O misterioso cruzeiro do Terraço, em Capelins
Na Freguesia de Capelins - Santo António, existem pelo menos nove Cruzeiros ou Alminhas, que são monumentos religiosos que tinham vários fins e, cinco situam-se perto da Igreja de Santo António, quase em circulo, mais afastados estão dois, o do Monte da Cruz e o da herdade do Terraço, e mais dois junto à Ermida de Nossa Senhora das Neves e, ainda existia outro que, foi demolido para alargamento do caminho na direção da Serra da Sina, perto do adro daquela Igreja.
Parece que, cada Cruzeiro pertencia a uma das Irmandades ainda existentes em Junho do ano de 1758, descritas pelo padre Manuel Ramalho Madeira, nas Memórias Paroquiais dessa data, eram seis Irmandades em Santo António e duas na Senhora das Neves, estes Cruzeiros destinavam-se a santificar os espaços entre eles, ainda é possível observar em alguns as palavras "campo santo" era um aviso a quem aqui chegava, informando que a partir daquele lugar era terra sagrada, pelo que, deviam acautelar os seus comportamentos e ter o devido respeito. Para essa santificação, eram determinantes as procissões que percorriam o perímetro da igreja e davam a volta ao redor dos ditos Cruzeiros, neste caso, eram o limites de uma profunda devoção.
Existiam/existem Cruzeiros que, também tinham relação direta com os mortos, ou seja, foram construídos no lugar onde algum Cristão faleceu da vida presente, fosse por morte natural ou homicidio, ou por ter ali acontecido algum sacrifício.
O Cruzeiro do Terraço fica situado na herdade com esta designação, na berma de um caminho que, antigamente era muito concorrido, porque fazia a ligação entre as Aldeias de Ferreira de Capelins e de Cabeça de Carneiro, levando-nos a pensar durante muito tempo que estaria relacionado com o falecimento de alguém naquele lugar, assim, decidimos pesquisar para confirmar, através da consulta a diversos documentos antigos, como Registos Paroquiais, testamentos e outros e não encontrámos nenhuma pista, pelo que, começámos a perguntar aos mais velhos de Capelins o que sabiam sobre a existência do dito Cruzeiro e, alguns ancestrais disseram-nos que, era muito antigo, e que passou de geração em geração o dito de ter sido construído na centúria de 1700 ou talvez antes, ao lado do pocinho (há muitos anos que já não existe) e, que ali fazia um cruzamento de dois caminhos, um que vinha dos Montes Juntos, com o antes referido, e dali seguia quase em linha reta até à Igreja, e o Cruzeiro destinava-se a receber os funerais de Montes Juntos para Santo António, os familiares dos falecidos acendiam uma lamparina de azeite dentro da concavidade que se pode observar, para honrar o seu ente e para nas trevas iluminar a sua alma, o funeral parava ali, porque era uma fronteira e, a partir dali o defunto entrava no campo santo ou sagrado, sendo este ritual com intençao de ajudar a alma que estava no Purgatório a purificar-se, uma vez que, não podia entrar no Céu sem ser expiada a culpa e, até podia ficar "a penar", e aparecer aos vivos a pedir ajuda para fazerem o que ela lhe pedisse a favor da purificação, pelo que, tinham muita cautela no cumprimento do ritual, porque, quando as almas penadas apareciam aos vivos, traziam muito sofrimentos, tanto para elas, como para as pessoas a quem elas apareciam.
O Cruzeiro do Terraço, quando, noutros tempos os caminhos eram quase em linha reta, nao ficava a mais de 500/600 metros da Igreja de Santo António, enquadrado-se, perfeitamente na finalidade destes Cruzeiros.
O Cruzeiro do Terraço, também é um monumento religioso, como os outros e, é um marco na história da vida e da morte das gentes de Montes Juntos, de outros tempos, no entanto, este Cruzeiro encontra-se em vias de desmoronar e desaparecer, levando com ele, as memórias dos ancestrais de Capelins.
Fim
Texto: Correia Manuel
Cruzeiro do Terraço
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