segunda-feira, 12 de setembro de 2022

A lenda do burro ou vaca, de Capelins

 A lenda do burro ou vaca, de Capelins

Conta a lenda que, nos meses de verão, logo a partir do mês de Maio, toda a gente dormia na rua, e os trabalhadores dormiam no campo, muitas vezes junto aos cereais que ceifavam, porque tinham de se levantar muito cedo, e assim, não perdiam tempo na deslocação, mas os homens continuavam todo o verão a dormir fora de casa, não só por ser mais fresco, mas também, pela necessidade de guardar os animais que pastavam de noite, e durante a debulha dos cereais, dormiam todos nas eiras.
Devido ao profundo silêncio da noite, ouviam qualquer som a grandes distâncias, por vezes, esses sons originavam confusões e invenções de medos. 
Numa noite do mês de Agosto do decénio de 1900, os trabalhadores e lavradores das herdades e Montes, da Talaveira, Talaveirinha, Negra, São Miguel, Roncão e outros daquela região, dormiam nas eiras das respetivas herdades, quando numa dessas noites acordaram com o tropel de cavalaria, pareciam dezenas de cavalos a trote, ficaram assustados, porque, pensaram que era uma companhia de cavalaria do exército, que estando ali e aquela hora, só podia ser uma guerra com os vizinhos de além Guadiana, mas ainda ficaram mais assustados quando viram que era apenas um burro de pequeno estatura a fazer aquele barulho todo. 
Os homens, com medo, colaram-se ao chão ou à palha e assistiram ao ritual do animal, ou seja, o burro, sempre a correr e emitindo o mesmo som de tropel, deu três voltas em redor de cada Monte e depois parava em frente, e em vez de zurrar como um burro, urrava tal e qual como uma vaca e partia para outro Monte, mas o que deixou as pessoas mais intrigadas foi não se ouvir nenhum cão a ladrar, porque esconderam-se com medo.
Na manhã seguinte, andaram homens de Monte em Monte a perguntar se, também  tinham ouvido e visto, o mesmo do que eles e a recolher opiniões sobre as medidas a tomar no caso de se repetir, e todas as pessoas que dormiam ao luar tinham ouvido e visto o mesmo animal, mas ninguém conseguia dizer se era um burro ou uma vaca.
Durante o resto do verão, os residentes naquela região, que dormiam na rua, ficaram à espera que o burro ou vaca voltasse à meia noite, mas nunca mais apareceu. 
Os moradores de Capelins diziam que, as testemunhas deste caso, eram muito sérias e honradas, não eram de mentiras, por isso, alguma coisa tinha acontecido  e se não sabiam o que era, decerto era um lobisomem, porque não havia outra explicação.


Fim 

Texto: Correia Manuel 





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