domingo, 26 de fevereiro de 2017

Dª Belmira do Monte de Santa Luzia, singela homenagem

Dª Belmira do Monte de Santa Luzia, singela homenagem

O Monte de Santa Luzia situa-se na herdade do mesmo nome, tendo pertencido até cerca de 1910 à Freguesia de Nossa Senhora do Rosário, mas a partir desta data, ou seja, sabe-se que entre 1900 e 1910 deixou de ser Freguesia sendo então integrada na Freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Alandroal. O Monte de Santa Luzia teve sempre uma forte ligação às terras de Capelins, embora existisse um grande obstáculo durante uma parte do ano entre essas terras, a Ribeira do Lucefécit, que nos invernos mais rigorosos impedia a passagem das pessoas entre as duas margens. Pensamos que, essa ligação se devia à localização do Lugar de Ferreira, que se situava junto á atual Ermida de Nossa Senhora das Neves, existindo uma curta distância entre esses dois lugares. A muitos/as capelinenses aqui foi garantido trabalho e, obviamente o seu meio de subsistência! 

Neste caso, o nosso objetivo é dar a conhecer o feito da Dª Belmira, pensamos que era proprietária e moradora no Monte de Santa Luzia, nos tempos da guerra civil de Espanha (de 17/18 de Julho de 1936 a 1 de Abril de 1939), devido às agruras dessa guerra, vinham a todo o momento, das terras nossas vizinhas de além Guadiana, mulheres e crianças a pedir auxílio alimentar. Como sabemos, toda a gente das terras de Capelins ajudavam como podiam, até na Casa Dias davam comida e dormida a grupos de crianças que por aqui apareciam! Mas, conforme se conta nas terras de Capelins, houve uma pessoa que se destacou nesse auxílio, pouco conhecida e muito menos reconhecida a sua bondade, foi a Dª Belmira, que chegou a fazer mais de uma cozedura de pão por dia para distribuir por essas mulheres e crianças esfaimadas e que quando entravam na herdade de Santa Luzia, decerto não passavam fome!

Ainda hoje, existe em Ferreira de Capelins, uma afilhada sua, com o mesmo nome!
Bem haja Dª Belmira de Santa Luzia!

Ao fundo: Monte de Santa Luzia 



sábado, 25 de fevereiro de 2017

Arte e Engenho do Pescador de Capelins - Ti Fura

Arte e Engenho do Pescador de Capelins - Ti Fura

Numa tarde do mês de Abril do ano de 1976, entrou num dos cafés taberna de Ferreira de Capelins um senhor que cumprimentou os presentes, pediu um copo de vinho tinto, bebeu metade, pousou o copo no balcão e perguntou: Conhecem um pescador daqui, chamado Fura? Respondemos todos em coro: Sim, toda a gente conhece o Ti Fura! Então porquê?
- Porque queria encomendar-lhe uns peixes para amanhã! 
- Olhe, ele esteve aqui à bocado e foi lá para a Guadiana (rio Guadiana)! Disse um dos presentes!
- E como é que lá o encontro?
- Conhece as Azenhas Del-Rei? Mesmo na foz da Ribeira do Lucefécit? Ele tem aí o barco mas se lá não estiver é porque anda a pescar, mande-lhe um assobio que decerto não anda longe e vem logo! 
O senhor agradeceu e seguiu viagem a caminho do rio Guadiana! 
Alguns foram à porta da taberna a bisbilhotar alguma coisa que tivesse escapado e que desse para conversa! 
- De onde será o bijagode? Disse um dos presentes! De perto não é de certeza, não me lembro desta cara, deve ser de Estremoz, porque os de Estremoz já têm por aqui aparecido ao peixe! Disse outro! Cá para mim deve ser de Bencatel, esses gostam muito de caldetas, fazem grandes paródias ali na Guadiana e desta vez devem fazê-la lá em Bencatel, disse outro! Do Alandroal não é de certeza! Conheço as pessoas todas, pelo menos pela cara, e de Terena muito menos! Disse ainda outro! Olhem lá, deixem lá ir o homem, porque ele não deve chegar muito longe! Disse outro! Então porquê? Perguntamos em coro! Pela carranjola que aqui apresentou, uma Citroen de 2 cavalos, quando abalou foi aos soluços e custou muito a subir além a chapada de Capelins de Baixo, acho que teve de ser em primeira! - Então não vai longe, não! Dissemos todos ao mesmo tempo!
Mais tarde soubemos pelo Ti Fura, o que se passou a partir daqui!
O senhor foi ter ao lugar indicado, estava o Ti Fura a merendar um bocadinho de pão com chouriça e um copo de vinho. O senhor cumprimentou-o e o Ti Fura retribuiu o cumprimento e ofereceu-lhe do seu farnel, ao que ele amavelmente declinou e agradeceu. Depois disse que se chamava Miguel, morava em Vila Viçosa e no dia seguinte íam fazer um almoço, uma pequena festa, nos Bombeiros e ele estava encarregado de comprar o peixe do rio para fazer uma "caldeta" e para fritar e que precisava de uns 30 quilogramas de peixe de vários tamanhos e peso, perguntando se o Ti Fura era capaz de os apanhar (pescar) que ele na madrugada seguinte viria buscá-los! 
- Olhe senhor Miguel, se quiser, dentro de 15/20 minutos arranjo-lhe os quilogramas que quiser e ainda pode escolher as medidas e peso de cada peixe! Disse o Ti Fura! Eh Ti Fura, está a brincar comigo não? Disse o senhor Miguel! Não estou, não senhor, eu não brinco com essas coisas! Como lhe disse, pode levar hoje os peixes que quiser e ao serão podem escamá-los, tirar as tripas e temperá-los com alho, sal, poejos e os outros temperos e o peixe da caldeta e o que fritar fica muito mais saboroso! Mas está a falar a sério? Arranja-me 30 quilogramas de peixe em 20 minutos, meia hora? Tornou a perguntar o senhor Miguel! Claro que estou a falar a sério! Fique aqui e por favor não abale daqui! Está bem, fico aqui à sua espera, disse o senhor Miguel!
O Ti Fura pegou na rede, nuns sacos e saiu no barco pelo pego de Dona Catarina e virou à direita para uma lagoa privativa, pouco profunda e que não deixava sair os peixes que ele lá colocava nos dias de pesca abundante e não tinha saída para tanto peixe que pescava, depois, nestas situações deitava a rede nessa lagoa (tipo um tanque natural) e era só meter os peixes nos sacos e foi o que fez nessa tarde. O senhor Miguel ficou à espera, mas desconfiado que não daria certo ainda se esgueirou a ver se conseguia ver o Ti Fura a pescar e viu-o a lançar a rede, então lá acreditou que conseguia levar alguns peixes para Vila Viçosa! Não demorou nada e o Ti Fura a chegar com os peixes no fundo do barco. O senhor Miguel, não via os peixes e disse-lhe: Então Ti Fura? Nada, não? Mas qual nada! Está aqui a sua encomenda conforme lhe disse! Venha cá ver se é assim que quer! O Ti Fura abriu as sacas que deixaram ver o peixe macho, barbo, alguns com mais de 2 quilogramas, aos saltos, que deixaram o senhor Miguel deslumbrado com o que estava a ver! E não deixava de repetir: Eu não acredito nisto! Ainda perguntou: - Foi nas lapas, não? Foi, foi, respondeu o Ti Fura! Pesaram o peixe que deu 32 quilogramas e custaram sessenta escudos ao senhor Miguel, que ainda deu mais 25 tostões para o Ti Fura beber um copito de vinho! E o senhor Miguel lá abalou a caminho de Vila Viçosa na sua carripana que foi em primeira até Montejuntos, onde chegou quase ao escurecer e já nem parou aqui, na estrada nova depressa chegou a Terena, parou a carranjola e entrou na taberna do senhor Neves, onde estavam 4/5 homens a beber uns copos de vinho. Cumprimentou os presentes e pediu um copo de vinho tinto, bebeu um sorvo e começou a contar que tinha ido ao rio Guadiana buscar mais de 30 quilogramas de peixe, mas não cabia nele devido ao que tinha acontecido! E contou que o Ti Fura tinha pescado todo aquele peixe e do tamanho escolhido por ele, num quarto de hora! Os presentes, ficaram desconfiados e insistiram: - Esse peixe todo num quarto de hora? Sim, e era todo o que eu quisesse, até uns cem quilogramas! Respondeu o senhor Miguel! Os clientes ficaram a olhar uns para os outros, sem resposta, mas um que estava sentado num banco no lado direito junto ao balcão e que só já abria um olho disse-lhe bruscamente: – Olha lá, não queres ir enganar outros para outro lado? Se não sabes, estás em Terena! O senhor Miguel nem acabou o copo de vinho, deu meia volta, meteu-se na carripana e só já parou em Vila Viçosa, onde continuou a contar a toda a gente o que se tinha passado, mas poucos acreditaram! Quase todos comentavam: Pescadores! 
Até hoje, o senhor Miguel ainda não sabe que o Ti Fura tinha uma lagoa privativa no rio Guadiana, sempre cheia de peixe! 
Bem haja Ti Fura!

Barbo





quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

O rito e a rota dos sete poços na madrugada do dia de São João (24 de Junho)

As terras de Capelins tinham tradições centenárias que ninguém consegue explicar a sua origem, porém, sabemos que derivam de uma mistura de culturas e credos, do lado de cá e de lá do rio Guadiana, incluindo a forte influência Judaica (Cristãos novos), que por aqui viveram durante alguns séculos! 
Uma dessas tradições, que se encontra quase extinta, como outras, e na qual muitos/as capelinenses participavam, embora alguns contrariados, por terem de sair da caminha pelas cinco horas da manhã no dia 24 de Junho, era tomar banho antes do nascer do sol, nas águas de sete poços! 
Alguns dias antes, dos banhos do São João, as habituais participantes, geralmente mulheres e crianças, começavam por escolher os sete poços a visitar. Depois, na madrugada desse dia, partiam com um balde e uma bacia, que as acompanhavam em todo o trajeto. Ao chegarem ao poço, tiravam a água para a bacia e faziam a lavagem à gato/a, as mãos, cara, pés e pernas e pouco mais e partiam logo para outro poço, porque ao nascer do sol o ritual tinha de estar terminado, senão não servia para nada. A finalidade deste rito era para ficarem livres de doenças, uma garantia que passavam o ano sem adoecer!
Hoje, ainda há algumas resistentes, cada vez menos, porque a idade já é muita, mas a sua fé nestes banhos continua!

Poço do chorão, dos mais visitados nos banhos do São João


segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017


A história de Vida do Ti Muchacho da vizinha Vila de Cheles

Devido aos malefícios da guerra civil de Espanha, de Julho de 1936 a 1 de Abril de 1939, num dia de um desses últimos anos chegou às terras de Capelins um menino com apenas 6/7 anos de idade, com aspeto muito franzino e denotando muita fome e sofrimento, ao qual tinham assassinado a família na vizinha Vila de Cheles. A situação apresentada por este menino transtornou de tal maneira a população de Capelins que, algumas pessoas, desobedendo à legislação Salazarsita arriscaram as consequências e não hesitaram em lhe dar abrigo, comida e proteção. O seu nome completo, nunca ninguém soube, parece que nem ele, era Angelo e nada mais. Cresceu em Capelins, trabalhando, por vezes na agricultura e fazendo sazonalmente outros trabalhos do campo, mas dedicou a maior parte da sua vida ao contrabando de café para Espanha, trazendo outros produtos de volta. 
Nunca obteve documentos, era uma pessoa sem identidade, nem era português, nem era oficialmente espanhol, mas uma da vezes que se deslocou à sua Vila de Cheles, foi preso e dizia-se que foi condenado à morte, tendo sido salvo por um influente Lavrador espanhol dono da herdade que fica em frente às Azenhas Del_Rei, e um dia quando já ninguém esperava, reapareceu nas terras de Capelins, mas ficou morto em Espanha. O ti Mutchaco, como sempre foi conhecido em Capelins, casou, ou viveu em união de facto, com a Ti "Gertrudes Luciana", mas nunca tiveram filhos, viveram muitos anos no Monte Novo dos Paulinos, até que a companheira partiu à sua frente e o ti Mutchaco, mais uma vez ficou sózinho. Viveu mais alguns anos nas terras de Capelins, até que se mudou para a Vila de Terena, onde, alguns anos depois, findou a sua atribulada e triste vida! 
Com esta lembrança, pretendemos prestar uma singela homenagem ao Ti Mutchaco! Paz À Sua Alma! 

Vila de Cheles - Espanha



quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

A Fé nas Candeias de Capelins

Nossa Senhora das Candeias

A origem da devoção a Nossa Senhora das Candeias, (Senhora da Luz ou Candelária) tem o seu começo na festa da apresentação do Menino Jesus no Templo e da purificação de Nossa Senhora, quarenta dias após o nascimento de Cristo (sendo celebrada, portanto, no dia 2 de Fevereiro).

A primeira aparição de Nossa Senhora das Candeias foi em 1400 numa praia das Ilhas Canárias, ficando os moradores muito assustados e tentaram atacá-la, mas deu-se um milagres e ficaram com as mãos paralisadas. Mais tarde, foi construído um Templo nesse lugar.
Nas terras de Capelins, Nossa Senhora das Candeias foi sempre muito venerada e todos os anos no dia 2 de Fevereiro à noitinha, durante as horas em que decorria a procissão de Nossa Senhora das Candeias, em Mourão, que saía da sua Igreja no Castelo, às 17:00 horas, quase ao pôr do sol, percorrendo as principais ruas da Vila, os/as Capelinenses acendiam as suas candeias que penduravam à porta, depois todos observavam os sinais enviados por Nossa Senhora, através do comportamento da chama, para ver se ficavam acesas ou apagadas, era isso que indicava se o inverno já tinha passado, ou se ainda estava para vir. 
Este acontecimento misterioso começava a ser falado muito antes do dia 2 de Fevereiro. As pessoa diziam umas às outras: Não te esqueças de acender a candeia, temos de saber se ela ri ou se chora! Estas conversas intrigavam a rapaziada, como é que uma candeia podia rir ou chorar? E na noite do dia 2 andavam de porta em porta para ver se alguma candeia ria ou chorava, mas nada! Não conseguiam entender! E ainda saber se o inverno estava para vir ou se já tinha acabado!
Os/as Capelinenses tinham muita fé nisso e levavam muito a sério o resultado obtido. A interpretação de cada um/a dava muita discussão, no bom sentido, nos dias seguintes, ficando sempre a dúvida, se o inverno já tinha passado ou se ainda estava para vir, porque se as candeias riam ou choravam, dependia da meteorologia verificada nessa noite, se chovia ou estava muito vento nessas horas, as candeias apagavam-se, logo choravam, mas se estava uma noite serena e as candeias se mantinham acesas, logo riam! Algumas pessoas acendiam as candeias à porta 2 noites, depois escolhiam o resultado, do riso ou do choro, mais favorável!
E era assim que Nossa Senhora das Candeias intercedia nas terras de Capelins, vizinhas de Mourão!

Nossa Senhora das Candeias 
Foto net 


quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Domingo de Páscoa em Capelins

A Páscoa ou Domingo da Ressurreição é uma festividade religiosa que celebra a ressurreição de Jesus Cristo ocorrida três dias depois da sua crucificação no Calvário, conforme o relato do Novo Testamento. É a principal celebração do ano litúrgico cristão e também a mais antiga e importante festa cristã. A data da Páscoa determina todas as demais datas das festas móveis cristãs, exceto as relacionadas ao Advento. O Domingo de Páscoa marca o ápice da Paixão de Cristo e é precedido pela Quaresma, um período de quarenta dias de jejum, orações e penitências.
A última semana da Quaresma é chamada de Semana Santa, a Quinta-Feira Santa comemora a Última Ceia e a cerimónia do Lava pés que a precedeu e a Sexta-Feira Santa relembra a crucificação e morte de Jesus Cristo. 
Em Ferreira de Capelins, realizavam-se grandes bailes no Sábado à noite que só terminavam na madrugada do Domingo de Páscoa. Depois pelas 09:00 ou 10:00 horas, era rezada uma missa na Igreja de Santo António, mas antes dessa hora, à semelhança do Domingo anterior, (Ramos), realizava-se um jogo de futebol junto à Igreja de Santo António, no habitual campo de futebol que pouco mais servia além desses dois Domingos. À chegada do Pároco, acabava-se o futebol e alguns rapazes seguiam para a Igreja, outros ficavam por ali a conversar e outros voltavam para a Aldeia ou íam apanhar cogumelos (chamados tubarões), pelo planalto da Sina ou no Canto da Igreja, onde havia sempre muitos e bons (grandes petiscadas, fritos com ovos do campo). 
Após o almoço, que por ser Domingo de Páscoa era melhorado, já se podia comer carne depois de quarenta dias em jejum, acompanhado com algumas bebidas (vinho, gasosa, laranjada ou água) e bolos caseiros, da Páscoa.
À tarde, as raparigas e mulheres faziam algumas visitas aos familiares e amigas para passear e sair de casa e os homens faziam uma grande tardada de taberna em taberna, para cima a uma taberna, para baixo a outra taberna até à noite, continuando alguns a beber, conversar, cantar e jogar ao chito, até se esquecerem onde moravam.
Em Montejuntos durante o dia era muito semelhante, mas a noite era diferente, porque realizavam o baile da Páscoa, sempre muito bem afreguesado e que só terminava pela madrugada de Segunda-Feira! 
E era assim a Páscoa nas terras de Capelins!

A ressurreição de Jesus Cristo 
Foto net 


Povoado de Miguéns - Capelins - 5.000 anos

  Povoado de Miguéns -  Capelins - 5.000 anos Conforme podemos verificar nos estudos de diversos arqueólogos, já existiam alguns povoados na...