terça-feira, 4 de outubro de 2022

Memórias da chegada do saneamento básico às terras de Capelins

 Memórias da chegada do saneamento básico à Freguesia  de Capelins 

O saneamento básico, é a infraestrutura básica para a garantia de qualidade de vida e de desenvolvimento económico e social de uma comunidade. 

Geralmente, associarmos saneamento básico ao abastecimento de água potável e aos esgotos sanitários, mas na verdade, o saneamento vai mais além, inclui a drenagem das águas pluviais, a limpeza das ruas e a recolha dos resíduos sólidos. 

O saneamento básico chegou ás terras de Capelins, no início da década de 1970, a população desejava a chegada da água canalizada ás suas casas, mas quanto aos esgotos, para alguns eram dispensáveis, por várias razões, não era fácil construir uma casa de banho incluída nas estruturas existentes e estavam remediados com o sistema que sempre se tinha usado, ou seja, satisfeitos em tomar banho num alguidar, quando chovia, ou no verão quando iam à Ribeira de Lucefécit ou Rio Guadiana, e com as estriqueiras ou estrumeiras que recebiam os resíduos líquidos e sólidos produzidos nas respetivas casas, cinzas do lume, pó da casa, estrume dos animais, o lixo de varrer a respetiva rua, até o despejo dos penicos, as quais, eram limpas todos os anos, para fertilizar as terras.

A água potável fazia muita falta, porque, nem toda a gente tinha poço de água, havia os da Junta de Freguesia, em Montejuntos, Faleiros e Ferreira, nesta Aldeia, existiam: o poço do chorão, o poço largo e o poço da bomba, mas depois de um dia de trabalho, era penoso, no inverno e já de noite, quase sempre eram as mulheres que ainda tinham de ir a correr carregar água para abastecer a casa, com um cântaro à cabeça, outro no quadril e muitas vezes um balde na mão.

No início do ano de 1972, começaram a dizer que não demorava em chegar a água canalizada às terras de Capelins, vinda do Alandroal, porque havia lá um rio debaixo do chão que até se ouviam os correntões, o mesmo que fornecia a água à Fonte das seis bicas, onde quase toda a gente ia beber quando visitava a Vila de Alandroal, era só meterem os canos e essa água ficava canalizada nas casas de Capelins.

Ainda nesse ano, chegaram engenheiros e topógrafos a fazer medições e marcações, a firma de Alberto Faustino contratou trabalhadores e, pouco depois, chegaram camiões com máquinas escavadoras, compressores, canos, cimento, areias e outros materiais.

As máquinas escavadoras e os trabalhadores começaram a abrir valas e ramais, nas ruas, largos, travessas, por todo o lado, eram valas para a canalização da água e valas para as canalizações dos esgotos, uma vez que, não podia ser usada apenas uma para ambos os fins, devido ao perigo de contaminação da água potável em caso de rotura em algum cano.

As obras, mesmo apressadas através de empreitadas, foram demoradas e muito inconvenientes, havia valas até às portas das casas e houve algumas peripécias de alguns moradores que por descuido ou com grão na asa, foram parar ao fundo das valas de onde foi difícil sair, mas não ficaram mal e esses azares foram mote para cantigas nas tabernas de Capelins.

As obras da tão importante infraestrutura, desenvolveram-se em toda a Freguesia, durante o ano de 1973, entre a Aldeia de Ferreira e a Igreja de Santo António, a meio caminho, num lugar alto, foi construído um grande depósito intermédio para receber a água, a partir do qual, seria distribuída a água pelas casas da Freguesia e no início do ano de 1974, embora não estivesse completamente pronta, porque continuavam a pedir mais ligações, logo mais ramais, mas já havia condições para fazer a inauguração e, pouco depois,  já corria água potável nas torneiras das casas de Capelins. 

Em 1974, o saneamento básico nas terras de Capelins, ficou muito básico, resolveu alguns problemas sanitários, mas surgiram outros, porque as águas residuais em Ferreira ficaram durante alguns anos a desaguar a céu aberto no ribeiro da estrada, após passarem por uma pequena fossa de tratamento com pouca capacidade, mas ao longo dos anos seguintes, foram feitos melhoramentos e, esta situação ficou resolvida, mas ainda hoje não está completo em redor das Aldeias, e nas mesmas, a drenagem das águas pluviais, em 2022, continuam deficientes, não existem sarjetas subterrâneas. 

A limpeza urbana e a recolha dos resíduos sólidos, ou seja, recolha do lixo, surgiu na década de 1980, sendo depositado num terreno entre as Aldeias de Ferreira e de Montejuntos, junto a um curso de água, o ribeiro do quebra, espalhando-se pela estrada e pelo campo, um cenário muito triste e quando ardia o fumo intoxicava quem por lá passava, tornando-se um problema ambiental muito grave, mas depois de várias queixas, o terreno foi limpo e, esta componente do saneamento básico foi melhorada. 

O objetivo desta narrativa é registar para memória futura, o antes, durante e depois da chegada do saneamento básico às terras de Capelins, no início da década de 1970.

Fim 

Texto: Correia Manuel



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