sábado, 10 de setembro de 2022

A lenda do canto do galo

 A lenda do canto do galo

As terras de Capelins eram muito férteis em superstições, que passavam de geração em geração sem nunca se saber a sua verdadeira origem! 
Neste caso, se o galo cantasse à noitinha, decerto morria alguém nessa noite em Capelins, e de manhã, para completar a superstição, passavam os corvos por cima da Aldeia e levavam a alma para o céu!
No mês de Março de 1968, numa segunda Feira à noitinha, um galo cantou em Capelins de Cima, (Ferreira) como se ouviam muitas vezes, e logo se ouviram os habituais comentários:
Ti Manel: Olha, o galo cantou, esta noite morre alguém! Oh Maria, sabes quem é que está por aí nas abaladas?  
Ti Maria: Não sei, Manel, se ouvi, agora não me lembro, então porquê? 
Ti Manel: Então não ouviste o galo a cantar? Já sabes que é sinal certo, quem estiver nas abaladas, não passa desta noite! 
Na manhã seguinte, ouviu-se logo dizer pela Aldeia que tinha falecido o Ti Zé do Pinheiro que estava muito mal, desde o Natal! 
O Ti Manel assim que soube, não se cansava de comentar  que já sabia que o homem ia morrer naquela noite, porque o galo cantou ao principio da noite e isso nunca falhava e depois viu passar os corvos, logo cedo, por cima da Aldeia, tinham vindo buscar a alma do defunto! 
O Ti Manel almoçou uma sopa de tomate com toucinho frito, (pequeno almoço), engatou a mula no carro (carroça) e meteu-se a caminho da herdade do Terraço, onde tinha uma courela para semear ao quarto com a Casa Camões, estava a sair de Capelins de Cima e teve o primeiro encontro, era o Ti Chico Borralho, aí oh, e a mula parou logo:
Ti Manel: Bom dia ti Chico, então já sabe quem morreu esta noite? 
Ti Chico: Bom dia Manel, já sei, já, olha soube logo de madrugada, disse-me o meu vizinho João! Coitado do zé, estava muito mal, foi um alívio, porque essa doença moderna, causa muito sofrimento!
Ti Manel: Então sabe a que horas ele morreu? 
Ti Chico: Não sei bem a que horas foi, mas parece que já eram cinco ou seis da manhã!  
Ti Manel: Pensava que tinha sido mais cedo, mas olhe, eu ontem já sabia que ele ia morrer esta noite!
Ti Chico: Oh Manel, mas como é que tu já sabias ontem, se ele só morreu hoje?
 Ti Manel: Porque o galo cantou ontem à noitinha e hoje de manhã vi passar os corvos aqui por cima da Aldeia! Bateu tudo certo, tudo certo! Sabe se o enterro ainda é hoje? 
Ti Chico: Essa do galo cantar à noitinha, e morrer sempre alguém durante a noite, é que eu não sabia! Não, o enterro é só amanhã às 10 horas! 
O ti Chico não esperou mais conversa e seguiu o seu caminho e o Ti Manel lá foi até ao Terraço, mas parando cada vez que se cruzava com outros seareiros para fazer sempre a mesma conversa! 
Quando chegou à courela no Terraço já era tarde, mas isso não importava, porque conseguiu passar a sua superstição e convencer alguns capelinenses que ainda não estavam convencidos, que se o galo cantasse à noitinha, morria alguém nessa noite e na manhã seguinte lá passavam os corvos por cima da Aldeia para levar a sua alma! 
O ti Manel afirmava, que dava sempre certo!  

Fim 

Texto: Correia Manuel 

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