A lenda das benzeduras do Manel da ti Rosa
Conta a lenda que, o Manel da ti Rosa, morador na Aldeia de Ferreira de Capelins no decénio de 1950, era jornaleiro na herdade da Zorra, cumprindo o horário de trabalho de sol a sol, a jorna incluía a comida, ou seja, andava a de comer, pelo que, depois da ceia (jantar) já não compensava ir dormir a sua casa na Aldeia, assim, só voltava nos domingos à tarde para mudar a roupa que vestia e, entregar o pouco dinheiro que ganhava, à sua mãe, a ti Rosa.
Quando o sol aqueceu, no mês de Junho, o Manel começou a queixar-se de dores de cabeça, e os companheiros mais velhos e experientes, diziam-lhe que tinha sol dentro da cabeça e, precisava de ser benzido para ele sair, mas o Manel não acreditava nisso, e dizia:
Manel: Como é que o sol entra para dentro da minha cabeça? Não acredito nisso!
As dores continuavam e, sempre que se queixava, ouvia o mesmo comentário dos outros trabalhadores: Tens que ser benzido do sol e vais ver que as dores de cabeça desaparecem!
O Manel não se encontrava melhor e, no domingo seguinte, ao chegar a casa, contou à mãe que andava com grande dor de cabeça e que os companheiros diziam-lhe que era o sol que estava lá dentro e tinha de ser benzido para ele sair, mas acrescentou que não acreditava nem o sol estar dentro da cabeça, nem nas benzeduras para o tirar.
A ti Rosa que recorria às benzeduras da sua comadre Maria Gertrudes para tratar todos os males, ficou logo alvoraçada com o Manel, por ele dizer que não acreditava nas benzeduras e por ainda não lhe ter contado que tinha as dores de cabeça e disse-lhe:
Ti Rosa; Vamos mesmo agora à da nossa comadre Maria para ela te benzer do sol e acaba-se já com isso!
O Manoel começou por fazer finca pé dizendo:
Manel: Oh mãe, vomecê acredita que o sol me entrou para a cabeça?
Ti Maria: Acredito sim, Manel, o sol está dentro da tua cabeça, mas a comadre Maria Gertrudes já o tira, vais ver! Anda daí!
A ti Maria Gertrudes, era a rainha das benzeduras e, toda a gente tinha muita fé, por isso, o Manel lá foi com a mãe que contou à comadre o que se passava e em poucos minutos o Manel já tinha um pano de linho dobrada em cima da cabeça com um grande copo de vidro quase cheio de água por cima do pano a fazer bolhinhas, as quais, conforme disseram as comadres eram o sol a sair de dentro da cabeça e era tanto sol que começou a sair ainda antes da ti Maria ter tempo de começar a rezar as orações para esse efeito.
As orações foram repetidas três vezes e, no fim o Manel recebeu a garantia de que as dores de cabeça tinham acabado, mas por segurança era melhor voltar no domingo seguinte, porque o sol dentro da cabeça dele era tanto, decerto ainda lá ficavam alguns restos.
O Manel começou logo a sentiu-se melhor, voltou ao seu trabalho na herdade da Zorra e, nunca mais sentiu a dor na cabeça.
No domingo seguinte, o Manel apesar de estar curado, por exigência de sua mãe, voltou a ser benzido pela comadre Maria Gertrudes e, continuou a sair muito sol de dentro da sua cabeça, mas acabou por ficar curado.
A partir daí, o Manel ficou com muita fé e acreditava nas benzeduras da comadre Maria Gertrudes, fossem para o sol, nervo torto ou outras doenças.
A oração que a comadre maria Gertrudes dizia na benzedura do sol era assim:
Maria perguntou a Jesus
Como o sol se benzeria:
Com uma toalha lavada
E um copo de água fria
Com uma toalha lavada
E um copo de água fria
Em louvor de São José
E da Virgem Santa Maria
Que esta doença se cure
Nesta hora e neste dia
Padre Nosso... Avé Maria...
E da Virgem Santa Maria
Que esta doença se cure
Nesta hora e neste dia
Padre Nosso... Avé Maria...
Existiam outras orações para o sol, como esta mais simples:
Nossa Senhora pelo mundo andou
o seu querido filho sol apanhou
Ela procurou
com que o curaria?
com um pano de linho e um copo de água fria!
Padre Nosso... Ave Maria...
Fim
Texto: Correia Manuel
Aldeia de Ferreira
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