quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

Memórias do uso dos chapéus e das boinas, em Capelins

Memórias do uso dos chapéus e das boinas, em Capelins 

Se o traje é usado para representar a cultura ou identidade de uma determinada comunidade, neste caso, podemos incluir os chapéus e as boinas na identidade da comunidade capelinense, uma vez que, noutros tempos faziam parte das indumentárias nas terras de Capelins, havia chapéus e boinas de todas as cores e feitios, as boinas eram de tecido liso e de diversos padrões, em plástico, de napa ou pele, para ricos e para pobres, logo, umas finórias e as do trabalho, as do inverno tinham orelhas que se aconchegavam à cara e tinham uma mola que a ajustava por baixo do queixo, não deixando entrar o frio nem a chuva, mas à medida que o tempo melhorava, estas boinas eram substituídas por outras mais leves, conforme o tempo, fosse primavera ou verão, e nas festas ou em qualquer saída das Aldeias, em passeio ou a tratar de assuntos, assim era boina que levavam, mas era a mais fina, por isso, havia homens que tinham algumas dezenas, a condizer com os respetivos trajes.

Quanto aos chapéus, também existiam de todas as cores e feitios e para todos os gostos, alguns indicavam a classe social ou profissional de quem os usava, havia os chapéus de palha para a raziada, os de ráfia para as mulheres, os de aba direita usados pelos lavradores, por isso, chamavam-lhe chapéus de lavrador, enquanto nos trabalhos do campo usavam um chapéu, geralmente prêto, ou castanho, às vezes já sem cor, consumida pelas intempéries, com as abas curtas e um pouco curvadas, também havia os chapéus à cowboy com as abas lateralmente curvadas para cima, estes eram usados por poucos homens, e havia uns chapéus mais finos, panamás, ou de côco, usados por comerciantes, empregados do comércio, de escritórios, profissionais liberais, médicos, advogados, professores, empresários, altas individualidades e outros, mais usados nas vilas e nas cidades. 

Em Capelins, usavam-se mais os chapéus de trabalho do campo e nos dias quentes de verão, os homens que trabalhavam nos campos, colocavam um lenço por baixo dos chapéus, tal como faziam os que usavam boinas, que caía até aos ombros e protegia a área do pescoço, contra o sol ardente e, ao mesmo tempo, esses lenços podiam ser usados para limpar o suor que escorria pelo rosto. 

 As boinas e os chapéus serviam para cobrir a cabeça, mas tinham outras utilidades, no caso dos chapéus tinham uma fita ou cinta em redor, que servia para não deixar dilatar a parte que entrava na cabeça, sendo essa fita ornamentada, mais pelas mulheres que também usavam boinas ou chapéus, com flores, espigas de cereais, penas coloridas de aves, e os homens aproveitavam a fita para espetar alfinetes de cabecinha para quando fosse preciso, tirar picos que se espetassem nos dedos, mas alguns também metiam penas coloridas de aves, mas também eram usados para acenar, para chamar à atenção ou chamar alguém à distância e, quando os homens se encontravam ou cruzavam numa rua, num caminho, em qualquer lugar, faziam uma vénia, um cumprimento levando a mão direita à pala da boina ou à aba do chapéu e se fosse uma pessoa considerada importante descobriam a cabeça e, enquanto falavam ficavam de cabeça descoberta com a boina ou chapéu na mão, se entrassem numa casa alheia tiravam, imediatamente a boina ou o chapéu e só voltavam a colocalo na cabeça se o dono da casa lhe dissesse para o pôr, se entrassem numa Igreja, ou numa Repartição Pública, nunca entravam com a boina ou com o chapéu na cabeça.

As boinas em algumas regiões são designadas de bonés, mas nas terras de Capelins os bonés são diferentes, têm uma pala de maiores dimensões e o feitio é diferente das boinas.

O chapéu era tão importante que, existem várias cantigas populares dedicada ao chapéu, como esta:

Ó que lindo chapéu preto

Naquela cabeça vai

Ó que lindo rapazinho

Para genro do meu pai


É mentira, é mentira

É mentira, sim senhor

Eu nunca pedi um beijo

Quem mo deu foi meu amor.

(...). 

Fim 

Texto: Correia Manuel 





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