domingo, 23 de outubro de 2022

Memórias do Chiquinho de Capelins, quando foi enganado com a malagueta

Memórias do Chiquinho de Capelins, quando foi enganado com a malagueta 

O Chiquinho de Capelins, gostava muito de meter o nariz onde não era chamado, por isso, era muitas vezes enganado, pelos rapazes mais velhos. 

Em meados da década de 1960, um dia saiu de casa e foi dar uma volta pela vizinhança na esperança de encontrar algum vizinho para brincar e, ao passar à porta de uma taberna ouviu vozes de rapazes e foi logo lá meter o nariz.

Um dos rapazes era o filho do dono da taberna e, assim que viu o Chiquinho chamou-o e perguntou-lhe se queria um pirolito, já estava com ele na mão, pronto a empurrar a bola de vidro, que o fechava, para dentro e ficaria pronto a beber, eram uns pirolitos do Xico Zé, de Vila Viçosa, feitos com água gaseificada, açúcar e com um aroma muito saboroso, como a gasosa.

O Chiquinho respondeu que queria, e foi a correr até junto do taberneiro, já a saborear o belo pirolito, mas quando lhe deitou a mão, ele recolheu-o e disse-lhe: - Espera lá! Isto não é assim, se o queres tens de o ganhar! 

O Chiquinho ficou quieto à espera do que lhe seria exigido, mas pensou que, se ele o ofereceu, decerto não era para o pagar, até porque, ele não tinha um centavo no bolso e o taberneiro continuou: 

Taberneiro: Se queres o pirolito tens de comer, de uma vez, este pimentão pequenino, não custa nada, dás-lhe uma trincada ou duas e abaixo, e a seguir bebes o pirolito!

O Chiquinho ficou desconfiado que devia ser algum engano, mas pensou que não seria assim tão mau comer um pimentão tão pequenino, e depois ganhava um pirolito, e disse que sim, que comia o pimentão se ele abrisse já o pirolito, era uma segurança.

O taberneiro, respondeu que abria já o pirolito, e abriu, entregou o suposto pimentão ao Chiquinho e disse-lhe que primeiro tinha de lhe ferrar bem os dentes e depois engolir. 

O Chiquinho abanou a cabeça, afirmativamente e pegou no suposto pimentão, que era uma malagueta, e fez o que o taberneiro lhe disse, no início não sentiu nada de anormal, a não ser um mau sabor, mas quando lhe começou a arder na boca, no nariz, nos olhos, parecia fogo, deitou-o fora, mas já era tarde, saiu da taberna a correr o mais que podia, com um palmo de língua de fora, pela rua abaixo, no caminho de casa, mas passou e nem viu a porta e começou a andar às voltas na tapada até se cansar, e foi quando entrou em casa, meteu água num copo, encheu a boca e começou a sentir o fogo a apaziguar, então levou horas a meter água fresca na boca até se sentir melhor. 

Antes da fuga apressada da taberna, o Chiquinho, ainda ouviu as gargalhadas e os comentários do taberneiro e dos rapazes que o acompanhavam, até pulavam a rir e a chamá-lo para beber o pirolito que já estava aberto, mas ele não teve tempo e, durante alguns anos, ficou com aversão a pirolitos e a malaguetas.

Fim 

Texto: Correia Manuel 




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