segunda-feira, 3 de outubro de 2022

A lenda do Moinho das Bolas, em Capelins

 A lenda do Moinho das Bolas, em Capelins 

Moinho de Bolas/Seixos
"Esta confiável e eficaz tecnologia de moagem existe há mais de 200 anos, e a Metso até agora projetou, fabricou e instalou mais de 8.000 moinhos de bolas/seixos em todo o mundo. Ambos utilizam corpos moedores como meio de moagem, sendo os de bolas com bolas de aço, e os de seixos com cerâmica ou a própria rocha natural".
O Moinho do Bolas ficava/fica situado no rio Guadiana, no limite das herdades da Amadoreira e da Defesa de Bobadela, na Freguesia de Capelins, encontrando-se submerso pelas águas do Grande Lago de Alqueva! 
Este Moinho, construído no início da primeira década de 1900, foi o último a edificar nesta Freguesia, quando já aqui existiam cerca de 20 Moinhos e, um dos últimos no rio Guadiana! 
A sua construção envolveu muito falatório, a opinião dos entendidos na matéria era que, não havia lugar para mais Moinhos e, toda a gente queria saber quem seriam os donos desse Moinho! Alguns diziam que devia ser uma sociedade de lavradores das herdades vizinhas, mas os que eram confrontados afirmavam que, não sabiam de nada, ninguém tinha falado com eles sobre esse assunto e, achavam que, devia ser uma alta figura de fora da Freguesia e, estavam certos! 
Assim que o caudal de inverno do rio Guadiana baixou, começaram as obras, aumentando ainda mais a curiosidade dos capelinenses e dos vizinhos, ao mesmo tempo, começaram a ouvir que o Moinho  era diferente de todos os que já existiam, não teria mós, fazia a farinha com umas Bolas, o que era difícil de acreditar! 
Já passava de um século que tinham surgido na Europa os Moinhos de Bolas, os quais, eram mais usados para desfazer o minério, mas neste caso, dava jeito aos donos deste Moinho fazer publicidade e, foi a seu mando que esta novidade foi espalhada por toda a região. 
Os alvanéus que lá trabalhavam eram de Terena, mas uma grande parte dos jornaleiros eram de Montes Juntos, construiam o Moinho, o açude e toda a zona envolvente, incluindo os acessos, tal como os alvanéus também os jornaleiros não sabiam para quem trabalhavam, recebiam a jorna e as ordens diretamente do Mestre e, só sabiam que ele tinha sido contratado por um Procurador que morava na Vila de Terena, existia aqui um grande segredo! Devido a esta situação, surgiam conversas incríveis, como a de dois fregueses dos Moinhos das Azenhas D' El-Rei o ti Manoel Joaquim de Montes Juntos e um seu compadre o ti Joaquim Manoel que morava no Monte da Capeleira, ambos seareiros que se encontraram no caminho ao lado do Monte da Amadoreira, vindo um, de volta com com a farinha e, o outro dirigia-se para as Azenhas D' El-Rei com a semente! Ao cruzarem-se, deram ordem de paragem às mulas que pararam instantaneamente e, os carros ficaram lado a lado! Cumprimentaram-se e a conversa foi imediatamente dirigida para o novo Moinho no Guadiana! 
Ti Manoel: Então compadre, o que me diz vocemecê do Moinho que andam para ali a construir na Guadiana?
Ti Joaquim: O que hei-de dizer compadre, digo o que toda a gente por aí diz! Diga-me lá que necessidade há de mais um Moinho? Já temos aqui uns vinte! Para mim, não me faz falta nenhuma, toda a vida fui às Azenhas D' El-Rei, já o meu avô e o meu pai lá eram fregueses, por isso, é aí que continuo a ir! Não sei, compadre, para que será uma coisa destas? 
Ti Manoel. Pois, olhe compadre, eu digo o mesmo! Mas dizem que há aí uma marosca qualquer! Então, como é que controem uma coisa dessas e ninguém sabe quem é o dono! Tiveram de tirar licença lá no Alandroal, logo, teve de ficar lá o nome dele! Ou então, será alguma sociedade secreta! 
Ti Joaquim: Sim, sim compadre, isto é secretismo a mais! Mas não podiam fazer o Moinho sem licença, eles tiveram de dar a licença a alguém e esse alguém é o dono! Mas quem será? Quém será ele? O compadre não desconfia? Cá a mim, parece-me que deve ser de algum desses lavradores ricaços ali de Terena! 
Ti Manoel: Oh compadre, eu também desconfio disso, mas porque motivo será um segredo destes? Tem de haver aí alguma coisa! 
Ti Joaquim: Sim, sim, compadre, alguma coisa ele há, senão não havia tanto falatório! 
Ti Manoel: Então e o compadre já ouviu a novidade sobre como é esse Moinho? 
Ti Joaquim: Qual noviidade compadre? Então não é como os outros? 
Ti Mnaoel: Ah o compadre ainda não sabia? Não é como os outros, não! Lá nos Montes Juntos, dizem que vai ser um Moinho como há poucos no Mundo! 
Ti Joaquim: Oh diabo! Oh diabo! Eu vi logo que isso nos trazia para aqui algumas "fezes"! Mas que "raio" vai esse Moinho ter que outros não têm? 
Ti Manoel: Olhe compadre, dizem que não vai ter mós! 
Ti Joaquim: Oh compadre não me faça rir! Essa agora! Então sem mós, como vai moer a semente, como faz a farinha? 
Ti Manoel: Não sei compadre, dizem que em vez das mós vai levar duas bolas de aço e são essas bolas que passam uma pela outra, moem o trigo e fazem a farinha, que dizem ser melhor do que a dos outros Moinhos, é mais e muito fina! Sabe que até já lhe chamam o Moinho das Bolas?
Ti Joaquim. Ah sim compadre? E o compadre não acha que isso são modernices a mais aqui para o nosso Lugar? 
Ti Manoel: Então não acho compadre! Olhe, como lhe disse, eu é que não ponho lá os pés e trigo meu, não entra nesse Moinho! 
Ti Joaquim: Eu digo o mesmo compadre! Vamos lá indo, cumprimentos lá em casa, até um dia destes! 
Ti Manoel: Passe bem compadre, os meus cumprimentos à família! 
O ti Manoel Joaquim e o ti Joaquim Manoel despediram-se e foram tratar da sua vida, seguindo em direções contrárias, ambos afirmando que, não iam pôr os pés no futuro Moinho das Bolas! 
A construção do Moinho das Bolas, já era assim conhecido, continhuava em força e, todos os dias lá passavam muitos curiosos a tentar saber alguma novidade e, outros andavam espreitando as obras por detrás dos outeiros em volta, porque ninguém percebia como é que o Moinho pudia trabalhar sem mós e como é que duas bolas podiam fazer o trigo em farinha! 
Finalmente, o Moinho, o açude e os acessos ficaram prontos e, a curiosidade dos capelinenses subiu em flecha, porque diziam que estavam quase a chegar as Bolas de aço que vinham lá de fora do estrangeiro! 
Um dia, apareceu um carro puxado por bois a caminho do Moinho das Bolas, toda a gente pensou que eram as Bolas, não podia ser outra coisa e, os que puderam foram a correr até ao rio Guadiana para as ver descarregar e, se os deixassem, até podiam ajudar e mesmo vê-las a fazer farinha, passaram por ali o dia, mas sofreram grande deceção, uma vez que no carro vinham mós feitas em mármore, era verdade que eram diferentes das outras mós de granito, existentes nos outros Moinhos e de verdade faziam a farinha mais fina, mas não eram bolas, isso não eram, a não ser que ainda viessem, ficou essa dúvida! Porém, as mós de mármore foram instaladas, o tempo foi passando e, nada de bolas! Moinho foi registado com a designação de Moinho das Bolas, porque, já era uma marca bem conhecida em toda a região! 
A farinha produzida neste Moinho era de verdade muito melhor do que nos outros Moinhos, devido às mós de mármore, por isso, eram muitos os fregueses que lá acodiam e, até o ti Manoel Joaquim e o ti Joaquim Manoel deram o dito por não dito e ficatram fregueses, também, devido à troca dos moleiros das Azenhas D' El-Rei, para este Moinho! As Bolas, nunca chegaram ao Moinho das Bolas, mas que era diferente dos outros, isso era! 
Sobre quem mandou construir o Moinho das Bolas, continuou a ser um grande mistério até agora, porque, já sabemos que, este Moinho não foi mandado construir pelo Ti Bolas, mas sim, pelo senhor António Rainho, natural e residente na Aldeia das Hortinhas - Terena.

Fim 

texto. Correia Manuel

Moinho do Bolas


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