domingo, 7 de setembro de 2014

A Visitação de um Clérigo em 1534 à Igreja de Santa Maria de Ferreira - Neves

A Visitação de um Clérigo em 1534 à Igreja Matriz de Santa Maria de Ferreira 
A história das terras de Capelins é conhecida desde a pré história, existe documentação referente ao estudo dos vestígios arqueológicos encontrados nesta Freguesia e, classificados por especialistas em arqueologia do IGESPAR e da Empresa de Infraestruturas de Alqueva - EDIA, quando foi efetuado o Levantamento Arqueológico e Patrimonial de Alqueva e de outros arqueólogos participantes no levantamento da Carta Arqueológica do Concelho de Alandroal. Alguns artefactos encontrados no levantamento arqueológico e patrimonial de Alqueva, são da idade da pré história, passando pelo período Neolítico e Calcolítico que, pode ser considerado entre 10.000 anos antes de Cristo até 3.000 antes de Cristo, e pelo período medieval,  até ao Cristianismo. Também foram encontrados vários povoados (Aldeias) daquelas épocas no Vale da Ribeira de Lucefécit e no Vale do rio Guadiana nesta Freguesia.
Conseguimos conhecer parte da história das terras de Capelins, através da consulta de documentos via on line no site do Arquivo Nacional da Torre do Tombo (ANTT), no Arquivo Distrital de Évora, Arquivo Distrital de Portalegre, Registos Paroquiais e, em livros de autores como Túlio Espanca e outros especialistas que, fizeram estudos arqueológicos nesta região. 
Conforme é descrito por Túlio Espanca, no ano de 1534 foi efetuada uma visita por um clérigo da Diocese de Évora, existindo um relatório, na Biblioteca Publica de Évora, (Livro da Visitação de 1534) à Igreja Matriz de Santa Maria de Ferreira, a qual, parece que, estava edificada no lugar onde se encontram as sepulturas escavadas na rocha, junto à Ermida de Nossa Senhora das Neves, mandada construir pela Família Riba de Vizela, cerca de 1262, donatários da Vila de Terena até Dezembro de 1312. 
Por analogia com outros relatórios dos Clérigos, com a mesma data, referentes a Paróquias vizinhas, (por exemplo do antigo Concelho de Monsaraz) a que já tivemos acesso, nesses relatórios, o inquérito era dividido em duas partes, na parte espiritual que se referia ao número de fregueses, quantos assistiam às missas, e o números de missas, e a parte temporal que era tudo sobre a Igreja, as Capelas existentes e seus comendadores, sobre as instalações gerais e mobiliário. O visitador, indicava o que tinha de ser corrigido e o limite em termos temporais. 
Assim, consideramos este documento muito importante para nos dar a conhecer como se vivia nas terras de Capelins nessa época de 1534. 
Pensamos que, o clérigo não encontrou a referida Igreja nas melhores condições, nem na parte espiritual nem na temporal, porque, parece-nos que, pouco tempo depois foi criada a Paróquia ou Freguesia de Santo António, com padroado real, ou seja, propriedade do Reino. 

Texto: Correia Manuel

Era neste lugar que ficava situada a Igreja Matriz de Santa Maria de Ferreira de 1314, sendo substituída pela Ermida de Nossa Senhora das Neves nos finais da centúria de 1600.



Ermida de Nossa Senhora das Neves em Capelins, antes da reconstrução de 2019


sexta-feira, 5 de setembro de 2014

A descida do vale da Ribeira de Lucefécit em Capelins

A descida do vale da Ribeira de Lucefécit em Capelins
Porta do Rosário (Vila de Ferreira Romana) à Porta D' El-Rei
Este circuito, inicia-se no limite Norte/nordeste da Freguesia de Capelins - Santo António, junto à mina de ferro, designada por Algar de água, ao Forte e Vila de Ferreira Romanas, do século I/II d.c. na herdade da Defesa de Ferreira de Cima, em frente às Águas Frias, onde, também foram encontrados vestígios de ocupação da Idade do Ferro. 
Descendo junto à margem direita da Ribeira de Lucefécit, ou seja, Albufeira de Alqueva, a cerca de 500 metros, era o Porto Romano das Águas Frias de baixo, que tinha passadeiras, talvez dessa época, tal como o Porto de pedra cruzada e piso muito firme, encontram-se submersas.
Mais abaixo, a cerca de 250 metros, encontra-se o Moinho Velho, ou Moinho do Velho, como alguns ancestrais lhe chamavam, decerto, dos primeiros Moinhos que foram construídos nesta região, diziam que, podia ter ligação às minas romanas de Ferreira, para triturar o minério, ninguém o conheceu a funcionar e esta informação já vinha de geração em geração, era um Moinho de roda horizontal exterior com ligação ao aferido, movido através de água canalizada a partir da dita Ribeira, de onde a água saía por um canal a montante, voltando a entrar na Ribeira a jusante do Moinho, conforme contavam os mais antigos, também se encontra submerso.
A cerca de 600 metros mais abaixo, um pouco antes do Ribeiro das Neves, que corre ao longo do vale de Enxofre, está o Moinho das Neves que, ainda funcionava no decénio de 1960, sendo o moleiro, talvez o último, natural da Aldeia de Cabeça de Carneiro, este Moinho trabalhava até Março/Abril, enquanto existisse água suficiente na Ribeira, canalizada por um açude que ligava as duas margens e, também servia para a passagem de pessoas para um e outro lado, principalmente de, e para a herdade de Santa Luzia.
Neste Moinho de roda horizontal, com apenas um aferido, assistimos algumas vezes ao fabrico da farinha, que era feita de forma muito simples e ecológica. 
O Moinho das Neves, encontra-se submerso, assim como a referida casa, a qual, veio à tona pela primeira vez após o enchimento da barragem, no ano de 2018, já com a cobertura do telhado, parcialmente desmoronada, apenas tinha algumas telhas e os paus e ripas de suporte das telhas.
Continuamos a descer e se nos afastarmos um pouco à direita, subindo o Ribeiro das Neves, a cerca de 200 metros fica a Necrópole, no lugar onde estava implantada a Igreja Matriz de Santa Maria de Ferreira, talvez construída pela Família Riba de Vizela após 1262, depois nos finas de 1600 foi aqui construída a Ermida de Nossa Senhora das Neves.
Neste sítio era o antigo Lugar de Ferreira Medieval, integrado na Vila de Ferreira fundada por D. Dinis em 1314. 
Mais acima, à direita fica situado o Monte de Ferreira, o que resta do referido Lugar de Ferreira, embora de construção recente, e dois silos comunitários, ou cisternas, um deles, foi descoberto recentemente em 2018, no alto do Monte de Ferreira, quando, algumas pessoas faziam a colheita da azeitona e o outro na mesma linha, mas nas terras da herdade da Defesa de Ferreira.
Daqui, podemos voltar à margem da Ribeira de Lucefécit e continuar a descida, ou seguir pelo caminho da época romana e, a cerca de 1500 metros encontramos o Monte do Escrivão, mais um lugar, segundo a Direção Geral do Património Cultural - DGPC, foi povoado pelos Romanos, noutros tempos, existiam aqui pelo menos 10/12 casas de habitação com muitos moradores e, os ancestrais contavam que, também existiu uma taberna, no entanto, hoje está quase deserto e tudo abandonado, sem esperança de recuperação, embora se situe a 500/600 metros da Albufeira de Alqueva, podendo ser aproveitado para atividades turísticas. 
A partir do Monte do Escrivão podemos descer até à Ribeira, ao lugar do Bufo, onde se encontra mais um Moinho e a casa de apoio, ambos submersos. 
Neste lugar existia mais um porto de passagem da Ribeira, por se encontrar muito próximo do Monte de Santa Luzia e nos anos de 1960 foi aqui construído um passadiço pedestre que, permitia a passagem da Ribeira em todas as estações do ano e esteve em funcionamento até à chegada das águas da Albufeira. 
Continuamos a descer junto às águas do Grande Lago, pela Torre até ao Roncão, chegamos ao antigo Porto do Aguilhão, outro sítio de passagem da Ribeira, com passadeiras e muito movimentado, não só pelas pessoas que moravam e trabalhavam no Monte e nesta herdade, mas pelas que iam e vinham de outras herdades a montante desta para as terras de Capelins ou desta região.
Aqui somos obrigados a virar para a direita contornando a grande baía existente em frente do Monte do Roncão Velho e, continuamos a descer pela margem direita do Ribeiro do Carrão, ou pelo caminho do Monte do Pombal, neste caso, mais  afastados da Ribeira de Lucefécit, mas sempre no interior do mesmo vale, avistando Montes ainda habitados, mas a maioria abandonados, onde noutros tempos existiu muita vida, alguns já se encontram em ruínas. 
No caso de a partir do Monte do Escrivão seguirmos pelos antigos caminhos romanos, passamos pelo limite da herdade da Negra, que foi mais um lugar onde os romanos fizeram exploração mineira e agro-pecuária. No início da década de  1960, foi aqui encontrada uma necrópole na parte sul, próxima da estrada que faz a ligação Negra - Carrão - Montejuntos, existindo ainda visível uma sepultura nas bermas deste caminho. 
A seguir, entramos na herdade da Talaveira, deixamos vários Montes à esquerda e depois passamos junto ao Monte de S. Miguel e entramos na herdade do Roncão, onde existia o Moinho do Roncão e duas casas juntas ao mesmo, acima da foz do Ribeiro do Carrão, estando o Moinho submerso e as casas foram demolidas. Também aqui se encontram vários vestígios de ocupação romana, uma necrópole, marcas de exploração de minérios e, mesmo,  sinais de ocupação por civilizações anteriores a esta. 
Na herdade do Roncão, ficava a foz do Ribeiro do Carrão, que metia muita água na Ribeira, por ser o somatório de muitos Ribeiros e regatos que partem das Aldeias de Ferreira e de Montejuntos. 
 Continuando a descer, a cerca de 1,5 km, chegamos às  Azenhas D' El-Rei, o lugar da foz da Ribeira de Lucefécit no rio Guadiana, mas antes existia a Fonte da Lesma, com água muito boa e bem perto a azinheira de Nossa Senhora, cujas bolotas apresentavam uma silhueta de Nossa Senhora, logo a seguir existiam algumas hortas e junto delas existia um muro para estancar a água para as mesmas, o qual ainda existia em 1758, mas acabou por ser demolido, devido a queixas, porque não deixava movimentar o peixe entre a Ribeira e o rio Guadiana. No alto à direita, perto do Forno de cozer telhas e tijolos, existem vestígios de forte ocupação romana.
Nas Azenhas D' El-Rei existiam três Moinhos, dois do lado de Portugal e um do lado de Espanha, os quais, estão todos submersos! 
Logo a seguir, já no vale do rio Guadiana, estamos na Praia Fluvial das Azenhas D' El-Rei. 
Devido à Albufeira de Alqueva o curso da Ribeira de Lucefécit é barrado na área das Águas Frias, acima da Ponte Capelins - Rosário, mas a sua foz no rio Guadiana era ladeada na margem esquerda pela herdade do Aguilhão, Rosário - Alandroal e na margem direita pela herdade do Roncão da Freguesia de Capelins. 

Texto: Correia Manuel

O Lugar da Vila de Ferreira de 1314 era neste lugar!







Povoado de Miguéns - Capelins - 5.000 anos

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