terça-feira, 4 de outubro de 2022

Breve história da Aldeia de Montejuntos - Capelins

 Breve história da Aldeia de Montejuntos - Capelins

A história da Aldeia de Montejuntos não pode ser dissociada da história da Freguesia de Capelins, cujo espaço geográfico antes era designado Vila de Ferreira, mas tem algumas particularidades, por isso, descrevemos o que conhecemos através da consulta de alguns documentos históricos, dos Registos Paroquiais de Santo António 1633-1910, e de Escrituras de compra e venda de imóveis aforados, feitas no Cartório da Vila de Terena, nas centúrias de 1700 e 1800.
O Foral de Fevereiro de 1262, concedido pela Família Riba de Vizela a Santa Maria de Terena e seu Termo (Concelho) foi desenhado, sendo composto, além da Vila de Terena, por herdades, Baldios e Coutadas que foram entregues a privados e à Câmara de Terena, a qual, ficou na posse de treze Baldios e quatro Coutadas ou Defesas.
Nas terras a sul de Santa Maria de Terena, até ao rio Guadiana, antes de 1580 era o rio Odiana, foi criada a Vila de Ferreira, constituída por um Lugar com casario, na atual Neves, onde qualquer povoador podia construir a sua casa, bastando aforar o respetivo terreno, aí foi erigida a Igreja Matriz de Santa Maria de Ferreira, criadas duas Coutadas e cinco Baldios, (Barreiros, Manantio, Vale de Martinez e Campo do Garcia, estes quatro eram designados Baldio do Peral, e o Baldio do Roncanito), sendo a Família Riba de Vizela os Senhores destas terras, mas estes cinco Baldios e uma Coutada junto ao Azevel eram da Câmara.
Depois de 1312, a Vila de Ferreira teve vários donatários, além de ter sido propriedade da Coroa, entre 1314 e 1359 foi da Casa das Senhoras Rainhas, depois de Principes e Princesas até que, em 1433 foi doada pelo rei D. Duarte a D. Gomes Freire de Andrade, ficando na posse desta Família até 1674, quando foi retirada a D. Luís Freire de Andrade, por D. Afonso VI, filho de D. João IV, ficando na posse da Coroa por pouco tempo, uma vez que, o Rei D. Pedro II, irmão do anterior, no decénio de 1680, doou estas terras ao seu filho, o Infante Francisco de Bragança, até 1698.
Nesta data, já tinha terminado a Guerra da Restauração, com a assinatura do Tratado de Lisboa em 13 de Fevereiro de 1668, mas estas terras continuavam abandonadas, porque tinham sido muito fustigadas e palco de muitas batalhas entre os exércitos do Reino de Portugal e de Castela, todas as estruturas estavam destruídas, Montes, cabanas, malhadas, as terras assenhoradas pelos matos, não havia interessados na sua reconstrução, porque, a qualquer momento, podiam ficar sem nada, pelo que, foi necessário alterar o sistema da divisão destas terras, assim, D. Pedro II, em 1698, mandou dividir as herdades antes delineadas pela Família Freire de Andrade, quase todas, pelo menos em duas e, em alguns casos em pequenas propriedades e courelas que, foram aforadas (arrendadas definitivamente, com todos os direitos de superficie), a seareiros e a lavradores, e doou duas herdades à Casa do Infantado, a herdade da Defesa de Ferreira e a herdade da Defesa de Bobadela, onde, ainda podemos ver os marcos limados, dos respetivos limites.
Com a alteração verificada nas doze herdades da Vila de Ferreira, também a Câmara da Vila de Terena alterou a politica sobre a terra dos seus Baldios, no sentido de fixar povoadores e, neste caso, começou por dividir parte do Baldio do Manantio em courelas, no espaço geográfico entre o atual Monte e tapada da Boavista, partindo daí em linha reta até aos limites da herdade do Seixo, e todo o espaço à direita, Sul-Norte, até aos limites da herdade da Galvoeira, encabeçadas com estas duas herdades e foram aforadas a seareiros e pelo menos uma das courelas à Irmandade das Almas de São Pedro de Terena que, também mandou construir um Monte, ao qual chamaram Monte das Almas, por ser da dita Irmandade.
Nos primeiros decénios de 1700, já encontramos Montes nessas courelas, alguns já desaparecidos, sendo a maior concentração na àrea do Salgueiro e da Capeleira, (estas designações devem-se aos nomes dos primeiros moradores), onde todas as famílias podiam construir a sua casa aforando os terrenos à Câmara de Terena, pagando uma taxa inicial e depois um pequeno foro, ou renda anual, e foi assim que cresceu o casario e a população, nestes dois lugares.
Na centúria de 1800, chegaram aqui muitas Famílias, vindas, não só de localidades vizinhas como Santiago Maior, Alandroal, Terena, Rosário, São Pedro do Corval, Motrinos, Monsaraz e outras, mas também, da Serra da Estrêla, filhos da transumância.
Cerca do ano de 1820, a Câmara de Terena decidiu continuar os aforamentos nesta região, ou seja, entre a tapada da Boavista até aos limites da herdade da Galvoeira, a Sul das courelas anteriores, os terrenos foram a leilão e surgiram muitas famílias interessadas que, imediatamente construiram os seus Montes e tapadas, entre elas, destacou-se a Família "Nunes", que construiram pelo menos quatro Montes juntos, a viúva de Anastácio Nunes, (falecido no dia 11 de Dezembro de 1812) chamada Inácia Vellada, natural de Santiago Maior, a qual, mandou construir o seu Monte com uma tapada, do lado Norte, construiram os seus Montes, três dos seus seis filhos, ao lado do dela, o da filha Joana Maria Nunes, casada com Isidoro Manuel, ambos naturais de Santiago Maior e os de dois filhos, de António Nunes e de José Nunes, pelo que, quando o marido Isidoro Manuel, no dia 22 de Novembro de 1824 foi fazer a Escritura do aforamentos de mais dois terrenos situados entre a herdade da Galvoeira e os ditos Montes, sendo necessário escrever nessa Escritura onde era a sua residência, ele declarou que, era nos Montes Juntos, que eram os da Família.
Assim, podemos identificar o lugar do nascimento dos Montes Juntos, para isso, transcrevemos um excerto da dita Escritura, composta por doze páginas:
"(...) Medido junto à tapada de Ignácia Vellada caminhando do Poente para o Nascente (neste caso, entende-se que é vindo do lada da Boavista), até à estrada dos Moinhos Novos tinha vinte varas (+ ou - 22 metros).
Indo do Sul para o Nascente pela estrada acima, ficando esta livre, até defronte de uma pequena rocha, trinta e duas varas (+ ou - 35,2 metros).
Indo do Nascente para o Poente, confinando com o Baldio do Manantio até à quina das casas dos orfãos de Anastácio Nunes (são os Montes de António Nunes e de José Nunes) outros trinta e duas varas (+ ou - 35,2 metros).
Finalmente, indo das ditas casas (do António e do José Nunes) do Norte para Sul, confinando pelo Poente com a casa do recorrente (ou seja, do Isidoro Manuel, casado com a Joana Maria Nunes) até onde se principiou a medição (foi na tapada de Inácia Velladas) outras trinta e duas varas (+ ou - 35,2 metros), (...).
Nesta Escritura está bem identificado o lugar, onde nasceu Montes Juntos, e a sua data de nascimento, além de existirem outras Escrituras, embora mais tardias, de compra e venda de terrenos nesse Lugar, como a do espanhol Diogo Sanches, casado com a viúva de Tomé Mendes, onde é identificado um terreno entre a tapada da Boavista que confinava com os mesmos Montes Juntos.
Até 1836, a Paróquia de Santo António de Capelins, continuou a separar, em termos da residência dos paroquianos por, Salgueiro, Capeleira, Almas, Montes Juntos e outros, mas a partir de 06 de Novembro de 1836, com o fim da Vila de Ferreira, na Freguesia de Capelins ficaram a designar-se: Aldeia de Montes Juntos, Aldeia de Ferreira (que surgiu da fundição das Aldeias de Capelins de Baixo e de Capelins de Cima, as quais desapareceram) e a Aldeia de Faleiros, esta última não sofreu qualquer alteração.
Foi em Montes Juntos, no Lugar antes descrito, que foi instalado o primeiro posto dos Guarda Barreiras que, após 1885 passou a ser a Guarda Fiscal, mais tarde, talvez por motivos de logística foi construído um novo edifício para a Guarda Fiscal com melhores condições na encruzilhada dos caminhos que conduziam à fronteira.
Em 1758 nas Memórias Paroquiais, no Inquérito do Marquês de Pombal, o Pároco de Santo António, Manuel Ramalho Madeira, declarou que, nessa data, apenas existiam quatro Aldeias na Freguesia: Aldeia de Faleiros, Aldeia de Navais, Aldeia de Capelins de Baixo e Aldeia de Capelins de Cima, mas já existiam aqui os ditos Lugares a Sul, mas não eram reconhecidos como Aldeias.
Assim, consideramos que, a criação da toponímia de "Montes Juntos" deu-se no dia 22 de Novembro de 1824, conforme consta na dita Escritura de foro em enfiteuse, lavrada no Cartório da Vila de Terena, a favor de Isidoro Manuel, sem prejuízo dos Lugares já existentes, Salgueiro, Capeleira e outros, e passou a Aldeia no mesmo dia da Aldeia de Ferreira, por efeitos do Decreto de 06 de Novembro de 1836, e podia ter sido Aldeia do Salgueiro, ou Aldeia da Capeleira, mas escolheram a toponímia de, Aldeia de Montes Juntos.
Outrora conhecidas como terras de pão e de gado, era esta a base da sua economia, embora, sempre auxiliada pela indústria da moagem de cereais e, pelo comércio com as terras de além Guadiana, em Espanha, principalmente com a Vila de Cheles, designado contrabando, de produtos transportados para lá e para cá, permitindo a subsistência de algumas famílias e, também alguns recursos fornecidos pelo rio Guadiana, como o peixe de muito boa qualidade.
A Aldeia de Montes Juntos cresceu muito rapidamente, em população e em casario, prevê-se que tenha atingido o seu auge populacional na década de 1950, cerca de 1.000 pessoas, adultos e crianças, (tendo a Freguesia perto de 1.500, na Wikipédia está errado) e foram instituídas e construídas várias infraestruturas sociais como, Caminhos, Escolas, foi instituída uma delegação da Casa do Povo de Terena e Capelins, com Posto Médico, a sede da Junta de Freguesia de Capelins desde 1921, Comunicações, Transportes Públicos, Correios e Telefones, a Sociedade Artística, depois um Centro Cultural e Desportivo e, no ano de 1966 a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, em honra da qual, é realizada uma Festa no primeiro fim de semana de Maio, que ficou no lugar da célebre Santa Cruz que se realizava no dia 03 de Maio.
Desde o decénio de 1950, devido à mecanização da agricultura, que libertou muita mão de obra na região, esta foi recebida pela indústria em desenvolvimento ao Sul do Tejo, e Montes Juntos, foi mais uma localidade transtagana que, viu partir os seus filhos, à procura de melhor qualidade de vida, e poucos voltaram, mas continua a esperança da mudança para melhor em termos sócio económicos, porque o futuro a Deus pertence.
Texto: Correia Manuel
Capelins, em 20 de Outubro de 2024




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