quarta-feira, 21 de setembro de 2022

A lenda da lavradora do Monte do Roncão

 A lenda da lavradora do Monte do Roncão 

Os agricultores de Capelins, quase todos de origem judaica, construíram os seus Montes, os quais, estão atualmente quase todos em ruínas ou já desapareceram. Porém, o Monte do Roncão, onde se passou esta ação teima em continuar firme e airoso, como quando albergava multidões de trabalhadores e famílias em todo o seu domínio! Este Monte era do lavrador Francisco Friz (Fernandez) e de sua mulher a lavradora Maria Miz (Martinez), a qual, no ano de 1717, com pouco mais de quarenta anos de idade, começou a apresentar sinais de demência, com atitudes impróprias e conversas sem sentido que, no início da doença, ninguém compreendia, ao ponto de fazerem chacota pelas terras de Capelins. O lavrador, assim que percebeu que a situação não era normal, correu aos médicos de toda a região, Estremoz, Elvas, Évora e outras, mas a sua mulher em vez de melhorar, estava cada vez pior! O lavrador já sem fé na cura pelos métodos convencionais dos médicos, em desespero e por influência de familiares procurou outras alternativas, baseadas na obscuridade, como exorcismos e bruxarias. Desde sempre, pairou desconfiança sobre os lavradores do Monte do Roncão, dizia-se que eram "marranos" (falsos Cristãos), mas não era verdade, no entanto, eram constantemente alertados para o perigo que corriam, porque, se chegasse aos ouvidos do Esquadrão da Inquisição, de Vila Viçosa, decerto eram assassinados ali, sem hipótese de defesa! O padre de Santo António, Miguel Gonçalves Galego, sabia dos boatos e várias vezes lhe disse para terem muito cuidado, porque a situação estava a ficar perigosa, mas eles negavam que nada se passava e compareciam em todos os ato s religiosos na Igreja de Santo António, deixando os paroquianos com dúvidas! Quando o lavrador começou a fazer as mesinhas à lavradora, logo surgiram mais conversas que afirmavam ser verdade do que há muito se dizia, os lavradores praticavam e descaradamente o judaísmo! A lavradora tinha inesperadamente, momentos de lucidez, até parecia que não estava doente, o que deixava o marido, os filhos e as criadas da casa muito confusos e foi num desses momentos que a criada mais velha da casa e muito amiga lhe contou o que se estava a passar! Disse-lhe que o lavrador e toda a família estavam a correr grande perigo, porque falava-se pelas terras de Capelins e, já em Terena, que ele praticava o judaísmo para a curar, mas não era verdade! A lavradora não queria acreditar que estava naquele estado de saúde e sentiu-se culpada por o marido estar em perigo iminente, por culpa dela! E, num momento de lucidez a meio da noite saiu do Monte do Roncão, passou propositadamente pelo lugar onde muitos anos antes tinham enterrado os objetos rituais da fé judaica, entre os quais: uma Tora, uma menorá, um talit, um shofar, um escudo de David, um kipá, uma mezuzá e outros, parou um pouco (soube-se pelo rasto deixado) e depois desceu a Ribeira do Lucefécit e suicidou-se no pego de Santa Catarina no rio Guadiana! Só ao fim de dois dias foi encontrada, sendo sepultada na Igreja de Santo António, como uma boa cristã e o seu marido e filhos deram provas de serem uns bons cristãos, comparecendo e rezando fervorosamente em todas as missas! 

A morte da lavradora do Monte do Roncão causou muita controvérsia que durou muitos anos, uns diziam que foi o dedo acusador do povo que a matou, outros diziam que já estava condenada devido à sua demência!

Tudo indica que, os objetos rituais judaicos ainda se encontram enterrados perto do Moinho do Roncão e, submersos pelas águas do Grande Lago de Alqueva! 

Fim 

Texto: Correia Manuel 

Monte do Roncão - Capelins 



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