quarta-feira, 7 de setembro de 2022

A lenda do Manel Pastor e de sua amada Catarina

A lenda do Manel Pastor e de sua amada Catarina 

Conta-se em Capelins que, no início do ano de mil e oitocentos, existiu uma grande paixão amorosa entre um pastor chamado Manel Dias, conhecido por Manel Pastor, filho da transumância, e uma menina muito bonita, chamada Catarina de Jesus, filha do Moleiro do Moinho do Roncão que morava no Monte desse Moinho. 
O Manel pastor perdeu-se de amores pela Catarina e depois de quase uma ano de namoro decidiram casar-se na Igreja de Santo António de Capelins e ficar a morar numa choupana no Monte do Roncão, mas para o casamento se realizar era necessário falar com o Padre e tratar dos papéis de estilo corrente que, eram emitidos pelo Pároco da Freguesia da respetiva naturalidade, neste caso, da Paróquia do Manel, pelo que, ele decidiu ir à sua aldeia natal na Freguesia da Póvoa Nova na encosta norte da Serra da Estrêla, ver a família, contar-lhe que ia casar e tratar dos ditos papéis.
Na semana seguinte, depois de deixar tudo tratado, o Manel partiu a pé numa madrugada, muito entusiasmado, porque ficou combinado que casariam logo que ele voltasse, com a promessa da Catarina que acontecesse o que acontecesse, ela esperava por ele até ao fim da sua vida.
Quando o Manel Pastor, chegou à sua aldeia, encontrou a sua mãe muito doente com a previsão de ter poucos dias de vida, deixando-o muito triste, pelo que, prometeu à mãe  que ficava a seu lado até ela estar curada, contou-lhe que estava noivo de uma menina de Capelins chamada Catarina, que era muito bonita e gostava muito dela, e disse a mãe que tinha de se pôr boa para ir ao seu casamento. 
Devido à alegria de ver o filho e de ouvir a novidade sobre o casamento, a ti Joaquina melhorou muito e o Manel cumpriu o que prometeu de ficar a seu lado, e os dias foram passando, formando meses, começando o Manel Pastor a ficar preocupado com o que a Catarina devia estar a pensar, então decidiu mandar escrever uma carta a contar-lhe o que se estava a passar e pedia-lhe que esperasse por ele, porque a mãe estava a melhorar, e assim que voltasse com os papéis, casavam, imediatamente. 
A carta seguiu, mas nunca chegou ao Moinho do Roncão em Capelins, onde já se falava da má sorte da Catarina era mais uma noiva abandonada, uma viúva antes de casar, sendo tanto o falatório que, já sem esperança do Manel voltar, a Catarina entrou em depressão e, sem tratamento, não aguentou a pressão, e uma noite saiu de casa sem ser vista, desceu a Ribeira de Lucefecit e atirou-se ao pego de Dona Catarina no rio Guadiana, deixando a roupa pendurada num freixeiro junto à água,   foi procurada rio abaixo, rio acima, mas nunca mais foi encontrada. 
Depois de enviar a carta, o Manel Pastor ficou mais descansado, pensando que a Catarina já estava informada do motivo da sua demora e seria uma questão de mais um ou dois meses para ir ter com ela a Capelins.
O tempo foi passando e já estava na Póvoa Nova, havia mais de três meses, até que, um dia a mãe do Manel Pastor fechou os olhos e partiu, depois de tratar de tudo, como não podia fazer mais nada, pediu os papéis para o casamento ao Pároco, despediu-se e na madrugada seguinte partiu a pé para Capelins, seguindo o caminho, das caravanas da transumância, pelas canadas que já conhecia. 
O Manel queria chegar a Capelins o mais depressa possível, e nos primeiros dias de viagem pouco descansava, até que o cansaço o venceu e começou a andar, diariamente cada vez menos léguas, mas nos últimos dias de viagem, dos dez dias que levou, já pouco descansou, quando chegou a Estremoz, encostou-se duas ou três horas e depois  já não parou até Capelins, caminhou toda a noite, chegando ao Moinho do Roncão ao nascer do sol. 
Assim que chegou, o Manel foi a correr à casa da sua amada, mas achou estranho não estar ninguém em casa, pensou que estavam todos no Moinho, que ficava um pouco mais abaixo, e dirigiu-se lá, mas assim que avistou a família de Catarina, vestidos de luto, sentiu um arrepio e pressentiu que alguma coisa má tinha acontecido, porque só faltava ela, mas não imaginava o que tinha acontecido. 
O Manel cumprimentou a família da Catarina que pouco lhe ligaram, porque achavam que ele era culpado da tragédia, depois perguntou por ela e contaram-lhe debaixo de grande pranto o que tinha acontecido e o motivo do seu suicídio, ele não queria acreditar, ficou muito chocado e contou-lhe, porque se tinha demorado e que tinha enviado a carta a contar o que se passava.
O Manel foi para a sua choupana e chorou a morte de Catarina durante muitos dias, não falava com ninguém e quase não comia, debaixo de grande tristeza, parecia que tinha enlouquecido. 
Uma manhã levantou-se da tarimba, saiu da choupana e começou a procurar a sua noiva Catarina pelas margens do rio Guadiana, na esperança de a encontrar, percorreu a distância entre as Azenhas D' El-Rei e o Gato, milhares de vezes, de dia e de noite, cerca de 30 anos, por matos de estevas, giestas e tojos, abrindo várias estradas no sul da Freguesia de Capelins, junto ao rio Guadiana, mas a sua amada Catarina nunca mais apareceu. 
Os ancestrais contavam que, o Manel Pastor tinha ficado parvinho, até que, um dia, quando andava pelas suas estradas no vale do rio Guadiana, caiu para o lado e partiu, acabando-se o seu martírio.

Fim 

Texto: Correia Manuel 




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