A lenda da andorinha e da Freira de Capelins
Conta a lenda que, o porteiro do Porto da Cinza, ou Porto Sêco de Terena, no rio Guadiana, chamado Mesquita, morava na Aldeia de Montejuntos e que, além de outros filhos, tinha duas filhas chamadas Maria Antónia e Rosa Maria, que se davam muito bem e eram confidentes uma da outra.
Nos finais da centúria de 1800, pela Páscoa, a Maria e a Rosa estavam falando sobre o que gostariam de fazer no futuro, porque, os trabalhos na agricultura não as seduzia, e como tinham a janela aberta, entrou uma andorinha a esvoaçar pela casa, quando se cansou, pousou num móvel e a Maria Antónia apanhou-a e lembrou-se de lhe atar um lacinho com um bilhete, pediu à irmã para segurar a ave e escreveu: "De onde vens e para onde vais?", fez um rolinho com o papel, pegou numa fitinha, atou-a por baixo da asa e libertou-a.
O tempo foi passando e a Maria já moça, continuava a pensar o que queria fazer no futuro, dizia que, não queria casar e desejava ter uma atividade que fosse para fazer bem ao próximo e a sua tendência era ir para freira, mas deparava-se com alguns problemas, a aceitação pela parte dos pais e qual a Congregação onde devia entrar, porque, as que conhecia na cidade de Évora, onde tinha uma tia freira, não a atraiam.
Passou mais um ano e chegou outra Páscoa, as irmãs estavam a fazer os trabalhos da casa com a janela aberta e entrou outra andorinha, voou, voou, até se cansar e pousou a descansar, a Maria Antónia foi a correr apanhá-la e reparou que trazia um lacinho com um bilhete debaixo da asa, tirou-o, e como estava nervosa, lançou a andorinha janela fora.
Quando a Maria Antónia abriu o bilhete estava escrito: "Venho do Convento da Congregação das Irmãs de Santa Doroteia", por momentos, ficou sem palavras, porque tinha ali a resposta ao seu dilema, achou que, era um chamamento de Deus para a Congregação das Doroteias, sem saber onde ficava, pensou em escrever à tia freira que, decerto a esclarecia e a ajudava a tratar dos pormenores e, a partir daquele dia entrou nela grande alegria, tomou coragem e com o apoio da irmã Rosa comunicou aos pais qual era o seu grande desejo e o que tinha acontecido com as andorinhas e afirmou já ter decidido que queria ser freira da dita Congregação.
Os pais não ficaram surpreendidos, porque já tinham notado o seu comportamento e se era essa a sua vontade, assim seria, muito embora a tivessem alertado para a clausura que ia enfrentar o resto da sua vida, mas isso não a demoveu, porque sabia que tinha sido chamada por Deus.
A Maria entrou como noviça no Convento das Irmãs de Santa Doroteia e, pelo que se ouvia na Aldeia de Montejuntos, acertou na sua vocação, chegando a Madre Superiora, mas até ao fim da sua vida, nunca esqueceu as suas origens de Capelins, onde, ainda voltou algumas vezes, a visitar a sua família.
Fim
Texto: Correia Manuel
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