terça-feira, 4 de outubro de 2022

Memórias do cante de malaguenhas e monsarenhas em Capelins

 As conversas ao serão, nas tabernas de Capelins

Memórias do cante de malaguenhas e monsarenhas em Capelins

Numa noite do mês de Agosto de 1969, estava muito calor, mas isso, não impedia o serão dos fregueses de uma das tabernas de Ferreira de Capelins!

Como habitualmente, lá estava o grupo de rapazes, em volta de uma mesa, agora em maior número, porque havia alguns, que estavam na marinha ou noutros empregos, a passar férias, também por isso, havia mais homens encostados ao balcão em conversa animada sobre as agruras da vida e os jogadores de xito, andavam na sua saudável discussão, sobre de quem era o ponto quem dava as datas, envidava ou revidava! 

Os rapazes bebiam cervejas minis, uns bebiam Clock e outros Sagres, mas ao balcão, tirando um ou dois fregueses, que também bebiam minis, os outros bebiam vinho com petisco, que como quase sempre, era batatas fritas caseiras com uma migalhinha de pão, tudo por conto!

Devido ao efeito do vinho e a pedido de alguns companheiros, dois fregueses, começaram a cantar ao despique, animando, ainda mais o ambiente da taberna!

Os rapazes falavam alto, porque, só assim eram ouvidos, mas quando se aperceberam do cante que se armou entre dois conceituados cantadores de taberna, calaram-se e ficaram a ouvir durante algum tempo, mas como não faziam parte daquele grupo de cantadores, começaram eles a cantar em tom mais baixo e pediram a um dos rapazes que cantava bem, para cantar uns versos feitos pelo seu pai, que era um dos poetas populares de Capelins, e dos quais, todos gostavam!

Naquele momento, entrou o ti Bate Estacas que, como sempre, não cumprimentou ninguém, ficou especado no meio da taberna e mirou toda a gente de alto a baixo!

Alguns rapazes ofereceram-lhe uma bebida, mas ele recusou, então um dos rapazes, para o irritar disse-lhe: - Então se não quer beber nada, o que quer daqui? - Deves ter muito a ver com isso! Hoje, com este calor e com este cante é que não me deixam dormir, ouço tudo clarinho lá no meu camalho! Respondeu o Ti Bate Estacas!

O rapaz cantor, continuou a cantar, sendo acompanhado em coro pelos outros rapazes em alguns versos e o ti Bate Estacas apurou o ouvido e ficou a escutar o cante e a conversa dos rapazes que, comentavam como era o cante das tabernas e, quase todos afirmavam que cantavam bem, fosse ao despique, fossem Malaguenhas ou Monsarenhas e, alguns iam cantando algumas cantigas de diversos estilos!

O Ti Bate Estacas, escutava com atenção e, abanava a cabeça em sinal de aprovação, parecia que estava a gostar, por fim, aproveitou uma pausa, dirigiu-se aos rapazes e disse-lhe: - Vocês não sabem cantar, nem Malaguenhas nem Monsarenhas! E com esta me vou para o meu camalho!  

Os rapazes começaram a rir e, fizeram grande festa sobre o comentário do ti Bate Estacas e, foi só rir, assim acabou mais um serão naquela taberna de Ferreira de Capelins.

Fim 

Texto: Correia Manuel 



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