sábado, 10 de setembro de 2022

A lenda do Perú de Capelins de Baixo

 A lenda do Perú de Capelins de Baixo

Conta-se que, que na centúria de 1700, em Capelins de Baixo, perto do Monte da Figueira, morava um rapaz chamado João Rodrigues, que era lobisomem, e que se apaixonou por uma rapariga muito bonita, que era sua vizinha, mas morava ao meio da rua principal. 
O rapaz começou a transformar-se num lindo perú muito encorpado, de penas castanhas e muito brilhantes, e depois da meia noite passeava-se pelas ruas da Aldeia, passando arrufado e a grugulhar à porta da sua amada.
De manhã, toda a gente falava do perú, e ele ficava muito orgulhoso, as pessoas comentavam: - Não ouviram o grugulhar de um perú esta noite? E os moradores respondiam: - Então não ouvimos! De quem será o peru? O que fará um perú a essa hora aqui na rua?
A situação repetia-se e os moradores começaram a levantar-se para ver o perú, muito lindo a passear e a grugulhar pela rua.
As pessoas já andavam intrigadas, de quem seria o perú, não podia ser de longe,   e começaram a perguntar de porta em porta e de Monte em Montes, concluindo que o perú não tinha dono e se não tinha dono era de quem o apanhasse e os moradores começaram a fazer planos para o apanhar e dividir por todos e comentavam: - E que falta me faz, para pôr amanhã nas sopas! Dizia uma moradora! E a mim, para fazer uma massinha para os meus filhos! Dizia outra! A minha parte é para um guizadinho, para molharmos sopinhas! Dizia outra! 
Na noite seguinte estavam todos preparados e quando o perú apareceu, correram atrás dele, mas não conseguiram apanhá-lo, fugiu para os lados do Monte da Figueira e, logo que virou a esquina da última casa, como por magia, desapareceu.
Os moradores ficaram frustrados, tanta falta que lhe fazia, mas não podiam fazer mais nada, restou-lhe combinar uma nova tática para a noite seguinte, uns ficavam atrás das lenhas com forquilhas, machados e paus, outros atrás das portas e ainda outros às esquinas, o perú não podia escapar. 
Quando o perú apareceu, na sua pose habitual, grugulhando, todo vaidoso, cercaram-no e estava quase apanhado, mas mandou um voo por cima das lenhas e foi aterrar ao fundo da rua do quebra, dali correu até ao Ribeiro da Aldeia e foi a sua sorte, sumiu-se pelo Ribeiro abaixo e nunca mais o viram, mas quando ia em voo o ti Manel Cachopas ainda lhe mandou uma pazada que o apanhou de raspão numa asa e quase o derrubou.
Os moradores ficaram mais uma vez frustrados, estavam tão bem organizados e tinham deixado escapar o perú, restava-lhe tentar, novamente. 
De manhãzinha, estavam todos na rua a lamentar-se, de como tinham falhado aquela caçada e apareceu o João Rodrigues com um braço ao peito e cheio de ligaduras, parou logo a conversa e dirigiram-se ao João, a perguntar o que lhe tinha acontecido, se tinha o braço partido, como tinha sido e muitas outras perguntas. 
O João contou, que vinha do endireita do Monte do Pinheiro e que graças a Deus não era nada partido, era só magoado, mas que tinha muitas dores e que na noite anterior tinha-se levantado para ir à rua, à casa de banho e tinha caído em cima de umas pedras e nem tinha fechado os olhos a noite toda com tantas dores! 
As pessoas ficaram desconfiados, mas não adiantaram a conversa, uma vizinha ainda lhe perguntou se não tinha ouvido o barulho que eles tinham feito na caça ao perú, uma vez que durante a noite tinha andado na rua e não tinha dormido nada. Ouvi, mas estava com tantas dores que nem saí de casa! Respondeu o João! Mas fica a saber que mesmo sem vires ajudar, se o temos matado a tua parte ia lá ter a casa! Disse-lhe o ti Chico Gomes.
O João, que era um bocadinho encardido, ficou tão branco como a cal da parede e os que estavam a falar com ele repararam e correram a ajudá-lo: - Estás a sentir-te mal? Perguntaram! 
João: Não, já estou melhor, são as dores! 
O João estava a pensar onde andou metido, por pouco tinha ido parar às panelas das sopas dos vizinhos, e estava cheio de dores por ter levado uma grande pazada do Ti Manel Cachopas, a seguir despediu-se dos vizinhos.
Os vizinhos desejaram-lhe rápidas melhoras e disseram-lhe que de manhã iam a sua casa levar a sua parte do perú, que na noite seguinte já não se escapava, o João sentiu um arrepio, e o perú arrufado de Capelins de Baixo, nunca mais apareceu.


Fim 

Texto: Correia Manuel 


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