terça-feira, 4 de outubro de 2022

Memórias da chegada da eletricidade a Capelins

 Memórias da chegada da eletricidade a Capelins  

As Gentes de Capelins, à noite, avistavam as luzes de várias localidades vizinhas, portuguesas e espanholas e, sonhavam com o dia em que as suas Aldeias, também, tivessem luz elétrica, como as que se avistavam e, dos lugares mais elevados, identificavam vilas e cidades mais ou menos distantes.
Os proprietários das principais tabernas e casões de bailes de Capelins, compraram televisores, mas como não havia eletricidade para lhe fornecer energia, tiveram de comprar motores a diesel que trabalhavam conforme os programas mais interessantes transmitidos na televisão e a exigência dos clientes, geralmente aos domingos começavam a trabalhar pelas 16 horas e, se transmitissem uma tourada noturna, ou o festival da canção ou da Eurovisão, podiam trabalhar até além da meia noite, fazendo muito barulho, mas não havia outra maneira de ver televisão.
No início do ano de mil novecentos e sessenta e nove, começaram a dizer que, vinha aí a luz eletrica, mas poucos sabiam explicar como chegava até Capelins, sabiam que, precisava de fios e postes de cimento muito altos, mas não sabiam como entrava na casa de cada família, gerando algum misticismo.
Esta novidade passou a ser o tema das conversas do dia a dia e, mais uma vez, os poetas populares, não perderam a oportunidade em apresentar os seus versos, as suas cantigas baseadas na eletricidade que, cantavam pelas tabernas de Capelins à luz dos candeeiros a petróleo, de velas, ou das candeias de azeite!.
Confirmou-se que, era verdade o que se ouvia em Capelins, passados poucos meses começaram as obras, chegaram camiões carregados de materiais, máquinas, postes de cimento, posteletes, canecas e fios, abriram buracos para os postes por todo o lado, sendo, armadilhas para os mais descuidados ou os que andavam com o grão na asa.
Nos finais do ano de 1969, os postes de cimento e os posteletes de metal já estavam nos seus lugares, então começaram a ligar os fios às canecas entre os mesmos, mas ainda no verão desse ano, iniciaram as instalações eletricas dentro das casas, chegaram eletricisitas e ajudantes, rapazes estudantes dessa área, na Escola Industrial de Évora, que estavam em férias e, rapidamente fizeram as instalações dos fios, interruptores e tomadas, assim como, a colocação de lâmpadas pelas ruas, travessas e veredas e com tudo pronto, foi marcada a inauguração da luz na Freguesia de Capelins para o dia 14 de Fevereiro de 1971.
Na noite da inauguração, ou seja, do cortar da fita, foi acompanhada por música da Banda Filarmónica de Alandroal, uma grande festa, foguetes e um grandioso baile, já iluminado pela luz elétrica, no lugar dos habituais candeeiros petromax que ficaram inativos.
A chegada da eletricidade, à Freguesia de Capelins, entre outros benefícios, também foi um contributo para a cultura local, em várias vertentes, surgiram novos vocábulos até aqui desconhecidos ou pouco conhecidos, como posteletes, canecas, interruptores, tomadas, extensões, lâmpadas, contadores, fusíveis, choques eletricos, era preciso um curso para perceber o significado de cada um dos novos elementos, dando origem a peripécias, porque muitas vezes eram trocados uns pelos outros, ao contrário das suas funções, mas o importante foi a realização dos sonhos dos capelinenses, além da iluminação nas suas casas e das ruas, puderam comprar alguns aparelhos eletricos, como frigoríficos, ferros de engomar, televisores e outros instrumentos, que contribuíram para o desenvolvimento da Freguesia e para melhor qualidade de vida. 
Os motores geradores de energia eletrica, a diesel, foram silenciados, permitindo melhor descanso aos vizinhos que, eram muito incomodados, nas noites em que as televisões davam programas que acabavam mais tarde, não conseguiam descansar, com o barulho dos motores que pela noite dentro se ouviam por toda a Aldeia.

Fim 

Texto: Correia Manuel 

Lugar da chegada da eletricidade a Ferreira de Capelins, ou seja, PT Posto Transformador ou cabine, como lhe chamavam, à direita. (Já não existe).





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