segunda-feira, 25 de maio de 2020

As Lojas/Mercearias da Aldeia de Ferreira

AS LOJAS/MERCEARIAS DA ALDEIA DE FERREIRA
Nos anos de 1930 a 1970/90 existiam várias lojas/mercearias em Ferreira de Capelins, que procuravam dar resposta às necessidades de consumo da população desta Aldeia e dos Montes em redor.
As lojas/mercearias desse tempo situavam-se: Três em "Capelins de Baixo" uma no Monte da Cruz, a mesma que passou para Capelins de Cima e, outra mais antiga, também em Capelins de Cima. No início de 1970, surgiu outra Mercearia em Capelins de Cima.
As lojas/mercearias não ganhavam, ou perdiam fregueses/as, devido à diversidade dos produtos, entre elas, porque todas vendiam quase as mesmas coisas, não havia muitas escolhas, pelo que, era devido à proximidade, os vizinhos, os familiares, a simpatia dos proprietários e a conveniência de cada um, a diferença de meio tostão ou de um tostão, num produto, era razão mais que suficiente, para se mudar de rumo e andar mais algumas centenas de metros, uma vez que, o dinheiro nessa época era muito escasso e, perdiam-se freguêses/as por arrufos com os proprietários, ou por já ter uma conta muito grande no livro dos fiados e tinham de procurar outro livro.
Em Ferreira de Capelins, pouco se usava a designação de mercearia, era a loja, porque, associado à mercearia, vendiam-se outros produtos: tecidos em peças ou a retalho, elástico, nastro, agulhas, botões, linhas, fechos, sabão, petróleo, fósforos, cordas, alguma louça, panelas de alumínio ou esmalte, tripa sêca e outros, logo, era mercearia, drogaria e retrosaria em conjunto.
Nessa época, em Capelins de Baixo, no Monte da Figueira, situava-se a loja da senhora Leonília Bragança, a qual, já era dos seus pais, o senhor Miguel Bragança e a senhora Maria Lita. Descendo a rua principal, à esquerda, antes da curva, situavam-se as lojas, do senhor Francisco Pôtra, mais antiga e, a da senhora Jacinta e do senhor José Russo, já mais recente.
A loja, Mercearia/Retrosaria e taberna mais antiga, de que há memória em Capelins de Cima, era do senhor José Franco Tique, conhecido por (Ti Zé Cucha) e, situava-se na Rua principal desta Aldeia, a seguir ao portão do Monte Grande à esquerda! O senhor Zé Cucha, nasceu em 29 de Janeiro de 1889 e casou com Isabel Maria no dia 17 de Setembro de 1914, pelo que, a sua Mercearia e taberna devem ter iniciado a atividade após esta data e até ao início dos anos de 1960.
Ainda em Capelins de Cima, junto ao antigo forno comunitário, com uma velha oliveira entre eles, no Largo, à esquerda, ao subir a rua principal, situava-se a loja do senhor José Francisco, a que tinha sido transferida do Monte da Cruz, da casa baixinha à entrada que faz gaveto do lado direito, a qual, era do seu pai o senhor Francisco Faustino, de origem espanhola, de Alconchel.
Na década de 1970 surgiu mais uma Mercearia em Capelins de Cima, situada na Rua principal, quase em frente ao portão do Monte Grande, onde também existia um café da mesma família Festas, mais cinhecida por Mercearia da senhora Mariana do Seixo.

O ATENDIMENTO NAS MERCEARIAS OU LOJAS DE FERREIRA DE CAPELINS
A Mercearia/Retrosaria e Taberna do senhor Zé Cucha, ocupavam todo o espaço térreo da frente da casa, onde estavam instaladas e, eram servidas por duas portas, uma para a entrada dos/as clientes e outra para a saída! Na dita Mercearia/Retrosaria, vendiam-se todos os artigos procurados pelos/as clientes dessa época, desde as mercearias, linhas, botões, elásticos, ganchos, alfinetes, dedais, agulhas, tecidos e outros!
Pelo que ouvimos contar às pessoas que ainda frequentaram esta loja, o senhor Zé Cucha, a esposa senhora Isabel e filhos eram pessoas de muito bom trato, afáveis e amigas dos/as clientes, mostrando sempre boa disposição, por isso, era muito afreguesada!
A loja do senhor José Francisco, era pequena, em termos de dimensão da casa principal, mas tinha quase tudo o que era procurado pelos fregueses/as, sendo ele a assegurar os avios, ainda que, o pai, o senhor Francisco (espanhol) e, mais tarde algum dos dois filhos, dessem uma ajuda nas horas de maior aperto, porque, este lojista tinha uma venda (taberna) em frente, no mesmo Largo, onde tinha de aviar as bebidas aos fregueses. O senhor José Francisco, estava sempre bem disposto e tinha muito jeito para convencer os fregueses/as a levar mais algum produto, mas não gostava de conversas sobre a vida alheia dentro da sua loja, quando havia alguma tentativa, acelerava o atendimento, para mais depressa irem às suas vidas, mas quando as freguesas iam em ranchos para escolher tecidos, tinha que dispor de muita paciência, bem as incentivava a fazer a escolha certa e rápida, mas nem sempre tinha sucesso e, tinha de puxar os tecidos quase todos da prateleira atrás do balcão, para cima do mesmo e era mexer e remexer, por fim com muita sorte para ele, podiam comprar um metro ou dois de tecido para uma saia das calças, para umas ceroulas ou uma maruja para os maridos.
A loja da senhora Mariana do Seixo (Festas) estava instalada numa casa ao lado do seu Café e, como era recente, vendia apenas os produtos de mercearia mais procurados nessa época, de 1970/90.
A loja da senhora Leonília Bragança, era a que tinha maiores dimensões, um balcão comprido, bom para encostar e descansar da caminhada, e um atendimento personalizado, com delicadeza, sem pressas, as freguesas gostavam muito desta loja, tinha quase sempre novidades e tecidos muito bonitos, por isso, compensava dar mais uns passos e ir de Capelins de Cima ou de outro lugar, a Capelins de Baixo à loja da senhora Leonília, quanto mais não fosse, pelo passeio. Quando a loja tinha mais movimento, antes eram os pais que ajudavam, depois o esposo, o senhor José Sózinho (Balixa), natural de Santiago Maior que, desempenhava outras tarefas, no final de cada semana abria o talho em frente, onde vendia "carne esfoladia" (carne de borrego, ovelha ou cabra) e, também era agricultor, por isso, tinham um churrião, carruagem de atração animal de "luxo", era o único na Aldeia, para deslocações a feiras e festas, e para alugar para transportar os noivos nos casamentos.
A loja do senhor Francisco Pôtra, não era muito grande, mas incluía outra casa ao lado, tipo armazém, onde tinha muitas mercadorias, o atendimento era com muita calma, mesmo que o freguês/a fosse com pressa, mantinha a sua postura e linguagem, quase sempre, de casaco pelos ombros que, estava sempre a cair-lhe e ele sempre com o mesmo gesto a ajeitá-lo, era muito diplomata, tratava os homens e rapazes por, "real amigo", mas dava pouca confiança, dava-se muito ao respeito. Como tinha uma "venda" (taberna) e casão de bailes, na rua paralela, atrás da loja, era a esposa que o ajudava nos avios.
A loja da senhora Jacinta, surgiu em meados dos anos 60 e, estava instalada numa dependência da casa de habitação, mais integrada na própria habitação do que as anteriores, era pequena, não tinha muitos produtos, além dos mais consumidos, era mais mercearia, sendo a maioria das freguesas, vizinhas, amigas e familiares. A senhora Jacinta tinha um atendimento muito calmo e, sempre com muito vagar, sem pressa, se as freguesas estivessem dispostas, havia sempre tempo para uma conversa, era única nos avios, porque, o esposa o senhor José Russo, tinha à renda, a venda (taberna) e o casão de bailes do senhor António Bragança, onde passava os dias e, as noites a aviar as bebidas aos fregueses.
O AVIO E AS EMBALAGENS
Nessa época, os produtos que hoje são vendidos em embalagens individuais, eram manipulados pelos lojistas que os retiravam das tulhas, dos sacos de serapilheira, dos caixotes, das latas, com corredoras com diversas dimensão, geralmente de madeira, latão ou zinco.
Como o dinheiro era pouco, as pessoas não faziam grandes avios, compravam açúcar (de cana), fornecido às freguesas dentro de um cartuxo feito de papel cinzento. O lojista, fazia o cartuxo no momento, depois com uma corredora metia o açúcar e batia o cartuxo em cima do balcão de madeira, a fim do mesmo assentar, colocava-o na balança e com recurso à corredora, deitava ou retirava mais uma pitada de açúcar ou duas, até o fiel da balança indicar o peso pretendido. Depois era o ritual do fecho do cartucho, que ficava mais seguro do que um saco de plástico, mais tarde, já havia cartuchos feitos em papel, com várias capacidades.
Assim se pesava também o sal, a farinha, a massa, o arroz, o grão, o feijão, o cacau e o café, era tudo vendido a vulso, um quilo, meio quilo, meio arrátel, conforme as necessidades e o dinheiro que podiam gastar, ou ficar a dever.
A eletricidade só chegou a Ferreira de Capelins nos finais de 1960, pelo que, as pessoas tinham de comprar petróleo nas lojas, para os candeeiros ou para os fogões Hipólito, o qual, era aviado em garrafas ou garrafões levados de casa pelos/as fregueses/as, era medido e tirado de um bidão com uma bomba de dar à manivela, enchia um depósito ligado à bomba e dele passava para as garrafas ou garrafões.
As bolachas eram Maria, ou de baunilha, não havia outra escolha. A farinha para alguns caldos, era a famosa farinha 33, fabricada em Estremoz, mas não era para todos, se não estivesse doente, podia ser uma miragem, como muitas vezes eram os rebuçados de côco de meio tostão ou de frutos que custavam um tostão. Os chocolates só apareciam pelo Natal e já foi mais tarde, eram uns chapéus de chuva, bombons, galinhas, coelhinhos e ratinhos e não eram para todos.
Os enlatados, eram atum “Tenório”, sardinhas em azeite “Tricana” e cavalas em azeite.
Os fósforos, faziam muita falta, porque, tinham de acender os candeeiros a petróleo, o fogão Hipólito, quem tinha, o lume e os cigarros.
Algumas freguesas compravam um bocadinho de bacalhau para a açorda de alho, então, com sorte, escolhiam a parte que gostavam, era pesado e cortado no momento com a respetiva faca, guilhotina aparafusada ao balcão, mesmo à frente das freguesas, e depois embrulhado em papel cinzento mais leve do que os dos cartuchos.
Para a lavagem da roupa e para fazer barrelas, levavam sabão azul e branco, vendidos à barra ou a peso. Se as freguesas não queriam ou não podiam comprar uma barra inteira, então, a mesma era cortada com mestria e a porção pedida era pesada e embrulhada em papel.
A marmelada era apresentada em grandes tabuleiros, se a freguesa pedia meio quilo ou meio arrátel, era cortada com uma faca, colocada na balança em papel cinzento e nunca se tirava nenhuma fatia, podia era ser acrescentada, e depois embrulhada no dito papel.
A tripa de vaca, era vendida em todas as lojas na época das matanças dos porcos, estava exposta ao lado do petróleo fornecendo um cheiro de boas vindas muito especial nas lojas, mas não havia livro de reclamações, havia outro livro.
O LIVRO DOS FIADOS
O “Livro dos Fiados” era uma instituição que vigorava nas antigas lojas/mercearias, no tempo em que toda a gente tinha vergonha. Quando os homens ou mulheres da família ainda não tinham recebido o magro salário ou por dificuldades económicas, os valores dos avios eram registados num livro estreito e de capa negra. As carências da época não permitiam satisfazer, muitas vezes, o pagamento no momento, na despedida a palavra mágica era: aponte, ou já nem era necessário dizer, porque, conheciam bem os fregueses/as, mas a honra de cada um avalizava que seriam pagas, o que infalivelmente era feito, no mais curto espaço de tempo possível, nem que para isso, vendessem uma courela, se a tivessem, para pagar as dívidas.
Sabemos que, muita história fica por escrever sobre as lojas/mercearias de Ferreira de Capelins, dos anos de 1950/1960, mas com a ajuda de colaboradores/as estamos sempre a tempo de acrescentar o que se julgar de mais interesse.
Fim
(É uma singela homenagem às pessoas e a estas instituições que existiram em Ferreira de Capelins)
Balança de mercearia


sexta-feira, 1 de maio de 2020

Resenha histórica do Rio Guadiana

Resenha histórica do Rio Guadiana
O rio Guadiana nasce na Lagoa de Ruidera, na província espanhola de Ciudad Real e renasce nos Ojos del Guadiana (Espanha), a altitude da nascente é de 1700 m. Tem um comprimento de 826 km (é o quarto rio mais comprido da Península Ibérica), a área da bacia é de 66 800 km² (situada, grande parte em Espanha. Faz fronteira entre os dois países, Portugal e Espanha, tem uma foz entre Vila Real de Santo António e Ayamonte e desagua no Oceano Atlântico (mais especificamente no Golfo de Cádis). As suas principais afluentes são: Záncara, Ciguela, Bullaque, Lucefécit, Azevel, Rio Dejebe, Ribeira do Vascão, (direita) Guadiana Alto, Azuer, Jabalón, Zújar, Matachel, Ardila, Chança (esquerda).
O rio Guadiana é navegável até Mértola numa distância de 68 km. No seu curso português foi construída a Barragem do Alqueva, na reguião do Alentejo, que criou o maior lago artificial da Europa.

A história do nome do rio Guadiana
Os romanos começaram por chamar ao rio Guadiana de Anas (“dos patos”), ao que os mouros juntaram uádi (palavra árabe para rio), sendo então o Uádi Ana, passando ao português como Ouadiana e mais tarde ainda para Odiana. Porém, desde o século XVI que, por influência castelhana, foi ganhando terreno Guadiana (influenciado por outros nomes árabes de rios começados por guad, ex: Gualdaquivir, Guadalete, Guadalajara ou Guadarrama), sendo hoje em dia, a forma consagrada.

O contrabando no rio Guadiana
A posição geográfica do rio Guadiana, em termos de demarcação de fronteira com a vizinha Espanha, aliada ás dificuldades económicas de muitas famílias, das Terras da RAIA, incluindo a Freguesia de Capelins, fez emergir uma economia paralela, baseada nas “trocas comerciais” clandestinas entre Portugal e Espanha. As histórias de contrabando da época do Estado Novo são muitas. O contrabando mais vulgar era o de subsistência, com o qual o contrabandista apenas queria ganhar algum dinheiro para suprir as necessidades básicas da família. O contrabando foi uma atividade importante em ambos os lados do Rio, nesta região de agricultura pobre. O café português e o açúcar eram muito apreciados em Espanha de onde, por sua vez, chegava bombazina, calçado, conhaque, miolo de amêndoa e perfumes. Os produtos de contrabando eram, muitas vezes, passados a nado de uma margem para a outra, dentro de oleados – cada homem transportava 30 a 40 kg de carga. As autoridades portuguesas tentaram opor-se a esta realidade construindo em cada curva do rio um posto da Guarda Fiscal, que permitia assim, a vigilância de qualquer troço do rio.

A pesca no rio Guadiana
A pesca no rio Guadiana antigamente tinha mais importância do que os dias de hoje. Antigamente as dificuldades económicas eram tantas que para se sobreviver e não passarem fome tinham de pescar, mas essa actividade foi deixada de ser praticada, pois as famílias começaram a ganhar mais dinheiro e assim começaram a comprar os alimentos. Hoje em dia a pesca é praticada apenas para passar o tempo ou uma actividade livre. Os pescadores antigamente usavam os materiais para pescar fabricados manualmente, como: tresmalhos, redes de emalhar, tapa esteiros, aparelho de anzol, cana de pesca, varestilha, zangaia, nassas, covo, letrache, conto, carneiro, tela, colher, rapeta, tarrafa, fisga, redisca, levada, arrasto de varas, arrasto de cintura e arrasto de mão ou pesca à lapa.

Os Moinhos do rio Guadiana
Pesca com tarrafa no saudoso rio Guadiana
Foto de Internet


Povoado de Miguéns - Capelins - 5.000 anos

  Povoado de Miguéns -  Capelins - 5.000 anos Conforme podemos verificar nos estudos de diversos arqueólogos, já existiam alguns povoados na...