A lenda da Azinheira Santa, de Capelins
Conta a lenda que, nas terras de Capelins, de entre milhares de azinheiras, na herdade do Roncão, perto da Ribeira de Lucefécit, existia uma azinheira que produzia bolotas doces e, em cada uma, estava desenhada a imagem da Virgem Maria, com aparências diferentes, passando a ser conhecida pela Azinheira Santa.
Nos meses de Novembro e Dezembro, aqui acodiam romeiros devotos de Nossa Senhora, da região e até de Espanha, para homenagear as bolotas, não as comiam, porque diziam que, ao comê-las, comiam Nossa Senhora.
Nem todas as pessoas tinham o privilégio de ver as imagens, mas como tinham devoção, ajoelhavam-se a rezar debaixo da azinheira carregada de bolotas, logo de imagens, e pediam ajuda e proteção contra o mal, e como alcançavam graças, aumentavam cada vez mais os devotos.
Depois do Diabo ter fugido de um baile de Monsaraz, refugiou-se na Rocha do Demo, um pouco abaixo do Convento da Orada e, quando já estava tudo calmo, resolveu partir para Elvas, onde tinha algumas almas penadas para recolher, meteu-se a caminho, passou a Ribeira do Azevel e seguiu por um caminho quase em linha reta para Elvas, porém, quando passava pela herdade do Roncão de Capelins, antes de chegar à Ribeira de Lucefécit, ouviu grande ladainha de gente a rezar, ficou irritado e dirigiu-se a um homem que, como não sabia rezar, esperava a mulher, sentado numa pedra, junto ao caminho e disse-lhe:
Diabo: Boa tarde, meu ilustre senhor, por favor, fazia a fineza de me informar o que se passa ali debaixo daquela azinheira?
O homem, era conhecido em Capelins pelo ti Cachopo e quando olhou e viu aquele figurão bem vestido, melhor calçado e tão elegante, com aqueles modos tão delicados, rodou o corpo em cima da pedra para olhar para trás, pensando que era engano, aquele modo de falar não podiam ser para ele e, ficou assarapantado, caindo da pedra.
O Diabo deu um passo em frente para o ajudar a levantar-se, mas o ti Cachopo, deu um salto para a frente e ficou em pé em frente ao Diabo e respondeu-lhe:
Ti Cachopo: Boa tarde, já vi que não é daqui, nem precisa de dizer mais nada! Então não vê que estão a rezar à Azinheira Santa!
Diabo: Oh homem! Está a brincar comigo? Conheço por aí as azinheiras todas e nunca vi nenhuma Azinheira Santa!
Ti Cachopo: Pois olhe, se ainda não viu, não é cedo nem é tarde, pode ver agora!
Diabo: Ora essa! Isto não pode ser! Mas afinal o que tem essa azinheira de sagrado para ser Santa?
Ti Cachopo: O que tem de sagrado? Tem tudo, tem uma carga de Santas, em cada bolêta, tem lá uma Santa, olhe, tem mais Santas que as Igrejas todas juntas, é por isso que, cada vez vem cá mais gente e já alguém me disse que não demoram em fazer aí uma Igreja, parece que, os espanhóis também estão metidos nisso!
O Diabo ficou ainda mais irritado e balbuciou: - Tudo menos Igrejas, isso é que não, tenho de acabar com aquilo e avançou direito à Azinheira Santa para ver com os seus próprios olhos o que o ti Cachopo lhe contava, aproximou-se desconfiado, viu as bolotas, mas não via nenhuma imagem da Virgem Maria, apanhou uma com cuidado, mas assim que lhe tocou apanhou um coice que parecia de um cavalo, caindo de costas.
Os devotos rezavam, mas ouviram o barulho da queda e olharam admirados, mas o mafarrico disfarçou, dizendo que tinha tropeçado numa pedra, apressou-se a levantar-se e a confirmar que estava tudo bem.
O Diabo foi-se afastando dali, jurando que a Azinheira Santa tinha as horas contadas, foi sentar-se atrás de uma rocha junto à Ribeira de Lucefécit, de onde dominava o panorama, esperando que os devotos fossem às suas vidas, mas como estava com pressa, ainda tinha uma grande caminhada até Elvas, lembrou-se de os afugentar, armou uma grande trovoada vinda de além Guadiana fazendo trovões tão fortes que tremia tudo com o estrondo, depressa fez desaparecer os devotos que ali estavam, depois mandou um raio com tanta ferocidade contra a Azinheira Santa, que a rachou de alto a baixo e a deixou a arder, antes de abalar, foi confirmar que ficava feita em cinzas e nunca mais dava as bolotas com as imagens da Virgem Maria, então, muito feliz pelo mal que tinha feito, passou a Ribeira para o lado do Aguilhão e seguiu para Elvas.
A trovoada produziu alguma chuva e a Azinheira Santa, não ardeu por completo, passou alguns anos em recuperação e conseguiu regenerar, mas estava condenada, o que o fogo do diabo não conseguiu fazer, fez a água, porque morreu afogada, na Albufeira de Alqueva.
Fim
Texto: Correia Manuel
Azinheira vizinha da Azinheira Santa
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