segunda-feira, 12 de setembro de 2022

A lenda da Ribeira de Lucefécit e das suas águas

A lenda da Ribeira de Lucefécit e das suas águas 

Algumas famílias capelinenses eram oriundas da Paróquia de São Miguel do Adaval, Concelho de Redondo, entre as quais a família envolvida nesta lenda que passamos a descrever. 

Em São Miguel do Adaval, situada numa herdade pertencente ao Cabido da Sé de Évora, perto do Redondo, existia uma família, pai, mãe e vários filhos e filhas, a menina mais nova chamada Margarida de Jesus, ficou cega em criança, mas apesar disso, aprendeu a fazer tudo em casa e acompanhava a mãe em alguns trabalhos no campo. A menina cresceu normalmente e diziam ser a rapariga mais linda de São Miguel do Adaval, por isso tinha muitos pretendentes que com ela queriam casar, entre eles, encontrou o rapaz com o qual casou, num domingo do mês de Abril de 1890. O casal ficou a morar e a trabalhar em São Miguel do Adaval, perto dos pais de Margarida, mas com o passar do tempo os seus pais um dia partiram e, quase a seguir, devido a doença, o marido também partiu, ficou ela e os três filhos pequenos, duas filhas de oito e dez anos e um filho de doze anos. A sua vida tornou-se muito difícil e, como os irmãos eram ganadeiros nas terras de Capelins, um deles na herdade do Roncão, tratou logo de os trazer para junto dele. A lavradora do Monte do Roncão, depois de saber a situação de Margarida, aceitou que ela e as filhas viesse trabalhar no Monte e o filho ficava a guardar as ovelhas com o tio, ficando tudo acertado. Explicaram à Margarida como e por onde deviam fazer a viagem entre São Miguel do Adaval e o Monte do Roncão e como ela ainda tinha uma velha burrita, indicaram-lhe o caminho pelas Hortinhas, Ribeiro de Alcaide, depois era só descer este Ribeiro e seguir ao lado da Ribeira do Lucefécit até ao Roncão, muito fácil. No dia marcado, partiram de madrugada e ao nascer do sol os filhos já avistavam as Hortinhas, iam dizendo à mãe o que estavam a ver e ela logo deduzia onde estavam, conforme lhe tinham indicado e seguiram o caminho sem problemas, a não ser cada vez mais cansaço, porque não podiam montar a burra, porque ia carregada com alguns haveres que decerto lhe fariam falta no Roncão, por isso a viagem estava sendo mais lenta do que o previsto, por cada quilometro que andavam, tinham de descansar e as crianças sempre a pedir água, até que se esgotou. Desciam pela estrada que atravessava a herdade da Boeira e não encontravam água, passaram acima do outeiro dos oregãos e seguiram pela estrada que passa junto à Ermida de Nossa Senhora das Neves. Quando chegaram ao outeiro onde se avista a Ermida disseram à mãe que estavam a ver uma Igreja e casas, mas ainda longe, a Margarida soube onde estavam e começou a rezar pedindo ajuda a Nossa Senhora das Neves, para lhe dar água, e imediatamente uma filha gritou: "água ali", era na Ribeira do Lucefécit, junto às Neves, estava um grande pego de água fresca e cristalina para onde corriam as águas dos nascentes do vale de enxofre. Foram todos beber água, incluindo a burra, e encheram as vasilhas que traziam, Margarida logo pensou que foi um milagre de Nossa Senhora das Neves, em oração agradeceu-lhe e, antes de partir, como estava muito calor apanhou alguma água com as duas mãos e deitou-a pela cara e olhos e, naquele momento, deu-se um verdadeiro milagre, a Margarida começou a ver. Foi uma grande alegria para todos e na passagem entraram na Ermida, rezaram em agradecimento a Nossa Senhora e pela tardinha chegaram ao Monte do Roncão, contando pelo caminho, a toda a gente, o milagre que tinha acontecido, o qual foi falado nas terras de Capelins durante muitas gerações. A sua vida e dos seus filhos, a partir daquele dia nunca mais foi a mesma, ela e a família tornaram-se incondicionais devotos de Nossa Senhora das Neves.

Ainda hoje, existem descendentes desta família, nas terras de Capelins! 

Fim 

Texto. Correia Manuel 


Ermida de Nossa Senhora das Neves em Capelins


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