sábado, 10 de setembro de 2022

A lenda da Aldeia da Cinza em Capelins

 lenda da Aldeia da Cinza em Capelins 

Conta-se que existia uma aldeia na Cinza, nas margens do rio Guadiana e, como viviam sempre em festa e não ligaram aos avisos, a tribo foi dizimada e a aldeia foi arrasada por outra tribo do norte de África!
Conforme as provas arqueológicas, há cerca de três mil anos existia um povoado, ou seja uma pequena aldeia, na Cinza, nas margens do rio Guadiana, habitada por uma tribo que vivia da pesca e da caça e, sempre em festa, os homens e mulheres pouco mais faziam, senão cantar e dançar. O trabalho era feito por rapazes e raparigas, como objetos necessários, as refeições e o abastecimento de água para beber e para a comida. A água era tirada de uma fonte que existia muito perto do rio Guadiana e que tinha água em abundância e muito cristalina! Um dia, como habitualmente, um rapaz da aldeia dirigiu-se a essa fonte e encheu uma vasilha de água para levar para a aldeia, porém, estava com sede e tentou beber água, mas não conseguiu, a água estava intragável, tão salgada, que não a conseguiu engolir. O rapaz ficou assustado e pensou que era um aviso de que alguma coisa de mal estava para acontecer à sua aldeia e consequentemente à sua tribo. pegou na vasilha e foi a correr até à aldeia, onde andavam todos a cantar e a dançar. O rapaz chegou muito aflito e gritou a contar o que se tinha passado, mas poucos lhe ligaram, beberam da água da vasilha e não estava salgada, por isso pensaram que o rapaz tinha apanhado sol na cabeça e não se encontrava bem! No dia seguinte, o rapaz pegou na vasilha e dirigiu-se novamente à fonte, mas quando caminhava junto ao rio Guadiana os peixes começaram a saltar da água e morriam imediatamente. O rapaz ficou com a certeza que alguma coisa muito má estava para acontecer à sua aldeia e à tribo e voltou a correr à aldeia a contar o que se estava a passar, alguns ainda foram ver, mas não havia nenhum peixe fora da água, logo confirmaram que o rapaz estava doido e continuaram a festa. Só o avô do rapaz acreditou que o neto falava verdade e decerto alguma coisa muito má estava para acontecer e ninguém ligava. Chamou o neto e disse-lhe que acreditava nele e a partir daquele momento já não ficaram descansados, nos dias seguintes nada aconteceu, mas eles nunca mais descansaram. Um dia, enquanto a tribo ficaram na festa, eles foram explorar a região e, ao nascer do sol começaram a subir rio Guadiana, quando chegaram à Ribeira do Lucefécit ouviram grande tropel de cavalos e de homens, ficaram muito assustados, esconderam-se e em poucas horas tudo ficou em silêncio, mas aqueles homens seguiram na direção da sua aldeia e logo pensaram o que estava para acontecer, mas só os dois, não podiam fazer nada, nem ao menos avisar a sua tribo para fugirem ou preparar a defesa. Ficaram tristes e amargurados, não dormiram e nesse dia já não voltaram à aldeia, mas no dia seguinte foram descendo o rio com muito cuidado e ao chegar, ficaram desolados, a sua tribo tinha sido dizimada, a aldeia pilhada e completamente arrasada! O avô e o neto, estiveram por ali alguns dias para enterrar os seus familiares e, depois partiram rio Guadiana acima e nunca mais voltaram às terras de Capelins! 
Este triste acontecimento deu-se, porque a tribo da aldeia ou povoado da Cinza estava sempre em festa e não ligaram aos avisos que lhe foram enviados!
A continuação da lenda, conta que, o rapaz chamado Allan e o avô Almiro subiram o rio Guadiana, passaram a Ribeira do Lucefécit e ao início da tarde, já com fome, chegaram aos Mocissos onde existia uma Tribo de Iberos. Foram bem recebidos pelos chefes e anciãos, aos quais o avô contou o que se tinha passado na sua aldeia e que só tinham sobrevivido os dois, os anciãos ficaram muito comovidos e decidiram imediatamente que ficariam na sua tribo para sempre. Allan e o avô agradeceram e disseram que a partir daquele dia aquela era a sua família e dedicaram-se de alma e coração a todas as causas em benefício da tribo. Como sabiam as razões que levaram ao desaparecimento da sua aldeia e da sua tribo, não descansaram enquanto não conseguiram construir defesas contra eventuais invasores, fizeram uma estacada, um fosso e formaram um grupo de homens com duplas funções de guerreiros e pastores, que treinavam nas horas de menos trabalho, formando, assim, uma tribo muito forte naquela região. Devido ao trabalho que fizeram e à sua dedicação, depressa ganharam admiração e respeito de todos, sendo convocados para reuniões dos chefes e dos anciãos, participando em decisões importantes sobre a vida da tribo. 
Um dia, o avô Almiro adoeceu e sentindo que teria pouco tempo de vida, chamou Allan e disse-lhe que estava na hora de partir e pediu-lhe para voltar para as terras de Capelins e fundar uma aldeia e uma forte tribo no lugar, ou o mais próxima possível da sua antiga aldeia. Allan prometeu imediatamente que voltaria e que faria tudo como ele lhe pediu e logo a seguir o avô Almiro faleceu. Foi um grande desgosto para Allan e só algumas semanas depois anunciou que tinha de partir para cumprir a vontade do avô e como era o chefe dos guerreiros da tribo, muito admirado e respeitado, quando participou que queria formar uma nova tribo, todos e todas queriam partir com ele, mas não era possível, porque a tribo que tão bem o tinha recebido não podia ser prejudicada e tinha de ficar forte e bem organizada, portanto tiveram de fazer uma seleção. Em poucos dias estavam todos preparados para seguir para as terras de Capelins e, embora fosse para muito perto a separação foi muito difícil.
A viagem demorou quase um dia, porque eram pessoas de todas as idades, animais, cereais e tudo o que era necessário para iniciar a vida na nova aldeia. Quando chegaram, Allan ficou muito triste e passou horas a chorar e a relembrar a sua infância, depois, ganhou coragem e começou a ajudar os companheiros a traçar a nova aldeia, mas em todo aquele espaço só encontravam cinza, ainda da antiga aldeia e não conseguiram encontrar terra, era cinza, muita cinza e todos gritavam, cinza e foi assim que, aquele lugar, ficou a designar-se “Cinza” até hoje. Por fim, decidiram que não podiam instalar-se ali, porque Allan começou a entender que era um aviso para não construir a aldeia naquele lugar e mandou parar os trabalhos. Convocou os chefes e anciãos que o acompanharam e disse-lhe que não podiam construir a sua aldeia naquele lugar. Alguns, ainda tentaram demovê-lo, mas ele tornou a contar-lhe o que tinha acontecido antes da destruição da sua tribo e da aldeia, dos avisos que tinha recebido e que os seus familiares não acreditaram, dando o resultado que deu. Assim, todos concordaram que deviam procurar outro lugar e no dia seguinte continuaram a viagem e, a cerca de 600 metros a norte do lugar onde muito mais tarde foram construídos os Moinhos Novos, no alto, dali dominavam o rio Guadiana e todo o planalto, foi nesse lugar que construíram a nova aldeia, bem organizada, com boas defesas e um forte grupo de guerreiros, a tribo tornou-se a mais forte da região e recuperou as férteis terras de Capelins, a qual durou até à chegada dos Romanos, há 2.000 anos. Allan, era o chefe da tribo, tal como um rei, teve muitos filhos e a história da sua vida, do passado da aldeia e da tribo da Cinza ficou sagrada e, foi sempre passando de geração em geração, ao longo de mais de um milénio, sendo o talismã desta tribo e a força da sua gente!
 Este povoado, denominava-se “aldeia de Allan”, a mesma que, os arqueólogos agora designaram de “Espinhaço de Cão”, conforme consta no presente documento!

Espinhaço de Cão 1
CNS: 16279
Tipo: Povoado
Distrito/Concelho/Freguesia: Évora/Alandroal/Capelins (Santo António)
Período: Idade do Ferro
Descrição: Sítio de habitat rural, implantado num esporão pouco pronunciado sobre o Guadiana. Estruturas habitacionais, correspondentes a várias fases de construção/reconstrução, com plantas ortogonais.
Meio: Terrestre
Acesso: A partir de Montes Juntos (Alandroal), caminho de terra batida.
Espólio: Cerâmica manual e de roda, mós, objectos de adorno, faunas e carvões.
Depositários: Manuel João do Maio Calado
Classificação: -
Conservação: Regular
Processos: S - 16279, 7.16.3/14-10(1) e 99/1(075)


Aldeia de Allan em Capelins

Veja-se o documento da DGPC sobre a existência da aldeia da Cinza!
Moinho da Cinza 1
CNS: 16273
Tipo: Povoado
Distrito/Concelho/Freguesia: Évora/Alandroal/Capelins (Santo António)
Período: Idade do Bronze - Final
Descrição: Sítio de habitat onde foi possível detectar um silo pouco profundo; uma fossa oblonga de pequenas dimensões e duas pequenas depressões, sem espólio, uma delas estruturada com pequenas pedras, que podem corresponder a buracos de poste.
Meio: Terrestre
Acesso: -
Espólio: Cerâmica manual e de roda e materias de indústrias languedocenses.
Depositários: Manuel João do Maio Calado
Classificação: -
Conservação: -
Processos: S - 16273, 7.16.3/14-10(1) e 99/1(075)

Fim 

Cinza - Capelins 



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