terça-feira, 4 de outubro de 2022

O divertimento na mocidade do ti Bate Estacas

 As conversas ao serão, nas tabernas de Capelins

O divertimento na mocidade do ti Bate Estacas
Através dos Registos Paroquiais de Santo António, existentes desde 1573, verificamos que, alguns padres indicavam a profissão dos seus fregueses, no registo de nascimento dos filhos ou nos registos de casamentos, assim, além das profissões de lavradores, jornaleiros, ganadeiros, alvanéus, seareiros e outras, também, desde muito cedo encontramos a profissão de taberneiro, o mesmo é dizer que, por aqui, existiam tabernas desde longa data e, conforme contavam os nossos antepassados, até existia uma no Monte do Escrivão.
As tabernas, também chamadas vendas, eram lugares onde vendiam vinho e petiscos, aguardente doce e amarga, licor, escarchado de anis, genebra, pirolitos, gasosas e laranjadas e pouco mais, também eram lugares de encontro entre os homens da Aldeia e da região, para cantar, declamar versos, conversar, jogar jogos populares e para trocar as novidades da região, sendo assim ao longo de séculos.
Nos finais do decénio de 1960, a vida económica e social do país estava em mudanças, melhorando um pouco, chegando, naturalmente às terras de Capelins, beneficiando as tabernas, verificou-se mais consumo de cerveja e de novas bebidas, pelo que, as novas gerações, sedentas de coisas novas e mais aliviadas dos trabalhos pesados do campo, com a substituição por máquinas, demoravam-se até mais tarde nos serões nas tabernas.
Num serão no mês de Junho dessa época, estava um grupo de rapazes fazendo grande algazarra numa das cinco tabernas de Ferreira de Capelins, quando entrou de rompante o ti Bate Estacas, apelido como era conhecido na Aldeia, nem deu as boas noites, notando-se que não estava bem disposto, então um dos rapazes apressou-se a oferecer-lhe uma bebida que, ele recusou com alguns gestos diabólicos, mas o rapaz não desistiu e ajudado pelo efeito de algumas minis que já tinha bebido, disse-lhe: Então, se não quer beber nada o que vem aqui fazer?
O ti Bate Estacas ainda ficou mais irritado e respondeu que, ele não tinha nada com isso, mas vinha ver que balbúrdia era aquela, porque ouvia-se tudo ali no camalho (cama) no farjal (ferragial), e não conseguia dormir!
Os rapazes já bebidos responderam que não dormia por causa das grandes sestas, não era do barulho que se fazia ali na taberna e que ainda era muito cedo, não eram horas de deitar, e além disso, as tabernas tinham licença para se fazer barulho!
O ti Bate Estacas foi-se afastando para os lados da porta de saída, depois virou-se para o grupo e disse-lhe: Tenho muita pena de vocês, porque nem se sabem divertir, no meu tempo, é que era bom, a gente é que nos sabíamos divertir, à noite juntavam-se todos ali no pial (poial) do Forno da Aldeia e era traque e mais traque, ao desafio, e sempre a falar nelas. E com esta me vou, para o camalho.
O grupo de rapazes, começaram a rir e foi rir e mais rir até a taberna fechar e, assim acabou mais um serão naquela taberna de Ferreira.
Fim 
Texto: Correia Manuel 
Forno Comunitário de Ferreira de Capelins 


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