terça-feira, 4 de outubro de 2022

A lenda da lebre malhada de Capelins

 A lenda da lebre malhada de Capelins

As terras de Capelins, desde sempre, foram consideradas terras de pão, de gado e de caça, onde existia uma montaria Real, conforme consta no livro das montarias do Reino, de 1605!
Há notícias que alguns Reis vieram caçar nestas terras, entre eles, D. Manuel I e D. João IV, assim como a fidalguia da Casa de Bragança, mas também, quase todos os residentes eram caçadores, os mais ricos já com espingardas caçadeiras, nesses tempos, tinham apenas um cano e eram atacadas pela boca, mas muitos caçavam com armadilhas ou com um pau!
Nos finais da centúria de 1800, começaram a dizer nas terras de Capelins que, andava uma lebre malhada na herdade da Amadoreira e no Carrão, a sua pelagem, parecia a de uma bezerra de raça turina, até as orelhas eram malhadas!
No início, poucas pessoas acreditaram, mas cada vez havia mais pessoas a dizer que a tinham visto, como os ganadeiros que ali andavam com o gado a pastar e, alguns caçadores afirmavam que já a tinham levantado da cama à sua frente e dos seus cães e outros diziam que a tinham tido na mira da espingarda, mas nenhum caçador teve coragem de a matar, porque, sentiam um arrepio na espinha, uma vez que não lhe parecia uma lebre!
Nos trabalhos nos campos e nas tabernas, toda a gente falava da lebre malhada e havia poucas dúvidas que a mesma existia, mas também existia o mistério de como é que o animal saiu malhado, porque ninguém tinha conhecimento de alguma vez ter existido uma lebre malhada por aqui, pelo que, a explicação mais plausível era, que só podia ser uma obra da feitiçaria para se divertirem e assustar os capelinenses!
Numa noite do mês de Outubro de 1890, a taberna da Aldeia de Ferreira estava cheia de clientes, a beber uns copinhos de vinho ou de aguardente e falando sobre a lebre malhada, naquele momento, entrou o ti Manuel Sapateiro que, tinha este apelido por ser sapateiro de profissão, mas era conhecido pelo cientista, pediu um copo de vinho e ficou plantado a um canto do balcão atento à conversa dos homens, mas pouco depois, já estava em pulgas para se meter na conversa, e não demorou muito tempo, porque um dos homens reparou nele e perguntou-lhe se sabia porque motivo a lebre era malhada como uma vaca turina!
O ti Sapateiro, empertigou-se todo, passou os dedos pela ponte do bigode e respondeu que sim, sabia muito bem, porque aconteciam esses fenómenos, tinha acabado de ler nos livros que o avô, vindo anos antes de perto de Ceia, lhe tinha deixado!
Alguns homens, não resistiram à postura do ti Sapateiro e nem o deixaram acabar de falar, e disseram em coro: - Foram as feiticeiras!
O ti Sapateiro, abanou a cabeça em sinal negativo e os homens continuaram: - Então, se não foram as feiticeiras o que foi?
- E ele com ar triunfante respondeu: - Foram os astros! E continuou - Os astros andam desalinhados e algum entrou na órbita da Terra e provocou isto, isto e muitos mais, porque quando isso acontece, nascem borregos, chibos e bezerros com cinco patas, os animais ficam estropiados, e algumas pessoas ficam desasadas, é muita desgraceira por aí!
Alguns homens ficaram surpreendidos, mas como não percebiam nada de astros, mesmo andando debaixo do sol, acharam melhor aceitar o que o ti Sapateiro dizia, todos sabiam que ele tinha livros e estava tudo nos livros, por isso, era cientista, sabia tudo, logo, estava dito e esclarecido que a lebre era malhada por culpa dos astros, e ficaram quase todos convencidos, porém, um dos homens mais observador perguntou-lhe:
- Oh ti Sapateiro, então os astros não estão lá no céu?
- Sim, estão! Ora essa! Onde é que haviam haviam de estar? Não sabes onde está o sol? Respondeu o ti Sapateiro!
- Sei, sei! Então e lá no céu quem manda na Terra, na gente e nos animais, em tudo, tirando Deus, não é a Lua? Continuou o homem!
O ti Sapateiro apressou-se a explicar que a Lua era satélite da Terra e tinha muita força, mas os astros ainda tinham mais e eram muito perigosos, até o sol pode abrasar tudo, a nossa sorte, é que estão fora da órbita da Terra e, raramente cá chegam a fazer essas desgraças!
O homem acabou por ficar convencido, entretanto, fizeram-se horas de fechar a taberna e a conversa ficou por ali!
No dia seguinte, já todos os capelinenses sabiam que os culpados por a lebre ser malhada eram os astros, e quando lhes diziam que a descoberta tinha sido do sapateiro cientista da Aldeia de Ferreira, acabavam-se as dúvidas, ficavam convencidos, embora, alguns não percebessem nada dos astros!
A lebre malhada, continuou a ser avistada na herdade da Amadoreira e no Carrão, durante dois ou três anos e nenhum caçador teve coragem para a matar, diziam que parecia uma bezerra turina, até que desapareceu, misteriosamente, deixando a discussão se seria uma lebre ou um lebrão, não deixou descendentes malhados e, os capelinenses diziam que, se era filha ou filho dos astros, eles vieram buscá-la/o!
Nunca mais se viu uma lebre ou lebrão malhados, nas terras de Capelins.
Fim
Texto: Correia Manuel
Capelins 2022 


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