terça-feira, 25 de outubro de 2022

Memórias do poço da bomba, em Capelins

 Memórias do poço da bomba, em Capelins 

O poço da bomba em Capelins, tem cerca de vinte metros de profundidade e no fundo tem duas galerias horizontais que lhe proporcionam uma grande nascente de água, é propriedade da Junta de Freguesia e foi construído no ano de 1958, fica situado a Este da Aldeia de Ferreira, no início da herdade da Defesa de Ferreira, porque era o lugar onde foi encontrada maior quantidade de água subterrânea.

O poço da bomba, era assim desigando, porque tinha uma bomba para tirar a água, constituída por uma grande roda de ferro que era movimentada por uma manivela e acionava o fole de puxar a água para cima, a qual, era direcionada para um pequeno tanque ou para as vasilhas dos utilizadores.

Este poço, abastecia de água muitas casas dos moradores da Aldeia de Ferreira, mas também tinha a pouca distância o lavadouro público, ou seja, os tanques de lavar roupa, onde se juntavam muitas mulheres para lavar a roupa da família, e onde se lavavam as nódoas e as mágoas das agruras da vida de então, ali riam, falavam e choravam, como os tanque estavam arrumados uns aos outros, era fácil o convívio e dava para trocar as novidades que aconteciam de uma ponta à outra da Aldeia e metiam sempre a foice em seara alheia.

Numa quarta feira do mês de Abril de 1960, dia da lavagem da ti Mariana, calhou ficar ao lado da ti Mariana dos bacros, natural de Montejuntos, que tinha este apelido por o marido ser o porqueiro da Casa Dias e habitavam numa casinha muito pequenina de um só compartimento anexa à malhada dos porcos que ficava um pouco acima do poço da bomba, sendo uma boa oportunidade para conhecer melhor a ti Mariana dos bacros. 

A ti Mariana dos bacros tinha com ela um filho, o mais novinho, e a outra ti Mariana tinha com ela uma filha, da mesma idade do rapaz, que brincaram juntos o dia todo, perto das mães. 

Na parte da tarde, com a lavagem adiantada, a roupa ainda estava a corar ao sol, depois era só batê-la e pô-la a enxugar, então a ti Mariana dos bacros disse que tinha de ir à malhada fazer lume e pôr as sopas ao lume para estarem prontas quando o marido voltasse à noite, com os bacros à malhada e perguntou aos gaiatos se queriam ir com ela ou ficar ali a brincar? 

O filho respondeu que queria ir, e ela convidou a menina para os acompanhar, porque passava melhor o tempo e ela foi, onde se demoraram cerca de uma hora. 

Quando voltaram ao poço da bomba, o rapaz vinha num grande pranto, com um bocadinho de pão na mão, de velas acesas, ou seja, necessidade de se assoar, mas num estado que dava dó, chamando a atenção das mulheres, que perguntaram se tinha caído ou o que lhe tinha acontecido? 

Então, a mãe contou que ele estava com uma birra, porque antes de sair da malhada perguntou às crianças se queriam um bocadinho de pão, elas aceitaram e quando ela questionou se queriam sêco ou com azeitonas, eram as duas opções que tinham, a menina disse que queria azeitonas, mas o filho disse que queria sêco, e quando fechou a porta, para voltar ao poço da bomba, o rapaz começou a chorar e a dizer que queria o sêco para acompanhar com o pão e por muito que a mãe lhe explicasse que sêco queria dizer pão sem mais nada, ele não se convencia e, desde a malhada até ali, não tinha parado de pedir o sêco para comer com o pão.

Algumas mulheres tentaram consolar o rapaz e explicaram-lhe o que a mãe já lhe tinha explicado, mas não adiantaram, a birra era grande e, enquanto a mãe ali esteve a acabar a lavagem, o rapaz não saiu de junto dela a pedir o sêco.

Fim 

Texto: Correia Manuel



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