quinta-feira, 22 de setembro de 2022

A lenda do baile das feiticeiras com os rapazes do Monte do Aguilhão

 A lenda do baile das feiticeiras com os rapazes do Monte do Aguilhão 


Decorria o mês de Maio de 1870 e, como habitualmente, realizou-se a Festa da Santa Cruz nas aldeias de Capelins, além de muita diversão e da parte religiosa, à noite realizavam-se grandes bailes, pelo menos em duas noites, sendo o baile da noite mais forte abrilhantado por um conjunto de Jaz, designado pelo Jaz e Banda, tipo Orquestra ligeira e nas outras noites por um tocador de harmónio, (tipo concertina, com uma/duas palhetas) e que toda a noite tocava o "arroz com couve". Às Festas da Santa Cruz, vinham gentes de toda a Freguesia, de todos os Montes, e das terras vizinhas, porque já nessa época tinham grande fama! Nesse ano vieram à Santa Cruz de Capelins, dois rapazes do Monte do Aguilhão, que se divertiram o mais que puderam e quando chegou à sua hora de voltar a casa puseram-se a caminho pela estrada do Monte da Ramalha, Monte da Zorra, Ribeiro do Carrão, herdade do Roncão, onde passavam a Ribeira do Lucefécit e, era quase um reta até ao Monte do Aguilhão. Quando iam passando o Ribeiro do Carrão, quase às duas da manhã começaram a ouvir grande barulho de festa, gritos estridentes de mulheres e ficaram assustados. Diz um para o outro: Tu estás a ouvir o mesmo que eu? Então não estou! Disse o outro! Vamos ver o que se passa aí para baixo, (no Ribeiro do Carrão). Já tinham ouvido falar dos bailes de feiticeiras, onde elas dançavam nuas na presença do mafarrico, mas pensaram sempre que não passava de boatos do povo. Aquela noite, era Festa das Cruzes, suas inimigas, então, fugiram todas de Capelins. Os rapazes foram descendo o Ribeiro e não queriam acreditar no que estavam a ver, era um grande grupo de mulheres, algumas que eles conheciam e até de família que dançavam, pulavam nuas envolvidas num histerismo com mistura de loucura. Foram-se chegando cada vez mais, até ao ponto de, sem darem por isso, já andavam a dançar com as feiticeiras, na mesma loucura. Quando o sol já estava a raiar, acordaram sobressaltados a ouvir uma voz que lhe parecia que vinha do além e dizia: "Seus malandros, seus desenvergonhados, o que estão fazendo aqui? E uma destas hem!, Vai-te a eles piloto", e foi quando acordaram, com o piloto, o cão de guarda das ovelhas do Roncão quase a caçá-los. Ainda disseram ao pastor: Estávamos no baile! Um lindo baile, sim senhor, os dois nus e agarradinhos um ao outro, eu já lhe dou o baile! Disse o pastor! Os rapazes do Aguilhão, só tinham as botas calçadas, mais nada vestido, mas ao fugir ainda apanharam as ceroulas e não quiseram saber do resto da roupa, correram tanto, que só pararam quando iam quase a chegar ao Monte do Aguilhão, para combinar o que diziam quando os vissem chegar naquele estado. Depois de muito pensar, concluíram que a melhor versão era dizerem que tinham sido assaltados e que lhe tinham roubado a roupa! Assim, quando chegaram ao Monte do Aguilhão, ficaram todos admirados ao vê-los chegar só com as botas e as ceroulas e, eles apressaram-se a contar o que tinham combinado. Esta situação foi muito falada por toda a região, uns acreditaram, outros não, mas nessa altura ninguém soube a verdade, só contaram mais tarde, porque o pastor do Roncão era homem de pouca conversa e nunca abriu a sua a boca para contar o que tinha visto e, eles também não puderam contar nada sobre o baile das feiticeiras porque também tinham o rabinho preso! 

Fim 
Texto: Correia Manuel 




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