quarta-feira, 7 de setembro de 2022

A lenda do pastor do Monte do Escrivão, de Capelins

 A lenda do pastor do Monte do Escrivão, de Capelins

Conta a lenda que, ao lado da atual Ermida de Nossa Senhora das Neves, em Capelins, no lugar onde está a necrópole, existia a Igreja Matriz de Santa Maria de Ferreira, mandada construir em 1262, pela família Riba de Vizela, Senhores de Santa Maria de Terena e destas terras.
A Igreja Matriz de Santa Maria de Ferreira, entrou em ruínas nos últimos decénios da centúria de 1600, não sendo possível recuperá-la, visto as paredes serem de taipa, e já estava muito destruída pelo passar dos anos, com pouca manutenção, pelo que, entre o padre e os comendadores foi escolhida a opção de construir uma nova Igreja, com invocação a Nossa Senhora das Neves (a mesma Santa Maria, Nossa Senhora). 
Foi logo feito o peditório em toda a região e, assim que angariaram o dinheiro suficiente, começaram a construir a nova Igreja, ainda na década de 1680, mas quando menos esperavam, acabou-se o dinheiro, os devotos acharam muito estranho e, surgiram conversas que difamavam a comissão, chegando ao ponto de quando foram fazer novo peditório, ninguém deu nada, diziam que não podiam dar mais nada, e foram obrigados a para a obra, e começaram a dizer que já ficava assim, não havia nenhuma solução para poderem acabar a dita Igreja. 
Um dia, andava um pastor a guardar as suas ovelhas perto do Monte do Escrivão e passou um morador do Lugar de Ferreira nas Neves, onde era o sítio da Igreja, chamado Bento Rosa, cumprimentaram-se, e o pastor perguntou-lhe se a Igreja de Nossa Senhora das Neves já estava quase pronta, ao que o ti Bento respondeu:
Ti Bento: A obra está parada, então não tem ouvido o que dizem por aí?
Pastor: Essa, agora! Não, não ouvi nada, ando aqui na minha vida e passo muito tempo sem falar com ninguém! Então, a obra está parada porquê? Não tinham já o dinheiro todo?
Ti Bento: Pois, pensavam que tinham, mas não chegou e devido a conversas que por aí houve, já ninguém ajudou mais e, agora dizem que vai ficar já assim, abandonada! 
Pastor: Já ninguém pode ajudar mais? Posso eu, e vou já hoje tratar disso! Não quero saber dessas conversas! Nossa Senhora é que não pode ficar sem a sua casinha!
O pastor foi saber quem era o alvanéu que estava a construir a Igreja e, depois foi ter com ele e perguntou-lhe quanto dinheiro faltava para acabar a Igreja, incluindo tudo o que fosse necessário para ficar pronta, para Nossa Senhora lá entrar e serem rezadas missas. 
Depois de saber quanto dinheiro era preciso, apartou vinte ovelhas das melhores que tinha e foi vendê-las a quem já as tinha procurado, entregando, todo o dinheiro, conforme tinha combinado com o alvanéu da obra.
Esta boa notícia, não demorou em se espalhar por toda a região, deixando toda a gente muito comovida, também, por ser o pastor que tinha menos ovelhas e dos mais pobres, no entanto, foi ele que se prontificou a pagar o resto da construção da Igreja de Nossa Senhora das Neves, ficando sem as suas ovelhas. 
A obra continuou e, assim que a Igreja ficou pronta foi benzida pelo Arcebispo de Évora, D. Frei Domingos de Gusmão, havendo uma festa muito bonita, com missa, crismas e procissão, estando o pastor presente e, foi muito agraciado pelos romeiros, pela comissão e pelos clérigos, porque se não fosse ele, talvez nunca acabassem a Igreja.
Na madrugada seguinte, como sempre, o pastor foi soltar as ovelhas para as levar para a pastagem, sabia que tinha menos as que tinha vendido, mas pareceu-lhe que o rebanho estava como antes e decidiu contar as ovelhas, ficando espantado ao verificar que tinha o mesmo número de antes e, contou, novamente, dando o mesmo resultado, então, pensou que as ovelhas a mais, deviam ser de outro pastor da região e que, se tinham juntado ás dele, e quanto ao número ser o mesmo, só  podia ser coincidência, mas ainda nesse dia e nos seguintes andou de rebanho em rebanho a perguntar aos pastores se lhe faltavam ovelhas, mas todos negaram e, nunca foram reclamadas, não deixando dúvidas ao pastor, e a quem teve conhecimento, de que tinha sido um milagre de Nossa Senhora das Neves que, lhe tinha devolvido o mesmo número de ovelhas, pela sua bondade e pelo bem que tinha praticado.


Fim 

texto: Correia Manuel



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