terça-feira, 27 de setembro de 2022

A lenda da construção da Igreja de Santo António de Capelins

A lenda da construção da Igreja de Santo António de Capelins 

Conta-se que, o fidalgo Diogo Lopes de Sequeira, natural da Vila do Alandroal, filho de D. Lopo Vaz de Sequeira Alcaide Mor desta Vila, que foi navegador e governador da India entre 1518 e 1522, onde enriqueceu, mas vinha passar aqui temporadas e, como gostava muito de caçar, numa dessas visitas ao Alandroal, resolveu ir caçar para a dita montaria da serra da Sina.
O fidalgo e os seus escudeiros foram encontrar-se com o Couteiro e, quando iam passando no lugar onde está construída a Igreja de Santo António de Capelins, cruzaram-se com um frade de Jesus da pobre vida, dos que viviam na serra d'ossa, e eram protegidos pela Diocese de Évora, o qual, vinha em sentido contrário, de um lugar onde se abrigava, chamado fonte do frade, na Amadoreira, junto ao rio Guadiana.
 Alguns escudeiros, nem reparavam no frade, uma figura muito franzina, sumida nuns trapos, irradiando pobreza à distância, e que, só não passou despercebido, porque os cavalos pararam, repentinamente e fizeram-lhe uma vénia, baixando todos a cabeça.
O fidalgo e os escudeiros ficaram surpreendidos e reagiram mal contra os cavalos, tentando fazê-los andar, mas eles continuaram parados e, nada os fez sair dali, armando-se uma grande confusão.
 O frade da pobre vida foi-se afastando  para os lados da serra da Sina e, só depois os cavalos, começaram a andar, normalmente. 
O fidalgo e os escudeiros passaram o dia nas caçadas e, à tardinha quando voltavam para irem dormir a Terena, no mesmo lugar vinha o pobre frade de volta e, novamente os cavalos tiveram o mesmo comportamento.
À noite, durante o jantar e ao serão o assunto foi comentado por todos e, não conseguiram encontrar explicação para o sucedido, mas todos achavam que, existia ali algum mistério que envolvia o dito frade.
Na madrugada seguinte, a comitiva seguiu o mesmo caminho, saíram de Terena para a montaria da serra da Sina e, quando estavam chegando, no mesmo sítio, cruzaram-se, novamente com o frade da pobre vida, repetindo-se a vénia dos cavalos, tudo igual ao dia anterior, então o fidalgo Diogo Lopes de Sequeira, apeou-se do seu cavalo e foi falar com ele, cumprimentou-o e perguntou-lhe qual era o motivo daquele acontecimento, porque não havia dúvida que, ele estava envolvido naquela confusão. 
O frade ajoelhou-se no chão e pediu desculpa pelo que tinha acontecido e acrescentou que, não tinha feito nada e, também não entendia aquele comportamento dos cavalos, e que estava ali porque Santo António lhe tinha pedido para lhe construir uma Igreja naquele exato lugar, mas era tão pobre e fraco que, nem uma pedra conseguia juntar, por isso, andava à procura de ajuda. 
O fidalgo ouviu o frade com muita atenção, pensou que, fazia mesmo falta ali uma Igreja e, disse-lhe: 
Fica descansado, não precisas de juntar nenhuma pedra, assim que tiver autorização do rei meu senhor a Igreja em honra do teu Senhor Santo António, vai ser construída aqui neste lugar, a seguir despediu-se, montou a cavalo e a comitiva seguiu sem impedimento.
À tardinha quando voltavam a Terena, chegaram aquele lugar e os escudeiros esperavam encontrar o frade e de tudo se repetir, mas passaram, normalmente e nem sinais do frade nem nenhuma reação dos cavalos e perguntaram ao fidalgo Diogo Lopes de Sequeira, qual a razão daquela mudança e, ele apenas lhe disse que estava tudo resolvido e não se falava mais no assunto. 
O fidalgo Diogo Lopes de Sequeira, assim que chegou ao Alandroal, escreveu uma carta ao Rei D. João III a pedir autorização para construir uma Igreja a Santo António, naquele lugar e confirmava que, ficaria propriedade do Reino, como sabia que, o Rei se encontrava em Estremoz, mandou um ordenança entregar a referida carta e, através do correio, enviou igualmente cartas a dar conhecimento ao Bispo e à Diocese de Évora.
A autorização do rei não demorou a chegar às suas mãos e, o fidalgo Diogo Lopes de Sequeira mandou um procurador a Terena falar com o Vigário, onde deixou tudo tratado e, ficou bem definido num desenho, o lugar da sua localização, mesmo no sítio do entroncamento da estrada de Terena com a da serra da sina, assim como, a sua dimensão, mas as obras demoraram algum tempo a começar, porque, entretanto, o fidalgo faleceu, ficando sepultado na Igreja de Nossa Senhora da Consolação no Alandroal que, ele também mandou construir, mas como deixou tudo tratado, a construção da Igreja de Santo António foi concretizada, sob gestão do Vigário de Terena. 
Assim que, a Igreja ficou pronta, talvez, no decénio de 1540, realizou-se uma grande festa religiosa, foi benzida pelo Arcebispo de Évora o Infante D. Henrique o Cardeal-Rei, seguida de uma procissão, de missa e de crismas, sendo, um marco religioso nesta região desde essa data. 
Quanto ao frade da pobre vida, nunca mais ninguém o viu por aqui, mas deixou o seu testemunho, na fonte do frade, no ribeiro da Amadoreira, junto ao rio Guadiana, hoje submersa pelas águas da Albufeira de Alqueva, conta-se que, essa fonte, tinha ombreiras em mármore que o rei D. Manuel I mandou colocar, por nela ter bebido água, quando aqui caçava, e a ter achado muito boa.


Fim 

Texto: Correia Manuel


Igreja de Santo António de Capelins





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