A lenda da cura das crianças quebradas, na noite de São João
Conta a lenda que, os nossos ancestrais acreditavam ser curados através de rituais profanos religiosos, transmitidos de geração em geração, desde tempos distantes, entre outrs, existia a cura das crianças quebradas, ou com hérnia infantil, cuja cerimónia era feita à meia noite, de S. João.
Em Capelins havia uma criança que, pouco depois de nascer, a mãe reparou que tinha uma pequena hérnia, sendo quebrado, ficando triste e muito aflita, mas ao comentar com sua mãe, ela garantiu-lhe que não era nada de grave, numa noite de S. João o menino seria curado.
Assim, no início do mês de Junho, secretamente começaram os preparativos, tinham de encontrar a madrinha e o padrinho que, teria de ser uma menina de nome Maria e um menino de nome João, ambos puros, ou seja, virgens, sendo uma tarefa da mãe e da avó e de encontrar um vimeiro ou um marmeleiro que fazia parte da mezinha, era igual ser uma ou outra destas espécies e como o vime ficava muito distante, só havia na Ribeira de Lucefécit ou no Rio Guadiana, escolheram o marmeleiro, e seria uma tarefa do pai.
Depois de tudo preparado, foi explicado à madrinha e ao padrinho, o que tinham de fazer e de dizer, recebendo algum treino, nessa noite uma hora antes, reuniram-se na casa dos pais da criança, onde beberam um aniz escarchado com um pedacinho de bolo e esperaram a hora da partida, todos juntos, para o lugar da cerimónia.
Aproximava-se a meia noite, quando, na escuridão brilhou a luz de um lampião e, um grupo de homens e mulheres chegou à horta do Cebolal onde existiam alguns marmeleiros, acercaram-se de uma dessas árvores já antes escolhida, na qual, junto do seu tronco estavam alguns rebentos com várias dimensões, depois, o pai da criança que fazia parte do grupo e tinha jeito para mestre de cerimónias, escolheu um dos rebentos do marmeleiro e com uma navalha rachou-o de alto a baixo, prendeu um cordel a cada ponta em cima e atou em baixo de forma a fazer um arco.
O grupo estava silencioso, numa atitude devota e recolhida, esperando a chegada da meia noite.
Por momentos, a criança choramingava e, logo de todos os lábios saiam prolongados pchius, ficando tudo de novo em silêncio, só perturbado pelo coaxar das rãs, pelo piar das aves noturnas e do ladrar dos cães à distância.
Quando os ponteiros do relógio do mestre da cerimónia chegaram à meia noite ele fez um sinal e o João que se conservava imóvel, recebeu a criança nos seus braços e a seguir disse:
- Maria?
E ela respondeu:
-João!
E o João disse:
- Toma lá este menino quebrado e dá-me o cá são!
Nesse momento, o João que estava de um lado da vara do marmeleiro e a Maria do outro, passou a criança por cima da vara sem lhe tocar com o corpo, para os braços da Maria.
A criança estava nua, apenas ligada com uma fita branca, feita de um coeiro e, depois de ser passada de um, para o outro lado, três vezes, sempre repetindo aquelas palavras, as duas partes da vara do marmeleiro foram bem ligadas com a fita, mas antes a vara e a criança foram besuntados com mel, pela avó, porque, segundo ela, fazia bem e era melhor assim.
Por fim, rezaram todos, um Pai Nosso e uma Ave Maria em louvor da Virgem Santíssima e de S. João Baptista e partiram para a Aldeia, regressando a suas casas, com muita fé na cura da criança.
O marmeleiro continuou a ser visitado e protegido, durante os meses seguintes pelo pai da criança para observar se a dita vara estava a regenerar, era o sinal de que a criança ficava curada, porque, no caso de secar, a criança não se curava e a cerimónia tinha de ser repetida no ano seguinte.
A vara do marmeleiro regenerou. e a criança quebrada, ficou curada.
O João e a Maria ficaram compadres e padrinhos da criança até ao fim das suas vidas.
Fim
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