quinta-feira, 7 de março de 2024

Povoado de Miguéns - Capelins - 5.000 anos

 Povoado de Miguéns - Capelins - 5.000 anos

Conforme podemos verificar nos estudos de diversos arqueólogos, já existiam alguns povoados nas terras de Capelins, há mais de 5.000 anos, neste caso no Lugar de Miguéns - atual herdade do Roncanito.
Povoado de Miguéns 5.000 anos - Capelins
Miguéns - Capelins - Alandroal
Pequeno sítio localizado em ligeiro esporão sobranceiro ao Guadiana. Intervencionado na sequência do plano de salvaguarda do património a submergir pela barragem de alqueva, revelou um conjunto três “cabanas‑torre”, de planta circular, uma das quais com uma complexa estrutura circular concêntrica, subdividida em vários espaços, por muros apoiados em ambas (Calado, 2002; Mataloto, 2006; Calado, Mataloto & rocha, em preparação; García rivero, 2008).
Sob esta ocupação registou‑se uma outra anterior, bastante mais frustre, caracterizada unicamente pela presença de pequenas estruturas negativas e alguns buracos de poste associado à ocupação principal do sítio surge um conjunto de cerâmica campaniforme, estando representados os estilos internacional e pontilhado geométrico, recolhido principalmente nos estratos de ocupação e derrube das potentes estruturas, em particular da cabana [11], a mais bem conservada.
As datações disponíveis, sobre carvões de Olea sp., são provenientes de estratos aparentemente antigos de ocupação. a uE [35], onde se recolheu uma das amostras datadas (Wk‑18507), corresponde a um depósito parcialmente apoiado na cabana [11], mas aparentemente anterior à estrutura circular que rodeou aquela estrutura num segundo momento. a datação Wk‑18508 provém de amostra da [55], que corresponde a um pequeno estrato localizado numa depressão na rocha de base, certamente anterior ao complexo construtivo que caracteriza o local.
As amostras datadas acabam por situar o arranque da ocupação e a sua fase plena algures dentro do terceiro quartel do III milénio a.n.e. ainda que pertençam, aparentemente, a momentos distintos do povoado, deixam entrever que ambas as ocupações se devem ter desenrolado sequencialmente dentro daquele intervalo de tempo, por outro lado, já sobre o abandono do local não dispomos de informações radiométricas, mas talvez seja admissível situá‑lo dentro desse mesmo terceiro quartel do III milénio a.n.e., atendendo ao conjunto artefactual, sugerindo uma ocupação relativamente curta no tempo.
Povoado de Miguéns.
Perto de Miguéns 



sexta-feira, 1 de março de 2024

O Padre da Igreja Matriz de Santa Maria de Ferreira em 1424

O Padre da Igreja Matriz de Santa Maria de Ferreira em 1424

Conforme podemos verificar nesta carta registada na Chancelaria do Rei D. João I, feita no Porto no dia 11 de Novembro de 1424, este rei nomeia o padre Gil Vaasquez para a Igreja Matriz de Santa Maria de Ferreira (atual Neves), mas era outra Igreja que ficava perpendicular a esta Ermida de Nossa Senhora das Neves, sobre as sepulturas escavadas na rocha e que estavam no interior daquela Igreja.
O primeiro documento que temos acesso encontra-se no livro dos padroados e, é de D. Afonso IV, mas não conseguimos ler o nome do padre então nomeado.
É nossa convicção que a Igreja de Santa Maria de Ferreira foi mandada construir em 1262 por D. Gil Martins e sua mulher Dª Maria Anes da Maia, os quais eram os donatários da Vila de Terena e do seu Concelho, quando mandaram construir a Igreja de Santa Maria de Terena e a Igreja de São João, estas na Vila de Santa Maria de Terena. Depois de 1312, estas Igrejas passaram para o padroado real, porque, também constam no livro do padroado real, com a nomeação de padres na mesma data.
Igreja de Santa Maria de Ferreira (Neves) a prova que era do padroado real, ou seja, propriedade da Coroa, embora o Lugar de Ferreira fosse da Casa das Rainhas.
Padre Gil Vaasquez nomeado por D. João I para Santa Maria de Ferreira (Neves)
Santa Maria de Ferreira
"Carta per que o dicto senhor apresentou a sua igreia de sancta
maria de ferreira do bispado d evora gil vaasquez clerigo etc.
no porto xj dias de novenbro de mjl iiij' xxiiij annos."
Chancelaria D. João I Volume 1 livro 3 Fl. 176 verso.
Carta feita no Porto no dia 11 de Novembro de 1424 

Ermida de Nossa Senhora das Neves construída nos finais da centúria de 1600 



terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

Moinho das Neves - 2

 Os Moinhos de água da Freguesia de Capelins 


2 - Moinho das Neves 

Este Moinho situa-se na margem direita da Ribeira de Lucefécit, junto às terras da herdade da Defesa de Ferreira de Baixo e, a sua designação deve-se ao sítio onde está situado na região com o mesmo nome, muito próximo da Ermida de Nossa Senhora das Neves, do antigo Lugar de Ferreira e do Monte de Ferreira, também por isso, prevê-se que a sua construção remonte aos finais da centúria de 1600 e teria sido construído pela Casa do Infantado, Senhora destas terras entre finais de 1600 até 1834, quando foram nacionalizadas, fazendo parte da fazenda Nacional e mais tarde vendidas, deverto, o mesmo aconteceu com o dito Moinho.
Era um Moinho de rodízios, ou roda horizontal, com um aferido, uma linha de moagem, era provido de um açude que atravessava a Ribeira e ligava as margens do lado da Freguesia de Santo António de Capelins à antiga Freguesia do Rosário, na herdade de Santa Luzia, que estancava e canalizava a água até à sua engrenagem que fazia funcionar a mó, a qual transformava os cereais em farinha.
Era um Moinho auxiliar dos Moinhos do Rio Guadiana, neste caso, das Azenhas D' El-Rei, quando estes estavam submersos pelas cheias do Rio Guadiana, por vezes, durante dois e três meses, os Moleiros deslocavam-se para estes Moinhos da Ribeira onde podiam trabalhar até existir água suficiente, trabalharam aqui, entre outros, os Moleiros, ti Venâncio Silva da Aldeia de Montejuntos e o ti José Glórias da Aldeia de Cabeça de Carneiro.
Como todos os Moinhos, tinha a casa de apoio alguns metros acima, a qual, já se encontra desmoronada, mas aparece à tona quando baixam as águas da Albufeira,  era para esta casa que o Moleiro tinha de carregar à pressa, os sacos de cereais e de farinha quando vinham as grandes cheias da Ribeira que inundavam o Moinho, a qual, também servia de habitação para o Moleiro e família. 
Este Moinho, encontra-se submerso pelas águas da Albufeira de Alqueva.  
(Algumas informações foram obtidas no livro: "Os Moinhos e os Moleiros do Rio Guadiana, de Luís Silva, porém, outras foram em diversos documentos e conhecimentos pessoais com presença em diversos Moinhos da Freguesia de Capelins e com explicações de alguns Moleiros). 


Texto. Correia Manuel

Casa do Moinho das Neves 




terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

História da Vila de Terena, pelo Padre António Carvalho da Costa em 1708.

 História da Vila de Terena, pelo Padre António Carvalho da Costa em 1708.

A informação não está correta:
Menciona a Ermida de Santa Clara na Freguesia de Santo António (Capelins).
Não menciona a Igreja de Santo António (Capelins) que já existia desde os primeiros decénios de 1500.
Não menciona a Igreja de Nossa Senhora dos Remédios em Santiago Maior.
É melhor do que nada!
Menciona a Vila de Ferreira, mas nada de ser Concelho Comunitário, mas era! 
Vila de Terena 



































domingo, 11 de fevereiro de 2024

Memórias da importância dos poços de água, em Capelins

Memórias da importância dos poços de água, em Capelins 

Conforme podemos verificar no que conhecemos da história de Capelins, quanto às estruturas sociais de apoio aos povoadores, em tempos remotos não existiam poços de água nesta região, talvez apenas uma ou duas "noras", parece que, da época da ocupação dos árabes, porque, as Fontes de água com bons nascentes, com poucos metros de profundidade, jorravam água todo o ano que, abasteciam a população, quanto à água para os gados, havia chaboucos e pedreiras e, alguns bebiam nas Ribeiras e no Rio Guadiana.

Nos Registos Paroquiais, dos nascimentos, casamentos e óbitos, verifica-se que, na centúria de 1600, a Freguesia de Santo António de Terena, era assim que se chamava, atingiu um grande número de moradores, talvez mais de mil, depois, devido às várias guerras com os vizinhos castelhanos, principalmente a da Restauração, 1640-1668, esta Freguesia ficou quase despovoada até aos finais da centúria de 1600, começando a recuperar após a venda das herdades da Freguesia a particulares e da chegada da Casa do Infantado em 1698, no entanto, nessa época, não havia necessidade de mais água. 

A partir do início da centúria de 1900, pensamos que, não só, pelo aumento da população, que atingiu o auge na década de 1950, mas também pela mudança climática, com os sucessivos anos de seca os níveis freáticos baixaram e, os nascentes das Fontes começaram a diminuir, sendo necessário a abertura de poços que fossem ao encontro da água, cada vez a maiores profundidades, alguns nasceram de pedreiras, lugares onde era arrancada pedra de xisto para construção e à medida que as aprofundavam para arrancar pedra, começava a surgir água, mais tarde, algumas foram transformadas em poços, os quais, geralmente tinham de cinco até dez metros de profundidade, com excepção de alguns, como o poço da bomba, da Junta de Freguesia de Capelins que, foi levado a uma profundidade de cerca de vinte metros e com duas galerias laterais. 

A maioria dos poços de água eram construídos em lugares previamente escolhidos por vedores, os quais, com uma vara de oliveira ou de metal encontravam as chamadas veias de água e marcavam o lugar do poço que era aberto cavando manualmente até à profundidade que garantisse muita água, depois era empedrado, começavam a fazer uma parede em redondo a partir do fundo, pondo pedra de xisto sobre pedra, sem cal, barro ou cimento para não poluir a água e subiam a dita parede até ao gargalo, ou seja, a parede subia até pelo menos um metro acima do nível do solo e nesse redondel à superfície levava uma pedra de xisto da mesma altura do gargalo bem encaixada no mesmo e que permitia aos utilizadores chegar à frente para tirar a água do poço.

Os poços de água no perímetro da Aldeia de Ferreira, surgiram por necessidade de abastecimento de água à população, aos animais e para rega de hortas e arvoredo e durante a referida centúria surgiram mais de quarenta poços, além de algumas pedreiras e chaboucos que forneciam água para lavar a roupa das famílias, para dar de beber aos animais e para rega. 

A maioria das Fontes de água que existiam na proximidade da Aldeia, acabaram por desaparecer, talvez porque, os poços eram tantos em seu redor que lhe tiraram a pouca água que ainda tinham até ao princípio do verão, num vale do Gomes existiam quase em linha oito poços, e desde o Monte da Cruz junto ao Ribeiro do poço do chorão e da Aldeia, até ao poço da estrada, cerca de quinze poços.

Como diziam os nossos ancestrais: - "A água não se negava a ninguém", fosse um copo, um cântaro ou um balde, então, os donos dos poços na Aldeia de Ferreira, quase todos, de boa vontade, deixavam os vizinhos abastecer a sua casa de água a partir dos seus poços, pelo que, de manhã cedo ou à tardinha, depois de um dia de trabalho no campo, assistia-se ao corrupio de mulheres a correr aos poços encher dois cântaros de barro, levavam um à cabeça em cima de uma rodilha e outro debaixo de um braço e um balde cheio de água na outra mão, em passo largo, quanto mais perto de casa fosse o poço, melhor seria, porque ao chegar a casa tinham de fazer a ceia (jantar) para toda a família, fora das épocas sazonais do trabalho, continuavam a ir ao poço, mas com mais vagar, podiam dar umas lérias e trocar as novidades entre elas, junto ao mesmo. 

Alguns destes poços, como o poço do chorão, eram lugares estratégicos para encontros de namorados, era junto deles que, à pressa, porque as mães das raparigas controlavam o tempo, que se viam, falavam e se pudessem, davam uns beijos e, no caminho entre as casas e os poços, os rapazes que pretendiam uma rapariga saíam-lhe ao caminho e diziam-lhe que estavam interessados nela e assim surgiram alguns namoros que deram em casamento.

Na Aldeia de Ferreira, até ao ano de 1958, quando a Junta de Freguesia mandou abrir o poço da bomba, foi o poço do chorão o maior fornecedor de água à população, embora fosse mais à de Capelins de Baixo, enquanto a de Capelins de Cima recorresse mais aos poços, da ti Maria Russa, da ti Gertrudes "Alha", do ti José "Anão" e do ti Manuel "Rato" ou do telheiro, assim designado por ter um forno de cozer tijolos e telhas a poucos metros, e outros poços. 

A partir do ano de 1974, com a chegada da água canalizada à Freguesia de Capelins, os poços de água começaram a perder a sua importância e, a maioria, atualmente estão abandonados. 

Fim 

Texto: Correia Manuel 

Poço do Chorão - Aldeia de Ferreira 




sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

Memórias das mensagens de Natal, dos militares na guerra colonial

Memórias das mensagens de Natal, dos militares na guerra colonial 

A guerra colonial portuguesa, entre 1961 e 1974, deixou marcas profundas na sociedade dos países envolvidos, porque, a maioria dos militares eram rapazes na flor da idade, aos quais, foi roubada a mocidade, sendo obrigados a participar numa guerra que não lhe dizia nada, com sacrifício da própria vida.

Quando partiam para uma das três frentes da guerra, deixavam a sua Aldeia, Vila ou Cidade, a família, emprego, namorada, ou seja, tudo o que tinham construído até àquela idade ficava desmoronado e em alguns casos para sempre, e partiam na incerteza de quando e como voltavam, se com vida, mutilados ou afetados psicologicamente para o resto dos seus dias, como aconteceu com alguns. 

Muitos militares, nunca tinham saído das suas pequenas localidades, a não ser, em visita a outras mais próximas, mas tentavam ser fortes perante os companheiros de guerra e não dar parte de fracos, mas além de todas as agruras existia a saudade de todos e de tudo que tinha deixado aqui, como também, os que cá ficavam sentiam por eles, que ainda sentiam mais a sua falta pelo Natal, por isso, o governo de então, encontrou uma forma de aliviar as saudades que, não era remédio, mas todos desejavam participar nesse evento, o qual consistia em mostrar os militares na Rádio Televisão Portuguesa (RTP) a enviar uma mensagem de Natal aos seus familiares, namoradas, amigos e população da sua terra. 

Como eram muitos milhares de militares dos três ramos das forças armadas a gravar a sua mensagem, o processo da gravação iniciava-se muito tempo antes do Natal, porque os profissionais da RTP, na maioria dos casos, tinham de se deslocar ao interior, ao chamado "Mato" e, havia muito tempo para enviar um aerograma ou carta às famílias a participar o dia da sua transmissão, que a RTP começava a exibir, talvez uns quinze dias antes do dia de Natal, num horário programado.

Como referimos noutras publicações, até ao ano de 1971, não existia eletricidade na Freguesia de Capelins, pelo que, os poucos televisores existentes, estavam associados às tabernas e funcionavam com a corrente elétrica gerada por um motor a diesel, não havendo televisores nas casas dos moradores, pelo que, nas noites que, estava marcada a transmissão da mensagem de um militar desta Freguesia na televisão, o recinto onde estava instalado o televisor esgotava, embora as mensagens dos militares tivessem a duração de, cerca de 30 segundos, os espetadores, estavam com os olhos fixados no televisor o tempo todo, porque muitas vezes, apareciam militares conhecidos de outras localidades do Concelho do Alandroal. 

As mensagens dos militares eram muito semelhantes, podiam ter, uma ou outra palavra diferente, mas dentro do mesmo contexto, sendo mais ou menos assim: 

- Para Alandroal; 

- Ferreira de Capelins;

- posto e nome; 

- Para os meus pais, ou esposa, ou namorada e família, desejo Feliz Natal e Próspero Ano Novo; 

- Adeus até ao meu regresso.

Pouco mais se ouvia além destas palavras, porque a RTP cortava o que não convinha ao governo, e em grande velocidade iam desfilando centenas e centenas de militares, por vezes, havia pessoas que nem tinham tempo para reconhecer o seu filho ou neto e nem pela voz, porque na televisão ouvia-se diferente, e como nesse tempo não existia replay nem gravadores de video, estava consumado, valiam-lhe os comentários dos mais atentos que lhe repetiam palavra a palavra, e os familiares ficavam mais confortados. 

As mensagens de Natal dos militares de Capelins, eram tema de conversa por uns tempos, nas tabernas, nos trabalhos e, em qualquer ajuntamento, comentavam como os tinham achado, mais magros ,ou mais gordos, mais velhos, ou mais novos, mais isto, menos aquilo e, principalmente o que eles tinham dito na mensagem. 

No ano seguinte, por altura do Natal, repetia-se este cenário, com algumas alterações dos dois lados, do lado de lá e do lado de cá, alguns militares já tinham regressado e até podiam estar ali presentes, estavam lá outros no seu lugar, e do lado de cá, alguns já tinham ido prestar contas a Deus e, também já ali não estavam, mas a guerra continuou lá até 1974.

Fim 

Texto: Correia Manuel 

Aldeia de Ferreira - Capelins 




quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

Memórias das Festas de Santo António de Capelins

 Memórias das Festas de Santo António de Capelins 

Existem indícios de que, as Festas em honra de Santo António de Capelins, tiveram início, logo após a construção da Igreja, na data em que foi benzida, talvez finais da década de 1540 ou início  da década de 1550, quando, também foi criada a Freguesia de Santo António, mas a verdade é que até agora somente encontramos provas já no decénio de 1570 em São Pedro de Terena, porque antes, não existiam Registos Paroquiais, mas conhecemos outros documentos que nos indiciam essas datas, no entanto, quanto às ditas Festas não conhecemos como eram os programas até 1859, quando um romeiro, que pensamos era arqueólogo, veio assistir  às Festas de Santo António e ficou maravilhado.

O romeiro como lhe podemos chamar, assistiu às Festas em Santo António de Capelins, no Sábado e Domingo dias 3 e 4 de Setembro de 1859 e, conta que percorria muitas Festas por toda a região, mas nunca tinha visto nada assim, foi a primeira e a última vez que assistiu a umas Festas como estas, e escreve que foi como se achasse um monumento de arqueologia, e que disse para os seus botões: - Eis aqui em Santo António de Capelins, o resto do que há dois ou três séculos se fazia pelas Vilas e Cidades mais notáveis! 

Podemos deduzir que, dois ou três séculos antes, estas Festas de Santo António, realizavam-se desta maneira e, o romeiro continua a descrevê-la: 

"Detrás da Igreja Paroquial estava preparada a arena com paus levantados e cordas postas através delas onde se penduravam com fitas, pombos e frangos para os galhardos cavaleiros, correndo a toda a brida com a lança em riste, botarem aquelas aves, o que só logravam os mais peritos que, ufanos, iam ofertar na ponta da lança a pessoas amigas o frango ou pombo trespassado. Nos intervalos tocava uma filarmónica sobre um terraço junto da arena." 

Podemos imaginar este espetáculo realizado na tarde de sábado dia 03 de Setembro de 1859, eram as cavalhadas que chegaram até ao decénio de 1960 e que muitos dos nossos ancestrais nos contavam da mesma maneira que é descrita pelo dito romeiro, e escreve que os frangos ou pombos que os participantes conseguiam tirar do cordel com uma lança e eram oferecidos aos amigos, familiares e às namoradas, sendo uma imitação dos torneios da Idade Média, por isso, a população também lhe chamava torneios, porque era uma disputa. 

Ainda nesses tempos de outrora, à noite havia fogo de artifício, uma banda tocava e havia bailes abrilhantados por um grupo ao qual chamavam Jazz e Banda, por isso, aqui acodiam romeiros/as de toda a região.

O romeiro continua a descrever: - No dia seguinte, Domingo dia 04 de Setembro de 1859, saiu a procissão de Santo António e teve então lugar de ver pela primeira e última vez danças religiosas, semelhando a do Rei David que, como todos sabem, dançou em frente da Arca da Aliança ao som do seu psaltério quando ela foi trasladada para o Monte Sião em Jerusalém. Quatro homens (se bem lembrado estou) de saiotes e mitras na cabeça com tufos de fitas e guitarras nas mãos dançavam constantemente diante do andor, indo sempre de recuas para lhe não darem as costas! 

Como já escrevemos noutras ocasiões, neste ritual, existia uma mistura da cultura e religião judaica com a cristã, assim, de forma dissimulada, conseguiam enganar os cristãos que, não se apercebiam daquela envolvência, foi assim que, alguns costumes judaicos na Freguesia de Capelins chegaram até hoje.

O romeiro não esqueceu estas Festas de Santo António e, vinte e um ano depois, em 1880 voltou, mas já era tarde, a procissão já não era igual e, os saiotes e as mitras já se encontravam guardadas para sempre na sacristia e, nunca mais se realizaram procissões como essa.

Através desta descrição, facilmente imaginamos como eram as Festas de Santo António nessa época e, talvez dois ou três séculos antes, por isso, tinham fama por toda a região, incluindo em terras de Espanha, situadas perto da RAIA. 

Até à primeira metade do decénio de 1960, as Festas de Santo António continuaram a realizar-se junto à Igreja Paroquial e, parece que, somente a procissão foi alterada, embora fossem acrescentadas outras diversões como a brincadeira taurina, mas na dita década, devido à emigração dos capelinenses e às queixas da população que, diziam não se sentir bem numa Festa junto ao lugar onde estavam sepultados os seus familiares, a afluência começou a diminuir e, nessa data, as Festas foram suspensas. 

 Porém, no ano de 1973, as Festas de Santo António voltaram a ser  realizadas, mas no Largo de Capelins de Cima, sendo a vacada no curral da Casa Dias, emprestado pelo senhor Chambel e, cerca do ano de 1976 passaram a ser dentro do Monte Grande, já com os programas diferentes, começavam com foguetes e morteiros, lançados, geralmente pelo senhor Salvador do Alandroal que também lançava o fogo de artifício à noite, e com música da banda filarmónica de Redondo ou do Alandroal, que anunciavam a Festa e cumprimentavam a população, tocando pelas ruas da Aldeia e depois tocava na noite do fogo de artifício e  acompanhava a procissão de Santo António no dia seguinte, a qual, tinha início com a saída dos Santos de uma casa em Capelins de Cima, para onde eram transportados numa carrinha nos dias anteriores e, em 1973 a procissão seguiu para a Igreja de Santo António pela estrada principal, pelo Monte da Igreja, sendo muito demorada devido à grande distância, pelo que, nos anos seguintes, começou a sair dessa mesma casa em Capelins de Cima e a dar a volta por Capelins de Baixo, ficando Santo António e outros Santos, na dita casa, transformada, provisoriamente em Capela e, mais tarde, quando as Festas começaram a ser realizadas junto ao Centro Cultural, os Santos ficavam na Escola de Instrução Primária durante os dias da Festa. 

Importa salientar que, na década de 1980, as Festas de Santo António, ainda se realizaram, algumas vezes, em Capelins de Baixo.

Devido ao surgimento de novas diversões, de novos horizontes, os programas das Festas foram sendo alterados em relação aos de antigamente, exigindo maiores investimentos, pelo que era feito um peditório porta a porta, não só em Capelins, mas por todas as localidades mais próximas, para garantir a sustentabilidade das despesas. 

Desde antigamente, durante as Festas, existia um Bazar onde vendiam rifas numeradas de 1 a 100, depois rodavam duas tômbolas, sendo apurado um número em cada uma e entre as duas ditavam o número premiado, havia outro processo, existia uma tômbola que tinha no seu interior bolas numeradas de 1 a 100, davam à manivela e saia uma bola por um tubo com o número premiado, o Bazar era uma diversão, onde os romeiros além do espírito de ajuda, experimentavam a sua sorte, sendo parte dos prémios as oferendas que os devotos faziam ao seu Santo protetor, como peças de enchidos, queijos, pães caseiros, as fogaças, borregos, cabritos, frangos, garrafas de aniz/escarchado e outras, cujos lucros revertiam para as despesas da Festa.

As Festas, variavelmente eram constituídas por brincadeiras taurinas, tiro ao alvo com espingardas a pressão de ar, tiro aos pratos, corridas de bicicletas, jogos de futebol e outros, atuação de Ranchos Folclóricos, como o das Fazendas de Almeirim, o de Castelo de Vide, este várias vezes e outros, assim como, bailes abrilhantados por grupos musicais com nome na praça e, mais tarde, atuação de outros artistas de música ligeira, por isso, cada Comissão de Festas organizava da forma que achava melhor para a Aldeia, para a população e pelas capacidades financeiras.

A partir da década de 1980/90 as Festas de Santo António, começaram a ser intermitentes, ou seja, foram realizadas alguns anos seguidos, mas por falta de Comissões, por vezes, ficaram suspensas, mas as que se realizaram nas últimas décadas, foram sempre junto ao Centro Cultural, também, pelas condições, visto existir aí um bom recinto para festas e jogos.

Fim 

Texto: Correia Manuel 

Santo António de Capelins



terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

Memórias do uso da maruja, em Capelins

 Memórias do uso da maruja, em Capelins 

Ao longo dos tempos, foram chegando povoadores às terras de Capelins vindos de várias regiões distantes, principalmente das Beiras e do Algarve, trazendo os seus hábitos, costumes, as suas tradições, trajes, gastronomia, a sua cultura que, aqui se fundiram e deram origem a uma cultura comum e bem sucedida, que não pode ser esquecida.

As indumentárias dos povoadores que chegavam de cada uma daquelas regiões, eram diferentes, como eram diferentes algumas que aqui se usavam, mas os pioneiros, não podiam deitar fora o que traziam, pelo que, nos casos necessários fizeram adaptações, em conformidade com o clima, muito frio no inverno, e muito quente no verão, e moderado no outono e na primavera, associado aos gostos de cada um. 

Entre as diversas peças de roupa que os homens de Capelins usavam noutros tempos, destacamos a maruja, uma peça de roupa que podia ser usada quase todo o ano, apenas dependia do tipo de tecido do qual era feita, se fosse para ser usada no inverno, embora, nesta estação, alguns homens também usassem jaquetas, samarras e capotes, o tecido seria de lã, com forro para aquecer, mas se fosse para as outras estações do ano, mais moderadas, eram feitas de cotim com ou sem forro e, como os homens as levavam para o trabalho, era normal verem-se penduradas nos ramos das oliveiras, das azinheiras e de outras árvores, porque alguns trabalhos, como cavar covas para plantar oliveiras, fazer a poda de oliveiras e azinheiras, arrancar azinheiras, ou desmoitar piorneiras, estevas e carrascos, esses trabalhos tinham de ser feitos em mangas de camisa, porque com o aquecimento e a transpiração, não conseguiam aguentar a maruja vestida.

Ouvia-se a alguns ancestrais que gostavam de usar marujas, porque tinham muitos bolsos, laterais, interiores, e à frente, onde podiam guardar os pequenos haveres que levavam para o trabalho do campo, como as onças de tabaco, livros das mortalhas para fazer os cigarros, fósforos ou as pederneiras, parecidas a isqueiros, que através de uma faísca que pegava numa torcida e depois sopravam até aparecer lume para acender o cigarro, a seguir puxavam a torcida para dentro e apagava-se, podia ir para o bolso, lenço de mão e, até uma pequena bucha, e vestiam sempre bem, porque eram muito semelhantes a um blusão.

A rapaziada de Capelins ansiava por ter a sua maruja, mas, geralmente só a conseguiam depois dos quinze ou dezasseis anos, quando deixavam a profissão de ajudas dos ganadeiros e passavam para os outros trabalhos do campo, quando começavam a trabalhar ao lado dos homens, mais ou menos, quando os rapazes das vilas e cidades tinham o seu primeiro fato, os que tinham. 

Uma maruja, é descrita como sendo vestuário talhado e feito à imitação do uniforme dos marinheiros, por isso, existe a ligação de marujo com maruja, mas quando perguntavam aos ancestrais se sabiam qual seria a origem das marujas, eles diziam que, a moda tinha vindo de Elvas, assim, não podemos escrever que a maruja era um traje ou costume original de Capelins, apenas que, era um traje regional usada pelos homens de Capelins e, em toda esta região, fazendo parte da cultura da comunidade capelinense. 

Fim 

Texto: Correia Manuel  

Aldeia de Ferreira - Capelins 




sábado, 3 de fevereiro de 2024

Memórias do uso do avental, em Capelins

 Memórias do uso do avental, em Capelins 

O avental fazia parte da indumentária caseira, sendo tradicional nas terras de Capelins, era uma peça de vestuário que tinha como principal finalidade a proteção dianteira da roupa e, eram usados, em diversas profissões, sapateiros, carpinteiros, ferreiros, ferradores, padeiros, cozinheiros e cozinheiras, trabalhadoras domésticas nas casas dos lavradores e, até os carneiros nos rebanhos usavam avental, para não incomodar as ovelhas fora da época do acasalamento.

Neste caso, importa referir os que, quase todas as mulheres usavam nas suas casas, quando vinham do trabalho do campo, ou de outro lugar, ao entrar em casa a primeira coisa que faziam, era pôr o avental, que estava pendurado atrás da porta, ou à chaminé, no melhor lugar para estar à mão, porque quando saiam da sua casa, se fosse uma ausência mais longa tiravam o avental, mas por vezes punham outro a condizer com a indumentária da saída, ou não levavam o levavam, mas algumas mulheres não conseguiam andar sem ele, sentiam-se bem, mais seguras de avental, servia-lhe de muleta e nunca o largavam, até se estranhava ver algumas mulheres sem o seu avental, porque já fazia parte da sua figura e não se conheciam de outra maneira.

Os aventais eram feitos de diversos materiais, de couro, plástico, mas os mais comuns em Capelins eram de tecido e podiam ser lisos, estampados ou bordados, quase todos tinham padrões ao gosto da sua dona. 

Existiam aventais de muitos modelos, alguns com peitilho e com aperto ao pescoço e à cintura com uma fita ou um cordão, mas os mais usados em Capelins, eram os de cintura e cobriam até um pouco abaixo dos joelhos, também apertados à cintura, da mesma maneira dos anteriores, todos tinham bolsos à frente, ou laterais,  que faziam muita falta, porque guardavam neles, vários objetos, e o lenço de mão, e quando se dirigiam à rua a fazer compras a vendedores ambulantes ou à loja mais próxima, levavam a carteira no bolso, e outras coisas que precisavam de ter à mão. 

Os aventais de outrora, eram quase todos, feitos pelas mulheres que tinham algum jeito para a costura e, era das primeiras peças de vestuário que faziam as aprendizes de costura, alguns para elas, porque desde crianças, algumas já usavam um avental, que lhe dava a aparência de pequenas mulheres, e como, desde cedo que eram ajudantes domésticas, da própria casa, os aventais protegiam-lhe a roupa, de nódoas, de salpicos de água ou de outros fluídos, neste caso, usavam mais os aventais com peitilho que lhe garantiam  proteção de alto a baixo. 

Esta peça de vestuário, era fundamental no traje das mulheres de Capelins e não só, ainda hoje é usado, era um adereço tão importante que, não escapou a ser cantado, desde tempos de outrora, embora, as cantigas que publicamos, não sejam originais de Capelins, sendo apenas um excerto com pequena adaptação: 

Eu venho d’ além do rio

de regar o meu nabal

trago duas folhas verdes

no bolso do avental.


No bolso do avental,

na renda do meu vestido

amor, se vais p'rá guerra

deixa-me dormir contigo.


 Ai, agora é que m’eu maneio

é que m’ eu maneio,

é que m’ eu maneio,

nos braços do meu amor

eu vivo sem a receio. 

(...) 

Fim 

Texto: Correia Manuel




sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

Memórias do Chiquinho de Capelins, quando passou por baixo da mesa

Memórias do Chiquinho de Capelins, quando passou por baixo da mesa 

Noutros tempos, nas terras de Capelins, quer fosse em casa de família, quer nos Montes dos lavradores, onde muitos trabalhadores comiam, porque o salário que recebiam incluía a comida, diziam que andavam a de comer, havia hora marcada para as refeições e, quem não estivesse presente nessa hora, o mais certo, era não comer.

Na Casa Dias, em Capelins de Cima, uns minutos antes das refeições, principalmente à noite, porque durante o dia os homens andavam a trabalhar no meio da herdade e ia lá o "escamel", numa burra, a levar o jantar, (almoço) à noite, ouvia-se um homem encarregado de gritar bem alto na rua do Monte Grande "ceia" ( hoje o jantar) e os trabalhadores que não estavam lá, corriam para o Monte, alguns andavam por Capelins de Baixo e abalavam a correr, por vezes chegavam mesmo à justa, senão, passavam por baixo da mesa, já não comiam.

O Chiquinho de Capelins, não era bom cumpridor de horários, porque perdia a noção do tempo quando andava na brincadeira e algumas vezes chegava depois das horas marcadas para o jantar (almoço) ou para a ceia (jantar) e era avisado pela mãe que se voltasse a acontecer, passava por baixo da mesa, ficava sem comer, mas isso, entrava-lhe por um ouvido e saía pelo outro, até que, chegou o dia em que foi apanhado, chegou cheio de fome, depois da hora marcada para o jantar (almoço) lá em casa e a mãe disse-lhe que não tinha nada para comer, porque tinha passado por baixo da mesa, depois de ver o caso mal parado, começou o diálogo:

Chiquinho: Então mãe, vamos a comer? Já estou cheio de fome! 

Mãe: Não vamos a comer, não, porque já passou a hora! Então estás cheio de fome e apareces a uma hora destas? Tu não sabes a que horas comemos cá em casa? Quantas vezes te avisei que um dia passavas por baixo da mesa? Por isso, não tenho nada para te dar de comer, eram sopas e não as podia partir para deixar aí a tua parte! Vai comer onde quiseres, aqui em casa não tens comida! 

Chiquinho: Óh mãe, mas deve ser agora meio dia! Decerto que hoje comeram antes do meio dia e agora eu é que pago as favas! Tem aí pão, frite lá um ovo e com um bocadinho de carne ou de queijo, não preciso de mais nada, está resolvido! 

Mãe: Não está resolvido, não, não tenho aí ovos, apareceu aqui a ti Xica dos Ovos e levou-os todos e além disso o teu pai deixou ordens para não te dar nada, por isso, se quiseres, vai ver onde te dão de comer! 

Chiquinho: Como é que uma mãe pode deixar um filho cheio de fome, já nem me seguro nas pernas, devo estar quase a cair desmaiado! Eu vou lá ao galinheiro a ver se está lá algum ovo! 

Mãe: E como é que um filho pode ser tão vadio que nem aparece a comer às horas marcadas? Não vais lá ao galinheiro, não, também já vendi os ovos de hoje, não vale a pena ir lá, porque não havia mais galinhas com ovo, então onde é que tu andaste até uma hora destas? Não tinhas fome? Agora é que chegou essa fome toda? Arranja-te como quiseres, mas aqui em casa não comes! 

Chiquinho: Olhe mãe, andei a trabalhar até agora, fui dar água às cabras e a mudá-las na pastagem e não dei pelo tempo passar, pensava que era mais cedo! Vá dê-me um bocadinho de pão com carne e com queijo, porque a fome já é negra! Onde é que eu vou comer a esta hora? Vou pedir um bocadinho de pão de porta em porta? O que é que as pessoas dizem? Pensam que é brincadeira e ainda me dão alguma vassourada! Não vou, nem que morra aqui de fome! 

Mãe: Então podes ir morrendo de fome, porque em casa não comes, não te disse muitas vezes que se não estivesses aqui à hora marcada, um dia passavas por baixo da mesa? Olha, foi já hoje! 

Chiquinho: Então dê-me um bocadinho de pão, mesmo sêco, sem conduto, e eu vou comer lá para a rua, assim já não como aqui em casa! 

Mãe: Já te disse e está dito, aqui não comes hoje, estavas bem avisado, pensas que não sei que andavas na brincadeira além para Capelins de Baixo, até te ouvia aqui aos gritos, porque não comeste pra lá! 

Chiquinho: Óh mãe, por acaso passei lá a Capelins de Baixo, mas antes do meio dia já estava nas Colmeadas, como já lhe disse, foi onde me demorei! 

Mãe: Ainda por cima és mentiroso, desde quando é que as cabras bebem água neste tempo? Por isso, acabou a conversa! 

Chiquinho: Então, quer dizer que passei mesmo por baixo da mesa? Não posso comer nada? Assim, vou aqui à vizinha pedir um bocadinho de pão com queijo, ou o que ela me quiser dar, porque senão, morro mesmo de fome! 

O Chiquinho, já estava convencido que não comia nada em casa e saiu porta fora, decidido ir pedir ajuda às vizinhas, mas quando já ia a sair pelo portão a mãe chamou-o e continuou: 

Mãe: Vá, senta-te lá aqui à mesa, desta vez ainda te safaste, ficaram aqui as tuas sopas, mas nunca mais voltes a fazer isto, nem sabes o trabalho que tive para convencer o teu pai a deixar-te aqui as sopas, olha tive que lhe mentir, disse-lhe que tinhas ido fazer um mandado a Capelins de Baixo, mas se acontecer outra vez, ficas a saber que passas, mesmo por baixo da mesa e não vais pedir pão a ninguém, senão conto ao teu pai e sabes qual é a receita! 

Chiquinho: Está bem, mãe, nunca mais, dê-me lá as sopinhas, que eu já nem vejo, com a fome que tenho! 

O Chiquinho comeu as melhores sopas de feijão da sua vida, e nunca mais esqueceu as horas marcadas para as refeições, porque não tinha dúvidas que se voltasse a acontecer, passava por baixo da mesa e a fome custava muito a suportar. 

Fim 

Texto: Correia Manuel  





quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

Memórias do uso dos chapéus e das boinas, em Capelins

Memórias do uso dos chapéus e das boinas, em Capelins 

Se o traje é usado para representar a cultura ou identidade de uma determinada comunidade, neste caso, podemos incluir os chapéus e as boinas na identidade da comunidade capelinense, uma vez que, noutros tempos faziam parte das indumentárias nas terras de Capelins, havia chapéus e boinas de todas as cores e feitios, as boinas eram de tecido liso e de diversos padrões, em plástico, de napa ou pele, para ricos e para pobres, logo, umas finórias e as do trabalho, as do inverno tinham orelhas que se aconchegavam à cara e tinham uma mola que a ajustava por baixo do queixo, não deixando entrar o frio nem a chuva, mas à medida que o tempo melhorava, estas boinas eram substituídas por outras mais leves, conforme o tempo, fosse primavera ou verão, e nas festas ou em qualquer saída das Aldeias, em passeio ou a tratar de assuntos, assim era boina que levavam, mas era a mais fina, por isso, havia homens que tinham algumas dezenas, a condizer com os respetivos trajes.

Quanto aos chapéus, também existiam de todas as cores e feitios e para todos os gostos, alguns indicavam a classe social ou profissional de quem os usava, havia os chapéus de palha para a raziada, os de ráfia para as mulheres, os de aba direita usados pelos lavradores, por isso, chamavam-lhe chapéus de lavrador, enquanto nos trabalhos do campo usavam um chapéu, geralmente prêto, ou castanho, às vezes já sem cor, consumida pelas intempéries, com as abas curtas e um pouco curvadas, também havia os chapéus à cowboy com as abas lateralmente curvadas para cima, estes eram usados por poucos homens, e havia uns chapéus mais finos, panamás, ou de côco, usados por comerciantes, empregados do comércio, de escritórios, profissionais liberais, médicos, advogados, professores, empresários, altas individualidades e outros, mais usados nas vilas e nas cidades. 

Em Capelins, usavam-se mais os chapéus de trabalho do campo e nos dias quentes de verão, os homens que trabalhavam nos campos, colocavam um lenço por baixo dos chapéus, tal como faziam os que usavam boinas, que caía até aos ombros e protegia a área do pescoço, contra o sol ardente e, ao mesmo tempo, esses lenços podiam ser usados para limpar o suor que escorria pelo rosto. 

 As boinas e os chapéus serviam para cobrir a cabeça, mas tinham outras utilidades, no caso dos chapéus tinham uma fita ou cinta em redor, que servia para não deixar dilatar a parte que entrava na cabeça, sendo essa fita ornamentada, mais pelas mulheres que também usavam boinas ou chapéus, com flores, espigas de cereais, penas coloridas de aves, e os homens aproveitavam a fita para espetar alfinetes de cabecinha para quando fosse preciso, tirar picos que se espetassem nos dedos, mas alguns também metiam penas coloridas de aves, mas também eram usados para acenar, para chamar à atenção ou chamar alguém à distância e, quando os homens se encontravam ou cruzavam numa rua, num caminho, em qualquer lugar, faziam uma vénia, um cumprimento levando a mão direita à pala da boina ou à aba do chapéu e se fosse uma pessoa considerada importante descobriam a cabeça e, enquanto falavam ficavam de cabeça descoberta com a boina ou chapéu na mão, se entrassem numa casa alheia tiravam, imediatamente a boina ou o chapéu e só voltavam a colocalo na cabeça se o dono da casa lhe dissesse para o pôr, se entrassem numa Igreja, ou numa Repartição Pública, nunca entravam com a boina ou com o chapéu na cabeça.

As boinas em algumas regiões são designadas de bonés, mas nas terras de Capelins os bonés são diferentes, têm uma pala de maiores dimensões e o feitio é diferente das boinas.

O chapéu era tão importante que, existem várias cantigas populares dedicada ao chapéu, como esta:

Ó que lindo chapéu preto

Naquela cabeça vai

Ó que lindo rapazinho

Para genro do meu pai


É mentira, é mentira

É mentira, sim senhor

Eu nunca pedi um beijo

Quem mo deu foi meu amor.

(...). 

Fim 

Texto: Correia Manuel 





Povoado de Miguéns - Capelins - 5.000 anos

  Povoado de Miguéns -  Capelins - 5.000 anos Conforme podemos verificar nos estudos de diversos arqueólogos, já existiam alguns povoados na...