terça-feira, 4 de outubro de 2022

A lenda do Lugar do Ai Ai, em Monte Abaixo - Terena

 A lenda do Lugar do Ai Ai, em Monte Abaixo - Terena 

Após a vitória das tropas portuguesas na batalha das Linhas de Elvas, no dia 14 de Janeiro de 1659, o regimento de Elvas foi reforçado e, os diversos esquadrões, apressaram-se a voltar às suas praças que, tinham ficado desguarnecidas, para acudir ao cerco daquela cidade pelas tropas de Castela que, mesmo vencidas, esperava-se para breve, nova investida, pelas terras raianas, de Portugal.
A defesa da praça de Vila Viçosa, uma das mais assediadas pelos castelhanos de Olivença, foi entregue ao tenente general Dinis de Melo e Castro, natural de Borba, mas residente em Vila Viçosa, o qual, se tinha destacado na batalha das Linhas de Elvas. 
Quando o tenente general Dinis de Melo de Castro entrou em Vila Viçosa, com as suas companhias, tinha como objetivo proporcionar-lhes alguns dias de descanso, mas assim que chegou, deram-lhe a notícia que três esquadrões de castelhanos tinham passado o rio Guadiana e, talhavam as terras de Capelins, nessa época, de Terena e, desde o Moinho do Gato até perto de Terena, tinham apresado o gado para levar para Castela e, não satisfeitos, faziam outros estragos mais sensíveis, arrasando e queimando todas as instalações agro pecuárias das herdades e dos baldios, só não tinham conseguido saquear a Villa de Terena, porque, o pequeno regimento e os ordenanças que a defendiam, os tinham repelido, mas esta Vila, podia cair a qualquer momento. 
Dinis de Melo de Castro, nem desmontou o seu cavalo e, convocou logo as suas companhias para partirem, imediatamente para as terras de Terena. 
As companhias seguiram em marcha apressada e, rapidamente chegaram à Villa de Terena, onde receberam informações sobre, quantos castelhanos eram, como estavam armados e, a sua posição naquele momento, sendo logo traçados por Dinis de Melo de Castro, os planos de ataque de surpresa na madrugada seguinte. 
Os castelhanos, estavam acampados no Monte Branco, a cerca de meia légua a sul, onde não lhe faltava água, nem comida e, estavam abrigados do alcance das bocas de fogo instaladas no Castelo de Terena, ali esperavam a chegada das noites de escuridão, para encobertos e de surpresa, entrar e saquear a Vila de Terena para onde tinham fugido os moradores do Concelho! 
Os castelhanos, estavam descansados, tinham poucas sentinelas, porque, sabiam que as tropas portugueses ainda se encontravam na cidade de Elvas a recolher os despojos da batalha e, em reorganização, pelo que, não esperavam que fosse possível, chegar ali tão rapidamente, então, dormiam quase todos, sem nenhuma preocupação.
As companhias do tenente general Dinis de Melo de Castro, foram divididas em seis grupos, começaram por eliminar as sentinelas e, depois cercaram os castelhanos que dormiam e sonhavam com a tomada da Vila de Terena, então, atacaram de surpresa e não os deixaram montar nem usar as armas! 
Como os castelhanos ficaram desorientados, ainda ensonados e alguns descalços e em ceroulas, fugiram na direção da Aldeia de Faleiros, na tentativa de se organizarem e dar batalha aos portugueses, porém, estes, durante a madrugada tinham-se instalado nos outeiros, de Faleiros, de Nabais e em todos os lugares mais altos daquela região, com algumas bocas de fogo, começando a disparar, para lhe cortar a passagem, obrigando-os a parar e, a enfrentar as tropas portuguesas que estavam junto deles, incluindo o tenente general Dinis de Melo de Castro, cujo braço tinha qualidades de raio em fulminar os impulsos, sempre contra o mais forte, o qual, investiu vigorosamente, começando logo os castelhanos a  experimentar o castigo do seu engano, não lhe valendo o seu arrependimento. 
As insolências que os castelhanos tinham executado acenderam nos  soldados portugueses tão furiosamente a ira que, foi necessário toda a atenção da urbanidade de Dinis de Melo de Castro para que, na arrebatada indignação das suas tropas se introduzisse outra vez a primeira ordem dos afetos. 
A cólera fez degenerar aqueles homens em feras, porém a compaixão de Dinis de Melo de Castro, tornou a reduzir aquelas feras em homens, parece que, não quis consentir a sua generosidade que a contenda se tornasse numa grande atrocidade, poupando a vida a alguns castelhanos que se renderam, no entanto, do grande grosso de Cavalaria só dezassete levaram a Olivença a noticia do seu estrago, todos os mais, foram feridos, mortos ou prisioneiros. 
Depois do saque de todos os haveres dos castelhanos, botas, roupas e armas, como também, foram apresados duzentos cavalos ao inimigo, as tropas do tenente general Dinis de Melo de Castro, voltaram a Villa Viçosa para descanso, deixando o campo livre, para que, os castelhanos, como era habitual depois das batalhas, poderem recolher os seus mortos e feridos! 
Neste caso, isso não aconteceu em devido tempo, porque, quando os dezassete castelhanos chegaram a Olivença e contaram, como tinham sido massacrados pelo "braço de raio", ainda acentuaram mais o que tinha acontecido, para justificar a sua tão grande derrota e, acrescentaram que, os portugueses continuavam na região, esperando pelo esquadrão de resgate dos mortos e feridos para os dizimar! 
A sua falsa versão, obrigou a medidas mais severas e à organização de dois esquadrões de auxílio  bem preparados, para resgate e defesa, levando muito mais tempo a chegar, deixando os feridos e os mortos, tempo de mais, no campo da batalha! 
Os feridos eram muitos, alguns em agonia, gemeram e gritaram durante três dias e três noites, ouviam-se por toda a região: "ai ai, ai ai, ai ai"! 
Quando chegou o auxílio, para muitos feridos, já era tarde e, os ai ai, foram abafados, mas ficaram na cabeça de muitos moradores das redondezas, até ao fim da sua vida!
Este impressionante acontecimento, foi verídico, conforme consta, grande parte, no livro da "história da vida panegyrica de Dinis de Melo de Castro" e tornou-se uma lenda, sendo contado de geração em geração, foi assim que, esse mítico lugar onde se deu a contenda, junto ao Monte Abaixo - Terena, ficou a designar-se para sempre, o Ai Ai. 

Fim 

Texto: Correia Manuel





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