terça-feira, 27 de setembro de 2022

A lenda da construção da Igreja de Santo António de Capelins

A lenda da construção da Igreja de Santo António de Capelins 

A igreja de Santo António de Capelins, parece ter sido construída no segundo decénio da centúria de 1500, numa courela aforada que encabeçava com a herdade da Sina que, se designava por Cabeça de Sina e, era considerada uma das melhores Montarias do Reino (Coutada), como consta no livro das Montarias do Reino. 
Nessa época, as caçadas eram muito importantes na vida da fidalguia que, ao mesmo tempo lhe servia de treino militar, assim, todos os fidalgos queriam caçar nas Montarias mais famosas, entre as quais, esta na Cabeça de Sina.
Existia um fidalgo de Alandroal, Diogo Sequeira, na Corte do Rei D. Manuel I, capitão de Armadas, o qual, em 1509 comandou uma Armada pela India, como consta em diversos documentos régios, não sendo bem sucedido em termos militares mas, devido a alguns bons negócios comercias pessoais, conseguiu enriquecer, mas isso, não o fez esquecer a sua Vila de Alandroal de onde era natural e onde a sua família residia, sendo o seu pai o Alcaide Mor. 
Sempre que podia, Diogo vinha passar aqui temporadas e foi numa dessas visitas que mandou preparar mantimentos, cavalos, cães, fusis e tudo o que era necessário para passar algum tempo a caçar nas terras de Terena, ficando a comitiva instalada no Castelo desta Vila, onde existia muito casario e dali deslocavam-se, diariamente às melhores Coutadas Reais desta região. 
Saíram da Vila de Alandroal de madrugada para Terena, a fim de aqui se prepararem e saber junto dos administradores locais, quais eram os melhores lugares para caçar, sendo-lhe indicada a Coutada da Cabeça de Sina, porque não havia por ali nenhuma igual, com tanta caça!
Na madrugada seguinte, a comitiva seguiu pelo Monte Branco, Junqueira, Ai Ai, Monte Abaixo, Faleiros, e subiram por um caminho que existia na Cova da Sina e ia dar onde é hoje a Igreja de Santo António, aqui tinham de virar à esquerda para se dirigirem à casa dos guardas e de apoio aos caçadores que ficava a cerca de 100 metros, porém, quando a comitiva ia no referido lugar cruzaram-se com um frade de Jesus da pobre vida, cujos frades eram protegidos pela Diocese de Évora, o qual vinha em sentido contrário.
 Alguns fidalgos, nem reparavam no frade, uma figura muito franzina, sumida nuns trapos, irradiando pobreza à distância, e que só não passou despercebido por todos, porque os cavalos pararam repentinamente e fizeram-lhe uma vénia. 
Os fidalgos ficaram surpreendidos e reagiram mal contra os cavalos, tentando fazê-los avançar, mas eles continuaram parados e nada os fazia sair dali, armando-se uma grande confusão.
 O frade da pobre vida foi-se afastando  para os lados da serra da Sina e, só depois os cavalos, começaram a andar normalmente. 
Os fidalgos passaram o dia nas caçadas e, à tardinha quando voltavam a Terena, no mesmo lugar vinha o pobre frade de volta e, novamente os cavalos tiveram o mesmo comportamento, só depois de ele se afastar, os cavalos continuaram a andar! 
À noite, durante o jantar e ao serão o assunto foi comentado por todos e, não conseguiram encontrar explicação para o sucedido, mas todos achavam que existia ali algum mistério que envolvia o dito frade.
Na madrugada seguinte, a comitiva seguiu o mesmo caminho de Terena para a Coutada da Cabeça de Sina, quando estavam chegando, cruzaram-se com o frade da pobre vida e repetiu-se a vénia dos cavalos, como no dia anterior, então o fidalgo Diogo apeou-se do seu cavalo e foi falar com ele, cumprimentou-o e perguntou-lhe qual era o motivo daquele acontecimento, porque não existia nenhuma dúvida que aquilo, era devido à sua influência. 
O frade ajoelhou-se no chão e pediu desculpa pelo que tinha acontecido e disse-lhe que não tinha feito nada e também não entendia aquele comportamento dos cavalos, e que estava ali enviado por Santo António, para lhe construir uma Igreja (Ermida) naquele exato lugar, mas era tão pobre e fraco que nem uma pedra conseguia juntar, por isso procurava ajuda. 
O fidalgo ouviu o frade com muita atenção, pensou que fazia mesmo falta ali uma Ermida e, logo a seguir disse-lhe: - Fica descansado, não precisas de juntar nenhuma pedra, assim que tiver autorização do rei meu senhor a Igreja (Ermida) em honra do teu Senhor Santo António vai ser construída aqui neste lugar, a seguir despediu-se, montou a cavalo e a comitiva seguiu sem impedimento.
À tardinha quando voltavam a Terena, chegaram aquele lugar e os fidalgos esperavam encontrar o frade e de tudo se repetir, mas passaram normalmente e nem sinais do frade nem reação dos cavalos e perguntaram ao fidalgo Diogo qual a razão daquela mudança e, ele apenas lhe disse que estava tudo resolvido e não se falava mais no assunto. 
O fidalgo Diogo, assim que chegou ao Alandroal, escreveu uma carta ao Rei D. Manuel I a pedir autorização para construir uma Igreja (Ermida) a Santo António, nas terras do Reino, no lugar da Cabeça de Sina, por ali ter estado numa caçada e ter sentido a falta de uma Ermida para rezar e como sabia que, o Rei se encontrava em Estremoz, mandou um ordenança entregar a referida carta e, através do correio enviou igualmente cartas a dar conhecimento ao Bispo e Diocese de Évora.
A autorização do rei não demorou a chegar às suas mãos e, o fidalgo Diogo Lopes e Sequeira deslocou-se a Terena onde deixou tudo tratado para a construção da Igreja de Santo António, cujas obras começaram, imediatamente sob gestão do Prior de Terena. 
Assim que, a Igreja ficou pronta, realizou-se uma festa religiosa e foi benzida pelo Bispo de Évora D.  Afonso II, seguida de missa e de crismas. 


Fim 

Texto: Correia Manuel


Igreja de Santo António de Capelins





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