segunda-feira, 3 de outubro de 2022

A lenda do baile do diabo no Monte da herdade do Carrão

 A lenda do baile do diabo no Monte da herdade do Carrão

 O Monte da herdade do Carrão situava-se entre os atuais Montes do Carrão e o Monte do Roncão, no outeiro à esquerda, antes de chegar ao Monte do Ladrilho e, ao Ribeiro do Carrão, do qual, já não existe nenhum vestígio, mas sabemos o lugar exato, onde o mesmo estava erigido. 
No dito Monte, no ano de 1697,  morava o lavrador Manoel Roíz (Rodrigues) e sua Família, constituída pela mãe, Ti Apelónia Gliz (Gonçalves), a esposa Ti Maria Josefa, seis filhas e dois filhos, com idades entre os 10 e os 29 anos de idade. 
Como as filhas estavam todas em idade de casar e, ainda nenhuma namorava, a situação estava a tornar-se preocupante para os lavradores, até que, um dia o lavrador não se conteve mais e encetou uma conversa com a lavradora:
Lavrador: Oh mulher, já há algum tempo que ando cismando com uma coisa, tem a ver com as nossas filhas! Já têm a idade que têm e, não vejo rapazes interessados nelas! Não tens visto por aqui nenhum galhavano, filho de algum lavrador da região, claro, a arrastar-lhe a asa? 
Lavradora: Eh Manoel, até parece que adivinhaste que eu queria falar isso contigo! Pois, não sei o que isto me parece! Não, não vejo nenhum rapaz interessado nas nossas filhas, umas raparigas tão bonitas, sabem fazer tudo! Ninguém tem nada a apontar-lhe e, depois, uma coisa destas!
Lavrador: Pois é, Maria! Não é que a gente tenha pressa em as casar, mas as coisas são como são, quase todas as raparigas da idade delas, ou namoram, ou já casaram, não sei, não sei o que diga! 
Lavradora: Eu também não sei, mas tenho pensado muito nisso e não encontro explicação, mas parece-me cá a mim, que tem a ver, por elas aparecerem pouco e, como sabes, quem não aparece esquece! Há por aí muitas raparigas, logo, algumas vão ficando esquecidas e ficam solteironas! 
Lavrador: Oh Maria, então querias pôr as nossas filhas à amostra aonde? Aí à roda da estrada para os rapazes as verem? Não entendo essa tua ideia! 
Lavradora: Não, Manoel! O que eu quero dizer é que as nossas filhas saem pouco aqui do Monte, raramente vão às festas a Terena, Alandroal, Elvas, Montoito, Monsaraz, como vão as outras, por isso, aparecem pouco nos lugares onde vão os rapazes e raparigas filhos dos outros lavradores da região! 
Lavrador: Cala-te mulher! Então, assim não faziamos mais nada, senão andar a mostrá-las pelas festas, os rapazes sabem onde elas estão! 
Lavradora: Então, se não queres levar as nossas filhas às festas, como a outra gente, eu achava que, quando o trabalho estiver mais desafogado aqui na herdade, podíamos fazer um baile aqui no Monte e convidavamos os outros lavradores para trazerem os filhos e filhas! É assim que alguns estão a fazer! 
Parte 2 de 5
Lavrador: Eh mulher, não gosto nada disso, até parece que estamos desesperados a oferecer as nossas filhas, mas de verdade não estou a ver outra alternativa! E como é que fazíamos isso do baile?
Lavradora: Oh Manoel, fazemos como os outros! Se tu deixares fazer o baile aqui no Monte, eu e as nossas filhas tratamos de tudo, só precisamos das tuas ordem! 
Lavrador: O que hei-de fazer? Está bem, Maria! Sendo assim, as ordens estão dadas, mas muito tino nas cabeças! Já sabes que não quero falatório! Tomem muita atenção ao que vão fazer! 
Lavradora: Fica descansado, homem! Vamos fazer tudo igual à outra gente!
A lavradora foi a correr contar às filhas que, o pai tinha dado ordem para fazerem um baile para convidados ali no Monte, quando elas quisessem! As raparigas nem queriam acreditar, ficaram muito entusiasmadas e, começaram logo a ditar ideias sobre a preparação, quem convidavam, quem tocava e cantava no baile, a roupa que tinham de fazer, os penteados, os bolos, as bebidas que deviam ser, vinho, aguardente, licores e chá, era isso que as outras raparigas faziam para receber os convidados dos seus bailes, por isso, tinha de ser tudo igual!  
Os preparativos começaram ainda nesse dia, não podia falhar nada, porque a sua vida amorosa podia depender desse baile! 
Como o pai deu ordens para fazerem igual aos outros lavradores, ou ainda melhor, decidiram contratar a Lolita e seus muchachos, uma espanholita amigada com um português de Monsaraz e, com os filhos, andavam de Monte em Monte das herdade a abrilhantar os bailes, tocavam, cantavam e dançavam, eram do melhor que existia na região! 
O grande baile foi marcado para sábado dia 02 de Maio de 1699 e, começou, imediatamente a ser o principal tema das conversas nas terras de Capelins, diziam que era um acontecimento como nunca por ali se tinha assistido! 
Chegou o dia do baile e, no Monte do Carrão verificava-se um movimento anormal, as raparigas e, as criadas, andavam todas num virote para não faltar nada e não dar motivo a conversas maldosas! 
Ao cair da noite, começaram a chegar os convidados que, eram recebidos pelos lavradores, pelos filhos e filhas, todos muito bem apresentados! Os convidados já vinham ceados, (jantados) mas as mesas estavam cheias de comida e bebidas, enchendo o olho aos que iam chegando! 
Como a Lotlita já estava tocando e cantando, um pouco tímidos, os que se conheciam melhor e seus familiares começaram a dançar! As anfitriãs estavam a ficar para trás, porque os rapazes pensavam que elas não sabiam dançar, mas estavam muito enganados, elas tinham treinado com boas mestras, antes do baile! Os pais dos rapazes convidados, ao notarem que os filhos não estavam a dar atenção às filhas do lavrador, apressaram-se a fazer-lhe sinal para as pedirem para dançar e, pouco depois, já andavam todas a dançar! 
Com grande surpresa dos presentes, as raparigas dançavam tão bem, que nem as afamadas dançantes das terras de Capelins, as conseguiam acompanhar. 
O baile estava muito animado, porque com a Lolita era mesmo assim, repentinamente, ouviram-se três pancadas na porta, tão fortes que a mesma, quase saltava dos cachimbos, assustando os que se encontravam mais próximos dela! Os lavradores pensaram que, eram alguns convidados que vinham atrasados e tinham batido com tanta força para as pancadas se ouvirem além da música, mas ao mesmo tempo, ficaram apreensivos, porque pelas suas contas já ali estavam os convidados todos, no entanto, foram abrir a porta, levaram uma candeia nas mãos para dar luz e depararam-se com um rapaz alto, magro, bem vestido, de fato claro de bom corte e, com um chapéu dos que só eram usados por fidalgos da Corte! O rapaz pediu muita desculpa pela sua presença ali e, apresentou-se como sendo da família Freire de Andrade, sobrinho dos anteriores senhores da Vila de Ferreira! Contou que vinha da Vila de  Mourão e dirigia-se para Olivença, pensava ir dormir ao Monte do Aguilhão, por ser de pessoas amigas da família e logo cedo, passava o rio Guadiana na ponte da Ajuda e chegaria ao destino ainda na parte da manhã, onde o esperavam para tratar de negócios, mas ao passar por ali, ouviu a musica e como gostava muito de dançar não se conteve sem vir pedir se o deixavam dar um pézinho de dança! 
O lavrador olhou para ele e pensou que tinha um fidalgo na sua frente, como a conversa era bem consertada, disse-lhe que, não era nenhum baile da Corte, mas que a sua humilde casa estava à sua ordem, podia entrar, era seu convidado! 
Quando o estranho entrou no baile as raparigas começaram todas a cochichar, porque pensaram que o desconhecido era mesmo um fidalgo! A musica da Lolita e seus muchachos continuava animada, o estranho, assim que fizeram intervalo para trocar pares, não perdeu tempo e foi logo pedir a uma das filhas do lavrador para dançar e, não demorou nada a darem nas vistas, aquilo não era dançar, era levitar, a seguir foi dançando com todas, uma a uma, sempre igual, estava toda a gente abismada, enfeitiçada, com aquele espetáculo, por toda a casa ouviam-se comentários de grande admiração. 
O baile, foi planeado para acabar antes da meia noite, mas com tanta animação, ninguém reparava nas horas e, o mesmo continuou até à meia noite, acabando de forma estranha, o suposto fidalgo desapareceu sem ninguém dar por ele, a porta não se abriu, mas ele ali não estava, os lavradores pensaram que, devido ao entusiasmo, nem tinham dado pela sua saída, mas achavam estranho ele nem se ter despedido, nem agradecido o convite! O baile acabou logo, fizeram-se as despedidas e os agradecimentos e os convidados partiram para os seus Montes. 
As filhas do lavrador do Monte do Carrão, ficaram todas debaixo de olho dos filhos dos lavradores seus convidados, porque foi um baile, como nunca tinham assistido e, de verdade, as filhas do lavrador Manoel Roíz, foram as estrelas da noite, deixaram toda a gente surpreendida, também, devido à exibição nas danças com o desconhecido! Durante alguns meses, não se falava noutra coisa nas terras de Capelins, por isso, a cobiça pelas filhas do lavrador era enorme. 
As raparigas que, parecia estarem condenadas a ficar solteiras, graças ao grande baile e, ao que nele se passou, em poucos meses começaram todas a namorar e passados dois anos estavam todas bem casadas com filhos de lavradores da região. 
Em Setembro de 1699, a mãe do lavrador, a lavradora Apelónia Maria, adoeceu e sentindo que estava no final da sua vida, chamou o filho e a nora à cabeceira da cama e disse-lhe: 
Ti Apelónia: Filhos, chamei-os aqui porque sinto que não vou estar na vida presente por mais tempo e não posso abalar sem lhe contar o que se passou no grande baile, aqui no Monte há dois anos! 
Lavrador: Oh mãe, deixe-se disso, não abala, não! A Maria Josefa faz-lhe uns caldinhos de galinha e vai ficar boa! 
Ti Apelónia: Eu sei muito bem, o que estou a dizer! Por isso, continuando, não podia partir sem lhe contar um segredo que guardei estes dois anos e, não duvidem de nada do que lhe vou contar, porque estou nas abaladas, mas ainda estou boa da cabeça! 
Lavrador: Oh minha mãe, por quem é? Eu não duvido de nada do que nos contar! Vá conte lá!
A ti Apelónia Maria, já muito cansada e com dificuldades respiratórias, foi fazendo algumas pausas e contando o seu segredo, deixando os lavradores boquiabertos e assustados! 
Ti Apelónia: Lembram-se do sucesso que teve o baile que organizaram aqui no Monte, no dia 1 de Maio de há dois anos? 
Lavradores: Oh mãe, quem não se lembra, ainda hoje se fala disso, nunca houve nada igual por aqui! 
Ti Apelónia: Pois, filho, não houve, não! Sabem, que o mais certo, foi graças a esse baile que a suas filhas arranjaram os maridos que arranjaram, dos melhores que por aí há! 
Lavrador: Sim, mãe, não temos dúvida que foi ese baile que as deu a conhecer aos maridos que têm! Foi o destino que estava traçado  assim! 
Ti Apelónia: Sim, filho, acho que neste caso o destino foi riscado por a mão de alguém e, eu sei quem foi, por isso, é esse o segredo que lhe tenho de contar, não sei se isto fica por aqui! 
Lavrador: Mau, mau, mãe! Está a deixar-nos assustados, não me diga que isso foi alguma bruxaria, das boas? 
Ti Apelónia: Temo que sim, filho! 
Lavrador: Eh lá, mãe! Iso não me está a agradar nada! Então as nossas filhas, suas netas, casaram bem, por obra de bruxaria? Não, não! 
Ti Apelónia: Ouve bem isto, filho! Eu não sei se posso chamar-lhe bruxaria, mas que foi obra do diabo, isso foi! 
Lavrador: Ai valha-me Deus, mãe! Já não diz coisa com coisa! 
Ti Apelónia: Oh filho, deixa-me contar tudo e depois fazes o teu juízo! Decerto que se lembram do rapaz que bateu à porta naquela noite, aquele que dançava muito bem e deu a fama que deu ao baile e às tuas filhas! As danças dele deixaram toda a gente enfeitiçada, nem viam mais nada, mas eu passei toda a noite a caçar ratos (dormitar), não fiquei enfeitiçada, a musica dava-me muito sono, mas quando acordei vi bem por onde ele saiu e garanto-lhe que pela porta é que não foi! 
Lavrador: Ai mãe, ai mãe! Então, se não saiu pela porta, por onde podia sair? 
Ti Apelónia: Deixa-me lá acabar de contar, depois falas tu! Aquele rapaz era o diabo disfarçado de fidalgo! Ao fugir tão apressado, não teve tempo de abrir a porta e fugiu pela chaminé! 
Os lavradores olharam um para o outro e não conseguiram reter uma risada! A ti Apelónia, mesmo muito mal, apercebeu-se, mas fingiu não perceber e continuou! 
Ti Apelónia: Como estava a contar, quando acordei bati com os olhos nos pés do rapaz e sabem o que eu vi? As patas do mafarrico, cascos de bode! Ele apercebeu-se que eu o tinha descoberto, virou-me aquele olhos medonhos, que eu benzi-me e gritei pela ajuda de Jesus Cristo! Ele largou a rapariga com quem dançava e didrigu-se para a chaminé, mas como era muito alto, com a pressa de fugir, não deu pelo pau da chaminé, deu-lhe uma cabeçada tão grande, que a casa tremeu toda, ainda lá está o sinal da cornada, ao bater com a cabeça, o chapéu caiu no chão e ficou com os cornos à vista, ele não parou a apanhar o chapéu, subiu pela chaminé, ouvi os cornos e as unhas a riscar as paredes, ainda podem ver lá os riscos, eu apanhei o chapéu e guardei-o até hoje! Abre além a minha arca e, está lá o chapéu embrulhado num lençol, mira-o lá bem e diz-me se não era o chapéu do tal rapaz! 
Naquele momento, os lavradores ficaram assustados, porque confirmaram que já tinham visto os riscos na chaminé, que lhe davam voltas à cabeça por não saberem como tinha sido feitos! O lavrador seguiu as instruções da mãe, abriu a arca e tirou o dito chapéu, ficando sem dúvidas que, era o mesmo do desconhecido daquela noite do baile! Os lavradores ficaram algum tempo com os olhos postos no chapéu, sem soltar uma palavra, por fim lá reagiram! 
Lavrador: Isto bate tudo certo! Então, e agora? 
Ti Apelónia: Agora, não vamos fazer nada! Amanhã, logo de madrugada vão à bruxa da Villa de Montoito, porque segundo dizem, tem muitos poderes, contam-lhe tudo o que aqui se passou e depois fazem o que ela lhe disser, não encontro outra solução! 
Lavrador: Está bem mãe, também não vejo outra solução! É um caso muito sério! Agora descanse, mãe! 
No dia seguinte, de madrugada, os lavradores sairam do Monte do Carrão, sem contar nada a ninguém e chegaram muito cedo à Vila de Montoito! Bateram à porta da casa da bruxa e veio a criada abrir-lhe a porta, mandou-os entrar para a casa de fora e informou-os que a senhora ainda estava deitada, mas já ia dizer-lhe que estavam ali e, decerto não demorava em os atender. Passados alguns minutos, já os lavradores estavam em frente da bruxa a contar-lhe o que se tinha passado na noite do baile! A bruxa ficou surpreendida com o caso e, disse-lhe que receava não ter poderes para resolver a situação, no entanto, se estivessem de acordo, iam fazer as mesinhas, bem feitas, que ela lhe indicava, sem garantir que corria tudo bem, porque o mafarrico podia chegar a tempo de salvar o chapéu! No entanto, se ele não aparecesse, ficavam livres dele e do seu feitiço para sempre, mas o lavrador tinha de correr um grande risco! 
O lavrador, disse-lhe que estava pronto para tudo, não tinha medo, podia dizer-lhe o que ele tinham de fazer! 
A bruxa explicou-lhe como fazer as mesinhas durante nove dias e no fim, calhava num domingo, antes das sete horas da manhã fazia um grande lume, queimava pelo menos dez feixas de boa lenha e metia o chapéu do diabo no meio, quando batessem as sete horas o chapéu tinha de estar a arder e, se corresse bem, ouvia um grande estrondo, o chapéu ficava desfeito, o feitiço acabava e toda a área da herdade do Carrão ficava limpa de feitiços para sempre, mas se o diabo chegasse a tempo de salvar o chapéu, tinha de lhe mostrar um crucifixo para o afastar, mas ele podia não olhar e conseguir tirar o chapéu antes de arder, assim, estaria tudo perdido, mas não havia outra maneira de eliminar o feitiço! O lavrador, aceitou fazer tudo o que a bruxa lhe disse e, voltaram ao Monte do Carrão.
Os lavradores, assim que chegaram ao Monte do Carrão, começaram secretamente a fazer as mesinhas como a bruxa lhe explicou! Passados os nove dias, era sábado, à tardinha o lavrador carregou a lenha numa carroça e seguiu com ela para a margem direita do Ribeiro do Carrão, deixou-a amontoada e voltou para casa, de onde já não saiu, até se deitar, durante a noite, mal passou pelo sono, a imaginar como devia fazer se o diabo aparecesse a resgatar o chapéu das lavaredas!
Levantou-se de madrugada, como sempre, andou por ali, comeu pouco, porque tinha um nó na garganta que não deixava passar as sopas, por fim, foi encher três sacas de serapilheira com palha, para misturar com a lenha e dar força ao lume, porque tinha de arder o mais depressa possível, meteu o chapéu do diabo dentro de outro saco, guardou o crucifixo com Jesus, que era a sua defesa contra o mafarrico, pegou numa forquilha para atiçar o lume e, na carroça, pôs-se a caminho, sozinho, do lugar onde tinha de acender o lume! 
O lavrador estava muito nervoso, preparou a lenha e a palha, meteu o chapéu no meio com palha em volta e com um fósforo, acendeu o lume que, devido à ajuda da palha depressa se incendiou! O coração do lavrador batia com tanta força que se podia ouvir, olhava para todos os lados para tentar saber de onde o diabo ia aparecer, ao mesmo tempo fazia força para que o lume ardesse depressa, esperando ouvir o estrondo a todo o momento, mas nada acontecia! O lume já ardia com grande intensidade, envolvendo a lenha e a palha, parecia impossível o chapéu não estar já desfeito, ele era de material muito bom! 
O lavrador andava aos saltos em volta do lume, com o crucifixo na mão direita, pronto a mostrá-lo ao diabo que  podia aparecer a qualquer momento!
Quando o lume estava na máxima força, oo mafarrico apareceu enfurecido numa corrida louca, voou desde a margem esquerda do Ribeiro do Carrão ficando no meio do lume a procurar o chapéu! O lavrador começou a gritar com quanra força tinha na esperança de o obrigar a olhar no crucifixo, mas o diabo não queria saber do lavrador, queria era tirar o chapéu do fogo! 
Parecia que estava tudo perdido, mas não, não estava, naquele momento, fez um grande relâmpago e, ao mesmo tempo um trovão tão forte, sem haver nuvens, que a terra tremeu debaixo dos pés do lavrador atirando com ele ao chão, onde se deixou ficar quietinho de olhos fechados, quando os abriu estava cercado de criados e do feitor da herdade! O lavrador levantou-se com a ajuda do feitor e todos queriam saber o que se tinha passado ali! Naquele momento, chegou uma criada a correr a anunciar que a ti Apelónia Maria tinha partido para o outro mundo! O lavrador não ficou surpreendido, abanou a cabeça em sinal de negação e não disse uma palavra, porque percebeu que a sua mãe não quis partir sem ter a certeza que tinha corrido tudo bem e só quando ouviu o estrondo, que era o sinal que o chapéu tinha ardido, desfazendo o feitiço, deixou então a vida presente e foi prestar contas a Deus! 
Como a bruxa da Villa de Montoito lhe disse, a região da herdade do Carrão, ficou livre de feitiços diabólicos para sempre e, a família do lavrador do Monte do Carrão foram muito felizes! As suas filhas, estavam muito bem casadas, com os filhos dos lavradores, do Monte da Vinha, Monte da Amadoreira, Monte do Azinhal Redondo, Monte dos Canhões, Monte do Outeiro de Cima e Monte do Outeiro de Baixo.

Fim 

Texto: Correia Manuel


O Monte da herdade do Carrão situava-se aqui à esquerda!




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