sábado, 1 de outubro de 2022

A lenda da mulher vestida de branco, no açude do Moinho das Neves

 A lenda da mulher vestida de branco, no açude do Moinho das Neves 

O ti Manel António, morava junto à Igreja de Santo António de Capelins e trabalhava na herdade de Santa Luzia, indo a casa fazer a mudança da roupa e ver a mulher e os filhos aos sábados à noite, voltando a Santa Luzia nos Domingos à noite ou na segunda-feira de madrugada. 
Num sábado do mês de Abril de 1890, depois da ceia (jantar) o ti Manel pôs-se a caminho de casa e, como habitualmente, foi passar a Ribeira de Lucefécit por cima do açude do Moinho das Neves.
Como no céu passeavam algumas nuvens, por vezes, ofuscavam o luar,  mas isso não era problema para o ti Manel, porque conhecia bem o caminho que pisava, chegou à Ribeira e entrou no açude muito devagarinho, porque não deixava de ser perigoso, podia tropeçar ou escorregar em alguma pedra e ia cair no pego que ficava na parte de baixo e ainda era fundo.
Quando o ti Manel chegou a meio do açude, a lua ficou descoberta e a noite aclarou, ele levantou os olhos e viu na sua frente uma mulher sentada com as pernas penduradas para o pego, tinha cabelos negros muito compridos e soltos e estava toda vestida de branco, o homem assustou-se, sentiu um calafrio e parou de caminhar, ficando sem saber o que fazer, mas por impulso gritou bem alto: " O que está a fazer aqui? Posso passar? A mulher não se mexeu, mas respondeu pausadamente: - "Quem vai, vai, e quem está, está"! 
O ti Manel esteve um minuto sem reagir, por fim decidiu continuar, passando por ela a rasar sem lhe tocar, e assim que chegou mais à frente começou a ouvir a mó do Moinho a fazer farinha e ficou mais calmo por saber que o moleiro estava por perto! Passou por detrás do Moinho, pôs o pé em terra firme e foi a correr dizer ao moleiro que estava uma mulher vestida de branco sentada no meio do açude! 
O moleiro ouviu o ti Manel e no fim disse-lhe: "Oh ti Manel, isso não pode ser"! Ah aí alguma confusão! 
- Não há confusão nenhuma! Até falei com ela! Venha lá ali a ver, que ela ainda ali está! Disse o ti Manel! 
O moleiro andava em ceroulas, vestiu as calças, calçou umas alpargatas e foram os dois até ao açude, passaram até Santa Luzia, voltaram ao ponto de partida e nada, não viram mulher nenhuma.
Está a ver, como lhe disse foi confusão sua! Disse o moleiro! 
Não foi confusão nenhuma, foi porque ela fugiu ou foi levada pela corrente! Disse o ti Manel! 
Olhe, se foi na corrente, logo vai aparecer aí para baixo, eu tenho mais que fazer! Disse o moleiro e entrou para o Moinho! 
O ti Manel despediu-se e seguiu pelo Vale de enxofre acima, chegando, rapidamente a Capelins de Cima, sempre com a mulher vestida de branco metida na cabeça e falando sozinho.
Entrou na taberna em Capelins de Cima, pediu um copo de aguardente e começou logo a contar ao taberneiro e aos fregueses o que lhe tinha acontecido. 
Alguns fregueses, já tinham bebido uns copinhos de vinho e de aguardente a mais e começaram a rir e a cantar versos, sobre o acontecimento, claramente a fazer pouco do ti Manel que, ficou muito zangado, pagou o copo de aguardente e seguiu para sua casa. 
O ti Manel, ficou tão humilhado que, nunca mais falou do caso a ninguém, mas tinha a certeza que não tinha sido imaginação sua e continuou com a esperança de a encontrar no mesmo lugar, a mulher vestida de branco nunca mais apareceu pela Ribeira de Lucefécit, mas as pessoas que conheciam bem o ti Manel e sabiam do sucedido, diziam que, só podia ser obra do Lucifer, senhor desta Ribeira. 

Fim 

Texto: Correia Manuel

Junto ao Moinho das Neves 




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