terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

Memórias do uso da maruja, em Capelins

 Memórias do uso da maruja, em Capelins 

Ao longo dos tempos, foram chegando povoadores às terras de Capelins vindos de várias regiões distantes, principalmente das Beiras e do Algarve, trazendo os seus hábitos, costumes, as suas tradições, trajes, gastronomia, a sua cultura que, aqui se fundiram e deram origem a uma cultura comum e bem sucedida, que não pode ser esquecida.

As indumentárias dos povoadores que chegavam de cada uma daquelas regiões, eram diferentes, como eram diferentes algumas que aqui se usavam, mas os pioneiros, não podiam deitar fora o que traziam, pelo que, nos casos necessários fizeram adaptações, em conformidade com o clima, muito frio no inverno, e muito quente no verão, e moderado no outono e na primavera, associado aos gostos de cada um. 

Entre as diversas peças de roupa que os homens de Capelins usavam noutros tempos, destacamos a maruja, uma peça de roupa que podia ser usada quase todo o ano, apenas dependia do tipo de tecido do qual era feita, se fosse para ser usada no inverno, embora, nesta estação, alguns homens também usassem jaquetas, samarras e capotes, o tecido seria de lã, com forro para aquecer, mas se fosse para as outras estações do ano, mais moderadas, eram feitas de cotim com ou sem forro e, como os homens as levavam para o trabalho, era normal verem-se penduradas nos ramos das oliveiras, das azinheiras e de outras árvores, porque alguns trabalhos, como cavar covas para plantar oliveiras, fazer a poda de oliveiras e azinheiras, arrancar azinheiras, ou desmoitar piorneiras, estevas e carrascos, esses trabalhos tinham de ser feitos em mangas de camisa, porque com o aquecimento e a transpiração, não conseguiam aguentar a maruja vestida.

Ouvia-se a alguns ancestrais que gostavam de usar marujas, porque tinham muitos bolsos, laterais, interiores, e à frente, onde podiam guardar os pequenos haveres que levavam para o trabalho do campo, como as onças de tabaco, livros das mortalhas para fazer os cigarros, fósforos ou as pederneiras, parecidas a isqueiros, que através de uma faísca que pegava numa torcida e depois sopravam até aparecer lume para acender o cigarro, a seguir puxavam a torcida para dentro e apagava-se, podia ir para o bolso, lenço de mão e, até uma pequena bucha, e vestiam sempre bem, porque eram muito semelhantes a um blusão.

A rapaziada de Capelins ansiava por ter a sua maruja, mas, geralmente só a conseguiam depois dos quinze ou dezasseis anos, quando deixavam a profissão de ajudas dos ganadeiros e passavam para os outros trabalhos do campo, quando começavam a trabalhar ao lado dos homens, mais ou menos, quando os rapazes das vilas e cidades tinham o seu primeiro fato, os que tinham. 

Uma maruja, é descrita como sendo vestuário talhado e feito à imitação do uniforme dos marinheiros, por isso, existe a ligação de marujo com maruja, mas quando perguntavam aos ancestrais se sabiam qual seria a origem das marujas, eles diziam que, a moda tinha vindo de Elvas, assim, não podemos escrever que a maruja era um traje ou costume original de Capelins, apenas que, era um traje regional usada pelos homens de Capelins e, em toda esta região, fazendo parte da cultura da comunidade capelinense. 

Fim 

Texto: Correia Manuel  

Aldeia de Ferreira - Capelins 




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