sábado, 10 de setembro de 2022

A lenda do bruxedo no Monte do Seixo, em Capelins

 A lenda do bruxedo no Monte do Seixo, em Capelins 

Conta-se que, nos primeiros decénios de 1700, o lavrador George e sua família construíram o Monte do Seixo, nas terras de Capelins, com a devida autorização da Casa do Infantado. As terras desta herdade eram muito férteis para a agro pecuária e em poucos anos esta família tornou-se das mais ricas desta região. Os George do Seixo eram muito bons para os criados/as, e estes convidavam sempre as meninas da família para madrinhas de batismo dos seus filhos, porque, além da ajuda, os afilhados da casa ficavam sempre com os melhores empregos, dentro da própria casa, como escamel, cozinheiro/a e de outros trabalhos considerados mais leves. 
Nas terras de Capelins, não existia Monte igual ao do Seixo, por todo o lado se falava naquela família que tratava tão bem os seus criados/as, que eram muito ricos e a inveja veio ao de cima. Um dia, tudo começou a correr mal na herdade do Seixo, os animais a adoecer e a morrer, as cearas e as pastagens a desaparecer. A família George, não sabiam o que fazer e tudo piorava de dia para dia, recorreram com preces a Santo António, a Nossa Senhora das Neves e a todos os Santos das igrejas dos arredores, o Pároco de Capelins benzeu o Monte, os gados e os campos, as criadas rezavam e nada melhorava. Contaram ao lavrador George que havia uma bruxa perto de Terena, que podia ser a sua salvação e como estavam desesperados chamou um criado para preparar o seu cavalo e acompanhado desse mesmo criado no seu burro, foram procurar a bruxa. O lavrador contou-lhe o que se passava na herdade do Seixo e pediu-lhe se o podia ajudar! A bruxa ouviu com muita atenção, depois fez umas consultas e disse-lhe que era um bruxedo devido à inveja que tinham da sua família e do progresso da herdade do Seixo e que o podia ajudar, mas ele tinha de ali dormir naquela noite, porque, por acaso ela à meia noite tinha um encontro com o Diabo, para resolver os casos que tinha em mãos e, assim ela apresentava o caso do lavrador e o Diabo dizia-lhe o que de verdade se passava e o que tinham que fazer para acabar com o bruxedo. O lavrador, ainda lhe disse que voltaria lá no dia seguinte, mas a bruxa insistiu para ele ficar e de madrugada voltava ao Monte do Seixo com o problema resolvido. O lavrador, andava tão aborrecido que aceitou dormir na casa da bruxa e assim resolvia logo aquele problema. À meia noite em ponto chegou o Diabo, a bruxa apresentou-lhe os casos que tinha para resolver e chegou ao do lavrador do Monte do Seixo. O Diabo confirmou que existia lá um bruxedo e que era para acabar com aquela família, porque havia muitas queixas contra eles, então agora é só minguar, o bruxedo está no cão da casa, para tudo o que ele olhar é para minguar e desaparecer, nunca vão saber que o bruxedo está no cão que eles tanto gostam e tu ficas proibida de lhe dizer e muito menos de acabar com o bruxedo, que é só o cão estar encerrado nove dias na escuridão de uma casa e o bruxedo desaparece. A bruxa perguntou ao Diabo, o que dizia ao lavrador e, o Diabo disse-lhe para dizer que o bruxedo era feito pela criada mais velha do Monte e a seguir desapareceu. De madrugada, o lavrador levantou-se e a bruxa comunicou-lhe o que o Diabo lhe mandou dizer, o lavrador correu para o cavalo, montou e dirigiu-se para o Monte do Seixo com tanta raiva da criada que a sua intenção era matá-la. O criado, tinha dormido na cabana, que tinha uma janela para a cozinha onde a bruxa se tinha encontrado com o Diabo e através de uma fresta ouvia quase tudo tudo o que eles diziam, assim, sabia que era mentira da bruxa e gritou ao lavrador para lhe contar a verdade, mas ele com o cavalo a galope já não ouviu. O criado montou o burro e foi atrás do lavrador, mas um burro, atrás de um cavalo, cada vez estava mais distante e o criado perdeu a esperança de chegar a tempo de evitar a morte da criada que estava inocente. O lavrador, passou pelo Monte Branco, Ai Ai, Monte de Nabais e quando chegou ao Cebolal encontrou um seu compadre com o qual tinha assuntos muito importantes a resolver, mas pensou que não seria naquele momento. O compadre que também tinha muita pressa em falar com ele, fez-lhe alto e ele parou o cavalo. O compadre muito admirado de o ver ali aquela hora, perguntou-lhe o que se passava e ele contou-lhe tudo, incluindo o motivo porque estava com tanta pressa. O compadre que conhecia muito bem a criada, disse-lhe que era impossível e decerto não passava de uma mentira da bruxa e para ele se acalmar, que o ajudava a desvendar a verdade. Durante o tempo em que estiveram a falar deu para o criado se aproximar aos gritos, o lavrador ao ver a sua aflição esperou que ele se aproximasse e ficou a saber que era tudo uma mentira da bruxa, mas o criado não tinha percebido como acabar com o bruxedo que estava no cão, então o lavrador voltou atrás, disse à bruxa que já sabia a verdade e queria saber o que tinha de fazer ao cão para acabar com o bruxedo. A bruxa com medo do Diabo, respondeu que não sabia, então o lavrador atou-lhe uma corda às pernas e à cela do cavalo e arrastou-a pelas estradas de Terena até que ela levantou a mão para ele parar e disse-lhe a verdade. A bruxa arrastou-se até sua casa, mas ficou tão magoada que acabou por morrer, sem qualquer auxílio do Diabo, o qual pela meia noite veio buscar a sua alma. O lavrador encerrou o cão numa casa escura e passados os nove dias o bruxedo desapareceu para sempre e a felicidade e prosperidade voltou ao Monte do Seixo.

Fim 

Texto: Correia Manuel 

Lugar onde era o Monte do Seixo em Capelins  




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