quarta-feira, 1 de novembro de 2023

A tradição do dia de Todos os Santos nas Terras de Capelins

A tradição do dia de Todos os Santos nas Terras de Capelins 

As terras de Capelins, desde a sua reconquista aos mouros, cerca do ano de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil duzentos e trinta, recebeu povoadores de várias regiões do Reino, sendo em maior número das imediações da Serra da Estrela. 

Os povoadores traziam as tradições das suas terras, era a sua identidade que, tentavam manter vivas, mas nem sempre eram bem aceites pela população que já cá residia ou pelos que vinham de outros lugares, do Sul, ou do Reino de Castela e, a diversidade de tradições deu origem as outras, próprias de Capelins e da região, mais ao gosto de todos. 

No caso do dia de Todos os Santos, sendo uma festa da Igreja Católica, e não só, é natural que fosse orientada pelo Pároco de Santo António e, essa parte, não era muito diferente de outras regiões do Reino. 

Nos Registos Paroquiais de Capelins, não encontramos referências sobre a dita festa em honra de Todos os Santos, mas pelos dizeres que foram passando de geração em geração, nos séculos mais distantes, o povo capelinense não lhe dava muita importância, devido a vários fatores, por não terem muito para repartir com os que faziam o pedido dos Santos (o pão de Deus) e, por aqui perdurarem hábitos judaicos, no entanto, a Igreja cumpria a sua missão que, pensamos ser uma Missa nesse dia, para juntar os fiéis obrigados ao rol da confissão. 

Quanto à doação do pão de Deus, nessa época, era desconhecido da maior parte do povo, talvez fosse praticado pelos lavradores, ou seja, pelas pessoas mais abastadas, uma vez que, os pobres, eram muito pobres e não tinham nada para dar. 

Nos alvores do século XX, com a estabilização dos povoadores nas terras de Capelins, já com as famílias da segunda ou terceira geração, senão mais, o dia de Todos os Santos começou a ser diferente, principalmente para algumas crianças que se juntavam em pequenos grupos, geralmente, eram irmãos, primos ou vizinhos e percorriam algumas casas de familiares ou de vizinhos a pedir "os Santos" e, recebiam frutos da época, romãs, castanhas, marmelos, passas de figos, nozes, amêndoas e pouco mais, as avós ou bisavós, começavam por oferecer pão com azeitonas ou com queijo, que todos recusavam, não era isso que queriam, depois, elas davam-lhe alguns frutos, ou bolos caseiros que faziam em Capelins pela época dos Santos, a que chamavam roscas, mas os netos achavam sempre pouco e elas davam volta aos bolsos do avental de onde saiam uns tostões para rebuçados, quase sempre um cruzado que eram quatro tostões e davam para uma mão cheia de rebuçados de côco, de meio tostão. 

No fim do peditório, faziam-se as partilhas e, davam sempre molho entre a rapaziada, nunca era de acordo com todos, uns achavam que os outros ficavam melhor e, acabava em prantos que pareciam a música  de uma orquestra sinfónica, mas passava.

Assim, era o dia de Todos os Santos, nas terras de Capelins, onde as tradições são a nossa identidade.

Fim 

Texto: Correia Manuel 

Santo António de Capelins



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