terça-feira, 25 de outubro de 2022

Memórias da paródia dos rapazes, no rio Guadiana

 Memórias da paródia dos rapazes, no rio Guadiana 

Num mês de Junho do início da década de 1970, antes das dez horas da manhã já estava um grupo de rapazes numa taberna da Aldeia de Ferreira, alguns de férias e outros não tinham nada para fazer.

O rapaz mais velho chamado João, perante um dia tão longo pela frente, exclamou para os outros: - Já viram as horas que são? Como é que a gente passa aqui um dia inteiro na taberna, mesmo que jogamos às cartas, mas isso cansa! O que acham se fossemos fazer uma paródia no rio Guadiana? 

Rapazes: Mas como é que vamos fazer uma paródia? Já a esta hora e não temos nada, nem peixes, nem temperos, nem pão, nem colheres, nem garfos, nada, nada! E vamos para onde?

João: Vamos para as Azenhas D' El-Rei e não é preciso levar nada, a não ser vinho, há lá sempre gente nas paródias, decerto que há lá alguns conhecidos e alguma coisa nos hão-de dispensar! Quem é que quer ir?

Os rapazes responderam em coro: - Eu, eu, eu! 

João: Então temos de ir já, vamos lá comprar um garrafão de cinco litros de vinho tinto e vamos embora! 

O João pediu o garrafão de vinho e angariou o dinheiro de cada um, pagou e partiram sem levar nada de comida, nem copos para beber o vinho e nem saca rolhas. 

Antes da partida, a taberneira disse várias vezes que queria o garrafão de volta e inteiro, alguns rapazes ainda disseram que se ele não voltasse que o pagavam, mas ela acentuou que queria o garrafão, não era o dinheiro dele.

O garrafão de vinho era pesado, mas o entusiasmo era muito grande e foi feito um esquema em que cada um tinha de o levar dez minutos, dava uma hora, era o tempo suficiente para chegar ao destino e chegou.

Quando os rapazes chegaram ao Moinho das Azenhas D'El-Rei estava deserto, não havia ninguém à vista, mas não perderam a esperança de ainda aparecer alguém para alguma paródia e colocaram o vinho dentro de água para refrescar e foram tomar banho no correntão abaixo do Moinho.

O tempo foi passando e não aparecia ninguém, alguns rapazes ainda falaram em ir apanhar alguns peixes nas lapas, para assar e davam para petisco do vinho, mas surgiu outro problema, não tinham sal e o peixe sem sal não tinha sabor, assim, foram ver se estava por ali algum pescador que lhe desse um punhadinho de sal, mas não havia ninguém, um dos pescadores tinha ido a sua casa em Montejuntos e o outro estava em casa na Aldeia de Ferreira, então, decidiram abrir o garrafão de vinho com um canivete e começara a beber pelo garrafão, a olhómetro, porque não havia copos.

Não foi presciso muito tempo  e começaram a variar , a implicar uns com os outros por tudo e por nada, pelas quinze horas cheios de fome, decidiram ir embora e como o sítio mais próximo onde podia haver comida era na Aldeia de Montejuntos decidiram ir por lá, enchiam a barriga e depois dali, já faziam melhor o caminho até à Aldeia de Ferreira e todos concordaram com essa volta. 

O garrfão ainda tinha mais de um litro de vinho e decidiram não o deitar fora, porque se o carregaram com cheio, melhor o transportavam com aquela quantidade, que ainda podia ser aproveitada para um petisco no dia seguinte.

A viagem de volta à Aldeia de Ferreira, começou bem e foi implementado o mesmo esquema, cada rapaz levava o garrafão o mesmo tempo da ida, e os primeiros dois rapazes levaram-no o tempo acordado, mas o vinho fazia cada vez mais efeito e quando o segundo rapaz acabou o turno e pretende entregar o garrafão a outro, todos se negaram, com a desculpa que ainda não estava na vez deles, porque para lá não tinha sido essa a ordem, porque nem foi definido que o primeiro era o João, depois o Xico e depois o outro, porque tinha de passar por todos e deu-se uma grande confusão, ficando o garrafão ao centro da estrada e os rapazes seguiram.

Quando já estavam a cerca de um quilómetro, sempre em acesa discussão, um dos rapazes lembrou os outros do que a taberneira tinha dito, "queria ali o garrfão, não era o dinheiro do seu valor" e pararam para decidir como fazer, e depois de muitas trocas de acusações houve um dos rapazes que voltou atrás a buscar o garrafão, mas sempre a barafustar em voz alta, e quando se juntou aos outros, disse que já não ia por Montejuntos e os restantes foram desistindo e acabaram por virar pela estrada que vinha dos Moinhos Novos pelas Bispas, Silveirinha, Poço da estrada, Monte do Marco e chegarm à taberna onde entregaram o garrafão são e salvo e já não quiseram o resto do vinho, porque vinham todos brigados, mas no dia seguinte já estavam todos juntos e como se nada tivesse acontecido, prontos para outra paródia no rio Guadiana.

Fim 

Texto: Correia Manuel 


Capelins



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