quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

Memórias da chegada do Posto dos Correios a Capelins de Cima

Memórias da chegada do Posto dos Correios a Capelins de Cima

Na última metade do decénio de 1960, o volume de cartas, aerogramas e encomendas destinadas às Aldeias que constituem a Freguesia de Capelins, em conjunto com a Aldeia de Cabeça de Carneiro, aumentava dia a dia e, passou a ser muito trabalho para as Mercearias que até aqui faziam a entrega do correio, em troca de nada, era apenas uma estratégia comercial, como os fregueses se dirigiam à respetiva Mercearia a levantar ou a saber se tinham correio, na mesma visita, compravam sempre alguma coisa, aumentando as vendas, sendo uma vantagem para o negócio. 

 Cerca do ano de 1968, os CTT, escolheram a Aldeia de Ferreira, Capelins de Cima, para instalar o Posto dos Correios, o qual, ficou sediado na cave da casa e loja do senhor José Francisco, numas boas instalações, até tinham um quarto para o carteiro.

A escolha recaiu nesta Aldeia, por uma questão de logística, por ser a mais próxima do Alandroal, bem situada para iniciar e acabar o circuito do correio, implementado na Freguesia de Capelins. 

O correio dirigido às ditas localidades chegava a Capelins de Cima todo junto, dentro do mesmo saco, bem fechado e selado, e  só abria com uma chave especial guardada pelo carteiro que, tirava o conteúdo do saco, fazia a separação  das cartas, aerogramas e encomendas por Aldeias e dentro de cada uma, ordenava pelas ruas e números da porta, conforme o giro e, enquanto fazia esse trabalho, era seguido por um grupo de mulheres, rapazes e raparigas, a comentar em voz baixa o que conseguiam ver e, o senhor João Carteiro era tão paciente que, não se importava com os comentários e não dizia nada.

Quando o dito trabalho estivesse pronto, o carteiro pegava no correio de Capelins de Cima e lia em voz alta os nomes dos destinatários e, se estivessem presentes, ou se eram seus vizinhos ou familiares, se pedissem, ele entregava até o correio da rua toda e, por cada nome que o carteiro lia, como a maioria das pessoas não eram conhecidas pelos seus verdadeiros nomes, ou quando chegavam os avisos das Finanças para pagamento da contribuição autárquica, atual IMI, em nome dos donos das terras ou das casas, às vezes de trisavôs ou tetravôs que já tinham falecido há quase cem anos, sem rua nem número de porta, só alguém mais velho, sabia dizer ao carteiro a quem devia entregar o respetivo aviso, quanto ao correio normal os presentes respondiam em coro: - É o ti João da Cruz, é a ti Rosa Mira, é a ti Catrina Pôtra, é a ti Luzia Ratinha, é o ti Zé Marisuco, é o ti Zé Rato, é o ti Limpas, é a ti Lúcia e, sempre assim, o restante correio, fizesse chuva ou sol ardente, o carteiro partia numa motorizada a fazer a distribuição porta a porta e, na volta fazia a recolha do correio das respetivas caixas, para o tratar em Capelins de Cima e, depois seguia para o Alandroal e fechava o circuito. 

O Posto dos Correios em Capelins de Cima, tinha muito movimento de correio enquanto durou a guerra colonial, depois a quantidade de cartas diminuiu, os aerogramas acabaram e, após 1974, a distribuição do correio na Freguesia de Capelins foi alterada e, nunca mais foi o que era nessa época.

Fim 

Texto: Correia Manuel  

Aldeia de Ferreira- Capelins de Cima



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