassos motivos decorativos, como pequenas incisões sobre o lábio ou sobre a parede, estando também presentes duas estampilhas, circulares com motivos raiados; estão igualmente atestados diversos elementos de preensão como as asas cegas ou de ferradura. Foram ainda recolhidos artefactos relacionados com a tecelagem: cossoiros e pesos de tear.

Cronologia: Séc. VI-IV a.C.
Arqueólogos:
Manuel Calado*
Rui Mataloto**
Artur Rocha*** 



Povoado de Miguéns - Capelins Povoação da Proto História - Idade do Ferro - 2.800 anos.

Povoado de Miguéns - Capelins
Povoação da Proto História - Idade do Ferro - 2.800 anos. 

Paisagem: Localiza-se sobre uma pequena elevação sobranceira ao Guadiana, de solos esqueléticos, com reduzida capacidade agrícola. Apesar de pouco destacado,

controlava visualmente vários quilómetros do curso do rio.

Estruturas: A intervenção permitiu verificar a presença de dois compartimentos, de planta quadrangular, contíguos, um com mais de dez metros quadrados e outro de dimensões bastante menores, tendo sido apenas parcialmente delimitados. Em termos técnicos, os muros encontravam-se construídos quase exclusivamente em blocos de quartzo de médio e grande calibre, bastante irregulares.

Artefactos: O conjunto artefactual é escasso e exclusivamente de produção manual; as formas de perfil em “S” dominam, estando atestadas as decorações incisas aplicadas sobre a parede dos recipientes. Será de realçar a presença de um número relativamente elevado de cossoiros ou contas de colar em cerâmica; na realidade, a separação entre ambos não resulta fácil nem linear, não sendo o perfil ou a largura
da perfuração elementos determinantes, pelo que no conjunto recolhido poderemos ter ambos os artefactos representados.

Cronologia: Finais do séc. VIII e parte do séc. VII a.C
Arqueólogos:
Manuel Calado*
Rui Mataloto**
Artur Rocha***


Miguéns 





Espinhaço de Cão - Defesa de Bobadela - Capelins Povoação da Proto história - Idade do Ferro - 2.500 anos

Espinhaço de Cão - Defesa de Bobadela - Capelins 
Povoação da Proto história - Idade do Ferro - 2.500 anos

Paisagem: Implanta-se sobre o topo e encosta Sul de um destacado esporão, sobranceiro ao Guadiana, apresentando grande controlo visual sobre o curso do rio, a jusante. Integra-se numa área particularmente pobre, em termos agrícolas.
Estruturas: O conjunto arquitectónico apresenta-se bastante amplo e complexo, contando com várias centenas de metros quadrados de área edificada e mais de uma dezena de compartimentos de planta ortogonal, distribuídos aparentemente em torno de dois pátios interiores. O edificado apresenta um complexo faseamento interno, com destruição e aproveitamento parcial das estruturas mais antigas. Todavia, o processo aditivo das construções parece denunciar a sua consolidação e expansão ao longo da diacronia de ocupação. Identificaram-se grandes compartimentos rectangulares, com mais de uma dezena de metros quadrados, abertos a nascente, a par de outros de planta quadrada, nos quais surgem claros indícios de diferenciação arquitectónica. Um destes compartimentos possui uma caleira central e pavimento em grandes lajes de xisto; no outro caso, o edifício quadrado apresenta uma primeira fase um amplo vão virado a nascente, com um piso de argila vermelha e uma pequena estrutura de fogo de planta quadrangular, em adobe, sobrelevada em relação ao piso, adjacente a um banco igualmente em adobe, adossado ao muro do edifício; num segundo momento, estas estruturas foram amortizadas, tendo sido alteado o piso e construída, no exterior, uma escadaria de acesso, com pelo menos três degraus. Foi registado apenas um compartimento de planta subcircular.
Identificaram-se diversos equipamentos construídos no interior e exterior dos compartimentos, como bancos/poiais, escadarias, caleiras de escoamento de água, lareiras, entre outras funcionalmente indefinidas. A par destas, surgiu, no interior de um com­partimento, aparentemente aberto do lado nascente, uma estrutura de planta subcircular, com cerca de 2,5 m de diâmetro, maciça, constituída por blocos de média e grande dimensão, sobreposta por um piso em seixos de quartzito e uma cobertura em barro cozido.

Cronologia: Finais do séc. VII a.C.-inícios do séc. V a.C.
Manuel Calado*
Rui Mataloto**
Artur Rocha***

Povoação de Espinhaço de Cão - Capelins 



segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Os Moinhos do rio Guadiana nas Terras de Capelins

Os Moinhos do rio Guadiana nas Terras de Capelins 

Em Montes Juntos, aldeia que serviu de residência a diversos moleiros, os moinhos do Guadiana são o motivo central de um memorial erguido junto ao antigo posto da Guarda Fiscal, mas também de quadras feitas por residentes recentemente colocadas nas paredes do casario em redor do edifício.

Azenhas D' El-Rei

A Azenha dEl Rei de fora teve um aferido com uma cobertura temporária, de mato, que, no século XX, foi substituída por uma cobertura de cimento.
Já a Azenha d’El Rei de dentro dispunha de uma abertura ou janela na sua parede divisória interior, correspon-dente à linha de fronteira entre Portugal e Espanha, que, segundo um antigo moleiro de Cabeça de Carneiro, José Glórias, foi encerrada por ocasião da Guerra Civil de Espanha (1936-1939).

Os acarretadores dos Moinhos 

Alguns moinhos do Guadiana tinham acarretadores e até mais de um, da casa, mas outros não tinham, na medida em que, como disse um antigo moleiro de Montes Juntos, Venâncio Silva, no contexto de uma conversa informal em 1997-1998, «a maioria [dos moleiros] não tinham carroças» ou qualquer outro meio de transporte de cargas de certo volume.

As guias no Posto da Guarda Fiscal de Montejuntos 

Os fregueses dos Moinhos das terras de Capelins, eram obrigados a fazer-se acompanhar de uma guia de transporte emitida pela Guarda Fiscal, de modo a que o transporta-do não fosse considerado contrabando. Da mesma maneira que os moleiros tinham que declarar às autoridades aduaneiras as existências – animais e bens – que possuíam junto ao moinho:
«Cinco quilómetros desviado da Guadiana para lá não se podia ter nada sem uma guia do posto da Guarda Fiscal. Fossem gali-nhas ou porcos. À saída, tinha que se vir dar baixa; se morresse algum animal, tinha que vir dar baixa. Era uma guia passada ali no posto de Montes Juntos. Mesmo esses que andavam carre-gando para lá, os maquilões, tinham que ir ao posto tirar uma guia. Até 300 quilos, pagavam-se 15 tostões; em passando os 300 quilos, eram
25 tostões. Houve um homem que levava 400 quilos e foi ao posto e disse que só levava 250; mas um guarda desconfiou e foi lá ao carro, fê-lo pesar. Mamou 500 mil reis de multa porque levava mais. Esse homem era de Ferreira [de Ca-pelins]. Isso há já quase 50 anos. Quinhentos mil reis que pagou e depois teve que levar a guia. Ele ia com a parelha do pai, ia para os Moinhos Novos de Cima» (José Glórias, antigo moleiro de Cabeça de Carneiro, entrevistado em 1994-1995.

Apesar do isolamento, os moinhos eram importantes locais de convergência, sendo usual o facto de neles ou nas suas imediações se encontrarem pessoas, incluindo fregueses, lavadeiras, pastores, maiorais de gado, pescadores e, nalgumas zonas, mendigos, sobretudo no Verão:

«A Guadiana, naquele tempo, andava muito mais acompanhada que anda hoje. Uma grande diferença. Hoje, se lá for, é raro encontrar uma pessoa e antes era a todo passo. Em todo o sítio aparecia família. Desconfio até que os maiorais diminuíram. Chegava-se ali a El Rei [ao moinho], em meu tempo, em vindo o Verão, estava sempre povoado de família. Ali no Bolas e na Cinza [era] igual. Ou família de maiorais ou mulheres de maiorais, a família que ia para ali a lavar [a roupa] ou a arranjar uma coisa de moitas ou buinho ou junça. Em vindo o Verão, havia sempre gente. (E do lado de Espanha também) Também havia quem fizesse isso, mas era menos; só ali à do Pijin [pescador de Cheles]. Havia muitos daqui que iam para lá só para ver banhar as espanholas, elas sabiam banhar bem» (Venâncio Silva, antigo moleiro de Montes Juntos, entrevistado em 1994--1995»). 

Durante e após a Guerra Civil de Espanha, parte destes moinhos foram ainda muito procurados por habitantes do outro lado da fronteira luso-espanhola para aquisição, não só de farinha, mas também de outros géneros alimentares que os moleiros tinham em depósito junto ao rio, como café, açúcar e arroz, e que podiam vender desde que tivessem o respetivo despacho emitido pela Guarda Fiscal. Nas palavras de um antigo moleiro de Montes Juntos, Venâncio Silva, proferidas numa conversa informal em 1997-1998:

«Os moinhos trabalhavam ali todos. Eu, na Moinhola, tinha lá sempre três mós a moer dia e noite; tinha alturas de nem ir à cama. E havia ali uma convivência muito grande com os espanhóis. Quando foi lá da miséria deles por causa da guerra, quem lhe valeu foi a gente. Vinham ali aqueles espanhóis e aquelas espanholas a comprar farinha, açúcar, café, arroz… bom, os artigos que a gente lá tinha no depósito; fazíamos um despacho e já podíamos vender aos espanhóis e eles vinham ali comprar».

Segundo Maria Olímpia da Rocha Gil (1965:184), em finais do século XV e durante o século XVI, havia moinhos dependentes da Coroa em diversos concelhos do Alentejo, nomeadamente, Alcácer do Sal, Monsaraz, Terena. 

Como já era do nosso conhecimento os Moinhos das Azenhas D' El-Rei em 1600 e parte de 1700 eram da Coroa, do Rei, mas nos finais de 1700 já os encontramos em mãos de particulares, porque, quando o Rei estava crivado de dívidas, tinha de vender estes bens.
Como já referimos, o nome dos Moinhos têm a ver com o nome dos seus proprietários, fosse em nome individual, fosse de uma Instituição, como a Misericórida, Ordem, Almoxarifado ou outros, veja-se estes, que não ficam nas terras de Capelins, mas vizinhos:
"O Moinho do Boi no Guadiana deverá o seu nome a Maximiano Gonçalves Boy, lavrador do termo de Monsaraz e tesoureiro do fisco real em 1738, que teria tomado o moinho por aforamento à Casa de Bragança, que, segundo apurámos, também era proprietária dos moinhos do Meirinho.

Tal como o Moinho do Bufo, foi do Lavrador de Santa Luzia e também lavrador na herdade do Pego do Bufo daí o nome, o qual morava no Alandroal.

Veja o que conta o ti José Glórias, Moleiro, da Aldeia de Cabeça de Carneiro: 
Houve casos em que o aproveitamento das águas do Guadiana durante o estio foi objeto de discórdia, como sucedeu entre o dono do Moinho Novo de Cima e o dono do Moinho Novo de Baixo no século XIX.:
«[Os donos] andaram em demanda e aquele de Baixo é que se matou pelas mãos dele. Porque o de Cima tem três aferidos e o de Baixo tem dois e, então, devia dar dois dias de água ao de Baixo e três ao de Cima. O juiz procurou qual a fazenda que tinha mais valor, lá lhe disse que era o de Cima e, então, deu 18 horas para o de Cima e 6 horas para o de Baixo, três dias para o de Cima e um para o de Baixo. Era na falta de água, o de Cima moía três dias e o de Baixo só um, foi decretado pelo tribunal. Isso não foi no meu tempo, foi no tempo de meus avós» (José Glórias, antigo moleiro de Cabeça de Carneiro, entrevistado em 1994-1995).


Como já tinhamos referido, devido à falta de água no Rio Guadiana o Moinho das Azenhas D' El-Rei de fora tinha um motor a diesel para poder moer durante o verão! 

"Mais recentemente, em meados do século XX
, para obviar à falta de água no Guadiana, alguns moinhos foram equipados com um motor de explosão adaptado a um casal de mós, como ocorreu no Moinho das Azenhas D' El-Rei e outros. Em alguns casos, como nos Moinhos do Caneiro e nas Azenhas de Fagundes, para não permanecerem inativos durante as invernadas, esse mesmo motor (a diesel) foi posteriormente colocado junto à casa do moleiro, situada a meia chapada, mimetizando aquilo que havia sido feito de início na Azenha d’El Rei de fora." 

Alguns proprietários dos Moinhos do rio Guadiana nas terras de Capelins 

- O proprietários do Moinho de Miguéns foi Francisco Martins Malato, nascido em São Marcos do Campo e residente no Outeiro, Monsaraz, que o herdou do sogro.
- José Glórias, antigo moleiro de Cabeça de Carneiro que adquiriu o Moinho do Bolas na década de 1950. 
- Domingos Pinto, antigo moleiro de Monsaraz, cujo pai, também moleiro, possuía o Moinho de Calvinos. 
- José Pires Gonçalves (1961-1962) faz saber que o Moinho do Gato «tomou o nome de Pedro Gato, almoxarife em Monsaraz, que, por morte do enfiteuta Manuel Fernandes, falecido sem herdeiros e crivado de dívidas, o tomou por aforamento de 2.500 reis anuais em 18 de Dezembro de
1715.

«Vinha o freguês e perguntava de caldeiradas. O Manuel, que era o mais velho, ou eu íamos a ver de peixe. Fazíamos uns cevadouros, eh, vinham aquelas tarrafadas cheias de peixe. Fazíamos a caldeirada e, depois, sentávamo-nos de roda de um alguidar grande, um barrenhão, que tínhamos e tudo de roda da mesa. Eu era o mais novo, era sempre o castigado. Eu ficava ao serviço e eles a comer e a beber. Até que cheguei aos 22 ou 23 anos, di-go-lhes aqui assim:

‘ó rapazes, isto não tem sentido nenhum, agora passa a ser de doutra maneira; em havendo aqui uma pân-dega de vinho, um dia eu, outro dia tu e outro dia o outro’ . Trabalhávamos lá os três. Bom, assim foi. Mas os meus irmãos não tinham sentido para aquilo, eu estava cá sentado:
‘Zé, vai lá a ver que a farinha não vai boa’» (José Ramalho, antigo moleiro de Montes Juntos, entrevistado em
1994-1995).

O ofício de moleiro

«Era um ofício como outro qualquer, conquanto era muito traba-lhoso [e] muito sujo. Tinha que se andar todo o dia carregando sacos de um lado para outro, uns mais pesados, outros mais leves, conforme quanto tinham. Ah, era a vida da gente» (José Rito, an-tigo moleiro de Montes Juntos, entrevistado em 1994-1995).

«No Inverno, não se podia trabalhar nos moinhos da Guadiana porque os moinhos estavam debaixo de água […] (O que fazia nessas alturas?) Ia moer para o moinho do Inchado no Lu-cefecit. (O que levava?) Só levava, num carro, numa carroça, de frete, algumas coisas para trabalhar, para poder joeirar os trigos e amanhar... Levava a roupa e uma panela, pronto. Era só quase abrir a porta. Estava tudo preparado. O que pertencia ali ficava lá tudo, cambeiros e isso. Eu ficava lá até que a Guadiana baixasse. Quando o Lucefecit enchia, ali meio dia, esperávamos ali que ela baixasse. A Guadiana levava meses. […] Dormíamos lá dentro do moinho, fazíamos lá o comer e tudo. Estava lá mais um companheiro, estava lá por minha conta, eu pagava-lhe dinheiro [de jornas] e dava-lhe de comer» (Venâncio Silva, antigo moleiro de Montes Juntos, entrevistado em 1994-1995).

Era necessária carta profissional para ser Moleiro?

Quando foi perguntado se para exercer o ofício de moleiro era preciso ter carta profissional ou de examinação, Venâncio Silva, antigo moleiro de Montes Juntos, declarou numa conversa informal junto à lareira da sua casa em 1997-1998:
: «Não, não havia lá cartas nenhumas. Era aquele que era capaz, fazia e pronto. Eu senti-me capaz com 17 anos, tomei conta daquilo tudo [o Moinho da Moinhola]».
Os fregueses dos Moinhos podiam ser de localidades muito distantes, havia a presença de fregueses do Redondo e de terras mais distantes nos Moinhos do Bolas e da Moinhola, perto de Montes Juntos.
Havia lavradores que recrutavam moleiros a troco das chamadas «comedorias», inclusive quando os moinhos moíam apenas cereais da respetiva casa de lavoura, o que chegou a suceder, por exemplo, no Moinho do Gato! As comedorias eram o vencimento quinzenal ou mensal dos trabalhadores concertados, isto é, dos trabalhadores rurais que eram anualmente contratados pelas casas de lavoura

– como os carreiros, os guardas das herdades, os feitores, os maiorais do gado, os pastores e os moleiros – a troco de géneros: trigo, azeite, grão, morcela, toucinho, vencimento esse que era complementado pelo designado «ensacado», vencido no fim do ano de trabalho, que normalmente coincidia com o dia de Santa Maria, 15 de agosto.


Com as publicações sobre os Moinhos do Rio Guadiana nas terras de Capelins, é intenção dos Amigos de Capelins, prestarem uma singela homenagem aos homens e mulheres que se dedicaram a esse ofício de "Moleiro" e, a ele ligados, mas foi graças aos seus testemunhos e à publicação do Livro de Luís Silva "Os Moinhos e os Moleiros do Rio Guadiana" que conhecemos e demos a conhecer algumas coisas sobre a referida atividade! Bem hajam! 
(Adaptado e partes do livro Os Moinhos e os Moleiros do Rio Guadiana de Luís Silva)

Moinho das Bolas











sábado, 10 de novembro de 2018

Os Almoxarifes e o Almoxarifado do Concelho de Terena 1325 
Entre outros Almoxarifes do Termo (Concelho) de Terena surgem Rodrigo Eanes e Afonso Martins. Em 1341, numa carta de arrematação feita ao Rei, não só obtemos informação sobre o então Almoxarife Rodrigo Eanes, mas também sobre os anteriores Almoxarifes de Terena, Estevão Domingues Panóias e João Anes. A carta apresenta-nos uma situação de licitação de bens organizada por Martim Domingues, sacador das dívidas do Rei, e por Afonso Corda, pregoeiro do Concelho, em que, feitas as arrematações por Martim Domingues, este devia entregá-los a Rodrigo Eanes. Em 1342, D. Afonso IV recebe conto e recado de Afonso Martins, Almoxarife de Terena entre 1 de Março de 1340 e 26 de Fevereiro de 1341. O monarca, tendo considerado que ele lhe deu "boom Conto e boom Recado de todo Assy como per partes he conteúdo en hua sa racadaçom, após o seu registo nos Contos e a sua escrituração no liuro (livro) que chamam terceiro d além Teio (Tejo ), deu-o por livre e quite, bem como an seus sucessores, para sempre". 

Foi assim que ficamos a saber quem foram ao Almoxarifes do Concelho de Terena durante o reinado de D. Afonso IV, assim como, a existenência do dito Almoxarifado. 
Está registado no terceiro livro d' Além Tejo - Chancelaria de D. Afonso IV. Arquivo Nacional da Torre do Tombo.

Almoxarifado era o "Serviço de Finanças do Reino"
Um almoxarifado era uma divisão administrativa fiscal, geralmente extensa, existente em Portugal na Idade Média. A maior parte dos almoxarifados tinham a sua sede numa cidade importante, como era o caso de Lisboa, Porto, Coimbra, Leiria, Guimarães, etc., e todos estavam a cargo de um almoxarife, o qual era um funcionário real que era responsável pela cobrança e arrecadação de impostos.
Ao consultarmos o mapa dos Almoxarifados verificamos que, não existiam muitos no Reino, é por isso muito estranho, ter sido criado por D. Afonso IV um Almoxarifado na Villa de Terena, cerca de 1325! Segredos do nosso Concelho!
Carta de Criação de Almoxarifado - D. Afonso IV 


segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Escritura de Casa na Capeleira - Capelins 1795

Escritura de Casa na Capeleira - Capelins 1795

Como referimos, esta Escritura de compra/venda de umas casas no Monte da Capeleira, foi feita no Cartório Notarial de Terena em 1795 e, nela, tal como em outras, feitas muito antes desta data, está batido e rebatido que o Monte da Capeleira fica situado no Termo (Concelho) de Terena, ou seja, na Vila de Ferreira, Termo da Vila de Terena, por ser este o Termo (Concelho) Régio, com as Instituições e Foral.

O Concelho de Ferreira, apenas permitia a participação da população no governo da Vila, através da Câmara, no sentido de proporcionar bem estar económico e social à comunidade, semelhante a uma Associação! 
Há muitos anos que temos conhecimento da sua existência, logo, seria impensável colocá-lo em causa, mas sim, as suas competências em relação ao Termo de Terena, ao qual a Vila de Ferreira sempre pertenceu.

Veja-se a diferença entre o Termo de Terena e o Concelho de Ferreira
O termo concelho, que aparece em documentos a partir do século XIII, começou por designar, na Idade Média, a assembleia deliberativa dos vizinhos de uma povoação, constituída em território de extensão muito variável. Tal assembleia exercia a sua autoridade resolvendo questões de economia local e elaborando normas gerais.
Apesar de a origem dos concelhos ser muito discutida, prevalece atualmente que terão surgido do próprio condicionalismo da sociedade da Reconquista, resultando de fatores de ordem económica, social, política e militar. Desta forma, é feita distinção entre os concelhos rurais e os concelhos urbanos. Os primeiros eram constituídos por pequenos grupos de povoadores, cuja autonomia é possível perceber nas cartas de povoação pela referência a magistrados que podiam ser eleitos pelos vizinhos. Os concelhos urbanos dividiam-se em burgos, ou seja, povoações constituídas junto de uma fortaleza onde viviam pessoas dependentes do poder senhorial e cuja carta de foral concedia aos seus moradores igualdade de direitos, e, por outro lado, em concelhos em que a figura dominante era o cavaleiro-vilão, tratando-se, na maior parte, de territórios fronteiriços.
A concessão das cartas de foral foi aumentando sempre, até que nos fins do século XIV o próprio regime municipal entrou em crise, o que foi causado, em grande parte, pelo desenvolvimento económico do país. Os antigos forais, adaptados a uma sociedade quase inteiramente dominada pelas necessidades da guerra, já não satisfaziam as populações concelhias, que eram agitadas pela formação de bandos ou partidos que disputavam o seu governo. Daí que o poder central passasse a exercer uma ação fiscalizadora mais intensa, promovendo a reforma da ordem interna dos concelhos e nomeando juízes estranhos à comunidade, chamados juízes de fora. Apareceram também, no quadro das magistraturas municipais, novos funcionários de carácter administrativo, os vereadores, que, ao poder tomar decisões sem reunir a assembleia de homens-bons, a controlava muito mais eficazmente. Desta forma, estavam lançadas as bases da reforma dos organismos municipais do país, que, ao longo de vários séculos, tendiam cada vez mais a uniformizar-se. De facto, durante todo o século XIX procurou-se revitalizar as instituições municipais, suprimindo-se concelhos pobres e remodelando-se circunscrições. 

Escritura da Capeleira (1 folha)


Povoado de Miguéns - Capelins - 5.000 anos

  Povoado de Miguéns -  Capelins - 5.000 anos Conforme podemos verificar nos estudos de diversos arqueólogos, já existiam alguns povoados na...